Está jorrando dinheiro no sertão. Neste momento, mais de 1.400 proprietários de terras lucram com a exploração de petróleo em reservas que ficam nos subterrâneos de suas áreas. De humildes agricultores estão se tornando, com seus chapéus e sandálias de couro, uma versão brasileira dos xeques das arábias. Juntos, receberam no ano passado R$ 100 milhões da Petrobras a título de participação por terem suas terras aquinhoadas pelo ouro negro. “O petróleo realizou o maior sonho da minha vida”, diz o potiguar Milton Sales, cuja propriedade em Apodi, a 350 quilômetros de Natal, no Rio Grande do Norte, abriga oito poços em plena produção. Com o dinheiro que a estatal lhe paga, Milton colocou seus cinco filhos em escolas particulares na capital. De quebra, comprou uma picape Ranger, uma casa e montou um parque de exposições para mais de dez mil pessoas. Em média, os beneficiários das participações recebem R$ 68 mil anuais da estatal. Eles não têm nenhuma despesa com a exploração do óleo – apenas abrem as porteiras para a entrada dos cavalos mecânicos que retiram óleo bruto em perfurações que podem chegar a até dois quilômetros e meio da superfície.

Sete Estados têm, hoje, proprietários de terras na lista de beneficiários pela descoberta de petróleo. O Rio Grande do Norte é o campeão, com 859 donos de áreas espalhados por 15 municípios. Eles receberam em 2005 mais de R$ 28 milhões por terem suas propriedades no lugar certo. Na Bahia, onde há 331 beneficiários, a distribuição de recursos chegou a R$ 20 milhões. Outros 118 xeques estão em Sergipe. O caso que mais salta aos olhos ocorre no Amazonas. Ali, a Petrobras descobriu a reserva de Urucu, no município de Coari, a 640 quilômetros de Manaus. Ela produz mais de 44 mil barris diários de óleo, extraído em 60 postos instalados em uma única propriedade na selva. A estatal não revela o nome do dono desse pedaço de chão. O certo é que em apenas dois anos foram pagos mais de R$ 100 milhões para o titular da escritura. A portaria que regulamenta o pagamento de 1% do total da produção do terreno ao proprietário foi assinada em setembro de 1998, ano da criação da Agência Nacional do Petróleo. O porcentual foi estabelecido com base em critérios internacionais.

Até que as primeiras perfurações resultassem em dinheiro, muitos sertanejos estavam ressabiados diante dos cavalos mecânicos. Alguns relutaram em deixá-los entrar. “Eu mesmo desconfiei que isso não ia dar em nada”, conta Isaías Duarte, 28 anos, que vive no assentamento de Solidão, na zona rural de Mossoró, também no Rio Grande do Norte. A lei permite à estatal explorar o petróleo subterrâneo sem pedir licença ao proprietário. Mas a Petrobras tem preferido furar seus poços com o consentimento deles. Isaías – e os 110 moradores do assentamento – se convenceu e sua vida mudou. De agricultor, ele passou a agente de saúde, com tevê, antena parabólica e uma filha estudando numa escola particular. Até hoje, porém, pelo menos uma pessoa rejeita a oportunidade.

A chegada do dinheiro do petróleo ao sertão já provocou uma tentativa de seqüestro no Rio Grande do Norte. Os agricultores agora evitam revelar seus nomes e o quanto recebem. “O pessoal fica de olho-grande”, diz Isaías. Para quem passava fome ou, quando muito, vivia à base da economia de subsistência, a participação especial equivale a uma fortuna. Para a Petrobras custa pouco. Em 2005, esses pagamentos representaram 0,4% do lucro de R$ 23,7 bilhões da empresa. De qualquer maneira, é melhor você olhar bem para o seu quintal. Talvez haja um poço de dinheiro bem embaixo dos seus pés.