Bisbilhotar a vida alheia, conhecer gente nova, autopromover-se, contar a própria história ou fazer uma coluna social particular. Estas são algumas das possibilidades de uso do fotolog, o diário fotográfico virtual que vem se tornando mania. Atualmente cerca de 240 mil pessoas no mundo possuem um fotolog – ou simplesmente flog. Destas, mais de 135 mil são brasileiras, ou ao menos declaram ser, já que não há como comprovar a veracidade das informações deixadas pelos usuários. Os
dados são do site americano www.fotolog.net, no qual o interessado em ser um fotologger expõe fotos, selos, reproduções ou desenhos, acompanhados de um pequeno texto. O serviço é gratuito e o registro, rápido. Qualquer candidato a compartilhar seu dia-a-dia com os internautas constrói um fotolog em poucos minutos. A graça, no entanto, não é montar um álbum on-line, e sim receber comentários, críticas ou elogios de visitantes de todo o planeta. O serviço também funciona como caixa de recados.

A associação de imagens pessoais com o bate-papo praticamente
elimina a possibilidade de o autor manter o anonimato. Também diminui a fantasia do internauta já que quem está do outro lado é facilmente identificável. Diferentemente do que acontece nos blogs – diário eletrônico que antecedeu o fotolog –, o forte neste recurso são as imagens. Os frequentadores acompanham a vida dos autores, que acabam virando um personagem.

Essa “fama virtual” pode surpreender. A publicitária Roberta Cezvre, 22 anos, possui há seis meses um fotolog com imagens de sua turma em festas. Outro dia, levou um susto ao ser abordada numa boate por
um desconhecido. “Ele chegou e me chamou de “Betinha1981”, meu
nome de fotologger”, conta ela. Ao contrário do que ocorre com
muitos adeptos, Roberta não costuma estabelecer novas amizades por meio do recurso eletrônico. “Ele serve para a minha turma conferir a última balada”, conta. Assim como Roberta, o DJ Johnny Luxo também encontrou no flog uma maneira de manter contato com os amigos. Ele tem dois fotologs: um particular e outro em parceria com o estilista Alexandre Herchcovitch. “Quando estamos de bobeira, chamamos
amigos maquiadores ou fotógrafos e produzimos fotos travestidos de divas do cinema”, conta o DJ.

Diversão – Enquanto Johnny usa o fotolog para divulgar os eventos
em que vai tocar, o amigo Herchcovitch prefere não misturar
trabalho e lazer. “Nosso objetivo é a diversão”, diz o estilista. No www.fotolog.net/ellas (endereço da dupla hype), o internauta comum poderá deliciar-se apenas com as imagens. Deixar mensagens é prerrogativa dos mais íntimos. Por US$ 5 mensais, eles mantêm um serviço especial – o Gold Cam – que permite a troca de idéias com visitantes pré-selecionados. A restrição não impede, no entanto, que o navegante entre no estilo de vida modernete dos dois descolados.
Não menos moderno, o multimídia e autor do livro A foto (Ed. Objetiva), Alberto Renault, não chega a dividir a sua vida num fotolog, mas adora fiscalizar a vida de amigos pelo meio eletrônico. “Curto ler as mensagens deixadas por outros visitantes”, conta. É bem possível que Alberto tenha sido o primeiro a usar na literatura o diário eletrônico de imagens. Um dos personagens de seu livro romanceado é adepto do recurso. “Não há como evitar. Estamos na era da imagem”, define.

Falar pelas imagens era exatamento o objetivo principal dos idealizadores do fotolog, os americanos Adam Seifer, Scott Heifermann e Spike. Eles queriam manter contato com amigos e familiares, que somados chegavam a 200 pessoas, trocando fotos de viagens e programas e impressões pessoais. No início de 2002, criaram o site. A idéia agradou tanto que eles abriram o serviço para a rede mundial de computadores. Hoje, há páginas para todos os gostos e tribos. O site faz uma fiscalização contra cenas obscenas ou chocantes, mas não impede que algumas delas apareçam em um ou outro fotolog. O sucesso de cada um é medido pelo servidor. Um e-mail com os números dos visitantes da semana massageia o ego dos mais populares. E para dar uma espiadinha nos fragmentos cotidianos de cada um deles basta um clique.