Nos anos 60, o psicólogo americano Richard Alpert pesquisava com seu colega Timothy Leary, da Universidade de Harvard, os efeitos do Lysergic Acid Diethlamide (LSD) sobre a mente. Em 1966, a droga foi proibida nos Estados Unidos e Alpert viajou para a Índia, onde conheceu o praticante de ioga Neem Karoli Baba. Sem contar a ele, misturou LSD à comida do indiano, que prosseguiu normalmente a meditação que fazia. Horas depois, Baba esboçou um sorriso. Explicou ao psicólogo que, por meio da ioga, já vivia em um estado alterado da mente e não precisava de aditivos. Alpert, hoje com mais de 80 anos, tornou-se um seguidor de Baba e adotou o nome de Ram Dass. Pela fama que o americano já tinha na época por suas experiências com ácido, a história ajudou a impulsionar o incipiente movimento da ioga no Ocidente. Hoje, segundo o Yoga Journal, um dos mais importantes veículos de comunicação da ioga nos Estados Unidos, existem cerca de 50 milhões de iogues (praticantes) só naquele país, incluindo astros como Gwyneth Patrow, Sting e Uma Thurman. A prática está em pleno boom também no Brasil. Por aqui, embora não existam números precisos, a ioga arrebata milhares de pessoas, entre elas celebridades como os atores Rodrigo Santoro e Letícia Spiller. Um bom termômetro de sua popularidade foi o megaevento Oi Novos Urbanos, que transformou o Rio de Janeiro no final do ano passado na capital mundial da ioga. Grandes conhecedores do Brasil e dos Estados Unidos se reuniram na Marina da Glória para aulas, workshops e shows.

Mas o que atrai adesões tão numerosas e incondicionais? A resposta está nos benefícios que a ioga proporciona a uma sociedade estressada como a ocidental, cada vez mais em busca de um ponto de equilíbrio entre saúde, beleza e emoções. E nesse sentido, a ioga tem muito a contribuir. Criada na Índia há cinco mil anos, ela é, na verdade, uma filosofia de vida. Sua meta é chegar a um estado de consciência elevado. Para atingi-lo, o praticante deve usar a meditação, a respiração, posturas diferenciadas e entoar os mantras (cantos devocionais). Tudo isso proporciona, de fato, uma imensa sensação de bem-estar, hoje um dos objetivos mais perseguidos pela humanidade. No Ocidente, porém, a ioga oferece outro apelo irresistível. Vista como um exercício físico, ela é uma tremenda malhação. Executar a maioria de suas posturas exige do corpo uma mobilização de músculos e articulações que não deve nada a uma boa sessão de ginástica tradicional. “Além disso, as posturas provocam um aumento na produção de alguns hormônios associados a sensações agradáveis que uma aula de alongamento, por exemplo, não consegue proporcionar”, garante o professor de ioga Cristóvão de Oliveira, de São Paulo. Com as vantagens de as aulas serem realizadas em um clima tranquilo, bem diferente do burburinho das academias, e de trazerem uma consciência corporal muito mais refinada do que a obtida com a atividade física convencional. Por tudo isso, para cada vez mais gente a ioga se apresenta como a melhor alternativa para encontrar um pouco mais de harmonia e – por que não? – ficar com o corpo em forma.

No entanto, até por conta desses anseios, no Ocidente a ioga vem ganhando outra cara, desenhada pelas necessidades e pelo modo de vida de seus habitantes. Por aqui, por exemplo, a meditação, um dos pilares da filosofia, tem menos espaço. Dá-se mais importância à realização dos exercícios (ou ásanas). Tanto é assim que as modalidades mais procuradas no Brasil são as que associam movimentos vigorosos à postura e à respiração. É o caso da power ioga e da ashtanga vinyasa, adotada por nove entre dez astros da tevê.
“Cada movimento é um desafio. Filosoficamente, é uma metáfora para a vida”, analisa o ator Rodrigo Santoro. Sua flexibilidade é bem menor do que a de outros participantes das aulas, realizadas no Rio, mas Rodrigo não desiste. Faz uma impecável sirvasana, a popular bananeira, e, após se derreter em transpiração, relaxa ouvindo mantras.