22/02/2006 - 10:00
O esqui era o único meio de locomoção em algumas regiões de Nova York no domingo 12 – como, por exemplo, no norte do Bronx. Sem esse aparato, a opção era mergulhar até o pescoço em dunas de neve – e pedir a Deus para virar girafa. Desde o dia anterior a Big Apple enfrentava a maior nevasca de sua história, ou, pelo menos, a sua tempestade recorde desde que esses fenômenos naturais começaram a ser medidos em 1869. Em 24 horas, os céus despejaram 68,32 centímetros de neve só no Central Park. Todo o nordeste dos EUA foi coberto com uma massa branca que provocou o fechamento de estradas e aeroportos. Enquanto isso, no texano clima ameno de Crawford, o presidente George W. Bush estava mais interessado nos flocos que caíam na cidade italiana de Turim, onde os atletas americanos disputam os jogos das Olimpíadas de Inverno. Ao que tudo indica, o presidente continuava firme na sua convicção de que as mudanças climáticas causadas pelo “efeito estufa” são mera ficção, como no último romance de Michael Crichton, State of fear (Estado do medo).
Os deuses devem estar furiosos com a teimosia de Bush e a ousadia de Crichton – ou então estão loucos, tal a oscilação do clima. Na semana anterior à borrasca, os termômetros registravam calorosos 15ºC, formando um ambiente de primavera antecipada. As flores até se animaram a brotar e alguns cidadãos otimistas foram vistos envergando bermudas em pleno fevereiro. Os livros de recordes cravaram o mês passado como o inverno mais quente da história. Mas, na sexta-feira 10, ainda que o clima estivesse propício às compras para o calor, os consumidores correram aos supermercados para estocar alimentos, água, velas, pás e sal grosso (que impede o congelamento de pavimentos). Eles já sabiam que as condições atmosféricas iriam mudar radicalmente e não queriam ser pegos desprevenidos: os meteorologistas avisaram que uma frente fria, acompanhada de chuvas, descia do Ártico. A nevasca veio mesmo, e veio disposta a ser a maior da história americana. Matou 37 pessoas em todos os EUA – quatro delas morreram de ataque cardíaco tentando salvar os seus carros cobertos pela neve.
No penoso trabalho de limpeza, a Prefeitura de Nova York usa caminhões com escavadeiras e borrifadores de sal e areia. Até agora, foram gastos cerca de US$ 25 milhões na remoção do gelo. Já os prejuízos sofridos pela indústria e pelo comércio são incalculáveis. Dois dias depois da nevasca, Nova York viu a temperatura subir aos 12ºC, enquanto em Washington os termômetros chegavam a 13ºC. E, em Manhattan, tinha até gente andando com camiseta e galochas em meio à enxurrada de neve derretida.