Dos anos 30 aos 70, o Brasil passou por uma revolução de costumes. Foi quando aparelhos como o rádio, a televisão e toda uma parafernália de eletroeletrônicos – a maioria inventada no fim do século XIX e início do XX – começaram a entrar nos lares brasileiros. A chegada do rádio, no início dos anos 50, mudou o comportamento das famílias, que passaram a se reunir na sala para ouvir programas e noticiários. Esse cômodo tornou-se um lugar ainda mais nobre a partir de setembro de 1950, quando a televisão invadiu as primeiras residências brasileiras, consolidando de vez a sala como um ambiente social acolhedor. Detalhes e curiosidades como estes são contados nas 363 páginas do livro A vida cotidiana no Brasil, da Memória da Eletricidade, R$ 75. São mais de 300 fotos, ilustrações e propagandas publicitárias que retratam fielmente a sociedade brasileira da época.

O livro é o segundo volume de um projeto iniciado em 2001 pela
Memória da Eletricidade, centro de pesquisa histórica mantido por um pool de empresas do setor elétrico. O primeiro exemplar mostra as principais invenções tecnológicas que aconteceram entre os anos de 1880 e 1930. O lançamento mostra como esses equipamentos foram usados primeiramente pelas classes mais abastadas do Brasil, até se transformarem em bens de consumo de massa. Em 1970, a televisão já estava presente em 75% dos domicílios. A obra se divide em duas partes, o coletivo e o privado. “A primeira mostra fatos como a consolidação da iluminação pública, e a segunda como isso afetou a intimidade do lar”, diz Marilza Brito, historiadora e coordenadora da pesquisa. Dá para imaginar o impacto na sociedade da mudança das antigas luminárias a gás por modernos postes de luz fluorescente ou a vapor de sódio. Uma das consequências mais imediatas foi o incentivo à vida noturna e à boemia.

As inovações tecnológicas detalhadas no segundo volume não se restringem apenas ao rádio e à televisão. Foi também a partir dos
anos 30 que se difundiu a tecnologia de raio X, uma verdadeira revolução na medicina. Em 1936 foi criada a BBC de Londres, primeira rede pública de televisão do mundo. No ano seguinte, era apresentado o primeiro projeto de uma calculadora eletrônica e em 1939 a paz ficava mais ameaçada com a descoberta da reação nuclear em cadeia. Além do texto rico em história, o que torna o livro ainda mais atraente são as ilustrações e fotos dos anúncios dos novos bens de consumo. Por serem totalmente desconhecidas do público, as propagandas eram quase didáticas. Como a do ar-condicionado da Westinghouse, de 1939, que tentava convencer as mulheres dos benefícios do produto para a beleza delas: “O aparelho beneficia antes de tudo a mulher, proporcionando-lhe a temperatura ideal para que sua beleza se afirme e se desenvolva. Leva-lhe o bom humor, o conforto e a felicidade.” Hoje, esse apelo não convenceria.