Está combinado: fazer campanha aberta, em pleno mandato, é legal. Foi a maior autoridade do País, o presidente Lula, em suas andanças sem fim, quem decretou – destaque-se, em benefício próprio. E não houve até aqui nenhuma resistência. A Justiça Eleitoral, a quem cabe por dever a fiscalização, não parece disposta a confrontar o mandatário. Lula nada de braçadas nas pesquisas e sentiu-se confortável para afirmar que faz campanha, sim, “da hora em que acorda à hora em que dorme, 365 dias por ano”. E justificou: “Se não fizer campanha, os adversários farão.” Da mesma lavra de conceitos, estabeleceu: “Nós trabalhamos três anos plantando, agora está na hora de nós colhermos.” Eis o presidente no seu esplendor eleitoreiro, numa reviravolta completa de leis e procedimentos. No refluxo, o presidente da OAB, Roberto Busato, alerta: “Não pode um governante, em qualquer esfera, a qualquer título, de maneira direta ou indireta, explícita ou subliminar, prevalecer-se de seu cargo para obter votos do eleitor.” Dado o quadro, eis um efeito colateral ainda mais danoso que o eventual crime eleitoral: o presidente deixou de governar para correr o País. Seu gabinete em Brasília já não o vê há semanas. O quarto ano de mandato virou o não-mandato – no sentido literal de administração pública –, em troca da atuação nos palanques por outros quatro anos. O governador mineiro e espectador da oposição desse sarau eleitoreiro, Aécio Neves, pontuou com propriedade: “Eu administro um Estado que é 10% da população do Brasil e minha mesa está cheia de papel para despachar e reunião para fazer o tempo inteiro.” Lula deve ter um bom substituto para cuidar de tudo e, por isso, sai a mergulhar em outras praias.