Depois de mais de dois anos de paralisação, a Caixa Econômica Federal (CEF) voltou a financiar imóveis para a classe média. O retorno da Carta de Crédito Caixa, suspensa em agosto de 2001 e que utiliza dinheiro próprio do banco, terá recursos da ordem de R$ 1,2 bilhão, juro mais alto, de 13,7% ao ano, mais a TR (taxa referencial) do mês, e prazo máximo de pagamento de 180 meses (15 anos). Entre 1996 e agosto de 2001, a Caixa financiou cerca de 160 mil imóveis através da Carta de Crédito, num total de pouco mais de R$ 6 bilhões. Na época, os juros eram de 12% ao ano, mais a TR. Nessa linha de crédito não há limites de renda nem do valor financiado – que cobre até 60% do preço do imóvel.

Papelada – Até aí, tudo bem. O problema, velho conhecido dos brasileiros, continua sendo o demorado processo burocrático da Caixa. Começa no momento de conseguir informações sobre o financiamento, que normalmente demora de 30 minutos a uma hora, e pode se estender até 30, 60 ou 100 dias depois. Como ainda não são todas as agências que estão trabalhando com essa linha de crédito, a espera por informações pode ser em vão. Mais complicada ainda é a relação de documentos, certidões e papéis exigidos pelo banco. A lista da papelada para a montagem do processo é interminável. Em alguns casos, supera os 40 documentos que vão desde uma simples declaração de assalariado preenchida pelo empregador até a declaração do Imposto de Renda. São 16 documentos para o comprador, oito para o vendedor, três para o imóvel e sete outros. E mais: para entregar toda essa papelada é preciso agendar uma data para a recepção da documentação. Detalhe: na quarta-feira 14, a agência da avenida Paulista, em São Paulo, só aceitava agendamento para fevereiro.

Todo esse processo burocrático pode demorar muito mais que os 40 ou 60 dias, considerados normais pelos agentes financeiros e corretores de imóveis. Depois de várias idas e vindas, e se estiver tudo em ordem com a documentação do comprador, do vendedor e do imóvel, o financiamento é liberado. Nessa fase final, é preciso abrir uma conta poupança e depositar 5% do valor do crédito para a cobertura dos gastos com cadastro e outras despesas como a de avaliação do imóvel e impostos. O vendedor também é obrigado a abrir uma conta para que o dinheiro da venda do imóvel seja depositado. Depois de tudo aprovado, é preciso, então, marcar uma nova data para a assinatura do contrato. É uma coisa de doido, especialmente porque muitas das certidões exigidas têm prazo de validade curto, o que transforma a obtenção de todos os documentos numa verdadeira gincana. Algo inimaginável num país civilizado como a Inglaterra, onde a venda de um imóvel envolve apenas três pessoas: o comprador, o vendedor e o agente financeiro.

Aqui é um processo longo devido a exigências cartoriais. Tudo tem que passar pelo cartório, como justifica Luiz Eduardo Barros, gerente nacional de produtos e crédito imobiliário da Caixa. E, também, pelas mudanças que foram feitas nessa nova fase do financiamento, como a avaliação de risco do futuro mutuário. Antes, a Caixa se preocupava apenas com o porcentual da renda que seria comprometido com a mensalidade (a praxe era, e ainda é, um comprometimento máximo de 30% do salário). Agora, o processo começa com uma entrevista em que são levantadas todas as despesas mensais do interessado (cartão de crédito, aluguel, água, luz, telefone, cheque especial …). “É um processo novo para apurar a real capacidade da pessoa de pagar a prestação mensal”, explica Barros.

Retomada – Pelo lado do mercado de imóveis, a retomada dos financiamentos para a classe média é vista com bons olhos. “Vai dar
uma melhorada no mercado de imóveis”, diz Basílio Jafet, vice-presidente imobiliário do Secovi de São Paulo. Ele não concorda com o excessivo número de documentos exigido pela Caixa. Mas garante que, em outros bancos, as exigências são iguais ou maiores que as da Caixa. “Eles aumentaram o nível de sofisticação na análise de risco. E isso torna
o processo mais lento.” Tão lento que um aposentado, que preferiu
não se identificar, esperou mais de 30 minutos na fila da seção de financiamentos de imóveis da agência da avenida Paulista e quando
viu a relação dos documentos exigidos desistiu da empreitada.

Além da Carta de Crédito Caixa, o banco possui outras modalidades

de crédito para aquisição da casa própria, como a Carta de Crédito

FGTS Individual. Suspensa desde setembro do ano passado por

falta de recursos, ela foi criada para atender mutuários com renda

de até R$ 4,5 mil, para compra de imóvel novo ou em construção

com valor de até R$ 80 mil. Os juros são de 10,16% mais a TR. Apesar

de atender a uma classe de menor poder aquisitivo, a burocracia é a mesma, lenta e burra.