01/03/2006 - 10:00
Quando as águas de março passarem, metade do governo Lula terá sido arrastada pela enxurrada eleitoral. Quinze ministros vão sair, como manda a lei, seis meses antes da eleição de outubro para disputar governos estaduais e cadeiras na Câmara dos Deputados e no Senado. O décimo sexto, o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, não será candidato, mas deve sair em agosto para coordenar a campanha, retornando ao posto num segundo governo Lula. Sem o primeiríssimo escalão, o presidente determinou um critério para as substituições. Ele quer técnicos, em vez de políticos, no lugar dos velhos ministros. De preferência, nomes do triângulo Rio–São Paulo–Minas e do Nordeste. O presidente barrou a entrada pura e simples dos atuais secretários executivos nos cargos, para cortar a influência dos ex-ministros. Haverá, porém, duas exceções: nas Comunicações e na Fazenda. Hélio Costa, que pretende disputar o governo mineiro contra o tucano Aécio Neves, ganhou o apoio de José Sarney para fazer o secretário executivo Tito Cardoso seu sucessor, na hora em que o País define o padrão da TV digital. E Murilo Portugal esquentará a cadeira de Palocci até seu retorno, em caso de Lula reeleito.
A subida nas pesquisas do técnico Lula voltou a atrair o time governista para as urnas. A primeira fileira sai do Planalto, onde o ministro Jaques Wagner deve largar a Articulação Política para disputar o governo da Bahia. O ministro-chefe da Secretaria-Geral, Luiz Dulci, para ajudar a coordenar a campanha de Lula. Da sala ao lado, o assessor especial para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, sai para escrever o programa de governo a quatro mãos com o ex-ministro da Educação Tarso Genro. No anexo do Planalto, outro desfalque: o vice-presidente José Alencar. Ele deseja repetir a dobradinha com Lula e vai largar a Pasta da Defesa.
Na Esplanada dos Ministérios, a revoada continua: Ciro Gomes deixa a Integração Nacional para ser deputado. Sonha obter um milhão de votos no Ceará, para ajudar seu partido a superar a cláusula de barreira. Já Paulo Bernardo sai do Planejamento para tentar se reeleger deputado federal. O ministro dos Esportes, Agnelo Queiroz, pretende governar Brasília, mas depende do apoio do PT ao seu partido, o PCdoB. Marina Silva deixa o Meio Ambiente em busca do governo do Acre. Empolgado pela operação tapa-buracos, o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, quer a vaga de senador pelo Amazonas.
O ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, numa aliança PT-PTB, deseja ser o vice de Lula. José Fritsch, ministro da Pesca, vai tentar fisgar o governo de Santa Catarina. O controlador-geral da União, Waldyr Pires, gostaria de disputar o governo da Bahia. Mas deve concorrer à Câmara, já que Jaques Wagner quer ser adversário do pefelista Paulo Souto. Quem decide é Lula. Ele pensa segurar Wagner em Brasília como coordenador de campanha. Na semana passada, o presidente tomou outra decisão crítica: pediu ao PMDB para indicar o vice de sua chapa.