O novo ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, mal assume o cargo e já se depara com um gigantesco abacaxi, herdado, com as cascas intactas, da gestão anterior do ministério. O polêmico caso da gravidez da cantora mexicana Gloria Trevi, publicado na capa da última edição de ISTOÉ, é mais uma caprichadíssima obra-prima da insensatez. Naquela edição, nossos repórteres, com a ajuda das cartas de um companheiro de prisão da cantora, desmontaram a absurda tese de “inseminação artesanal”, singelamente defendida na sindicância 008/2001 da Polícia Federal. Para começar a descascar o abacaxi, o novo ministro determinou a seus comandados que reabrissem a investigação. Paralelamente, também mandou abrir inquérito, dessa vez com acompanhamento do Ministério Público, para apurar a prática de crime.

Os repórteres Ricardo Miranda e Ricardo Stuckert conversaram com uma ex-companheira de cela de Gloria, que confirmou as informações publicadas anteriormente e acrescentou detalhes reveladores e outros nomes de policiais suspeitos de terem mantido relações sexuais com a presa, que estava sob custódia.

O comportamento da polícia vai interessar, e muito, ao recém-empossado secretário de Estado dos Direitos Humanos, o professor de ciência política Paulo Sérgio Pinheiro. Além das denúncias de ISTOÉ, é bom que o novo secretário saiba que Gloria só foi receber cuidados médicos na sexta-feira 23. Depois de muito se queixar de sangramentos, dores de cabeça e infecção urinária, ela finalmente foi levada a um hospital público de Brasília para fazer exames, escoltada por nada menos que três camburões da Polícia Civil e dez agentes armados com metralhadoras. Como se não fosse suficiente o aparato militar, Gloria, grávida de sete meses, foi conduzida ao hospital algemada, como mostra a foto acima.

O novo ministro e o novo secretário, homens honrados, estão entre aqueles brasileiros que passaram a vida lutando para melhorar o país em que vivemos. E por tudo isso, também seria interessante que eles atentassem para o diálogo travado entre o repórter Miranda, o fotógrafo Stuckert e o delegado da Polícia Federal . Em determinado momento do “edificante” colóquio, o delegado, depois de proibir que fossem tiradas fotos suas, disparou: “Ando armado e posso confundir sua câmera com uma arma e reagir.” O trabalho dos repórteres está publicado à pág. 26.