21/01/2004 - 10:00
Vale-tudo da reforma
A reforma ministerial que deve sair nesta semana não é só uma troca de ministros. É também o início do grande pacto de poder entre PT, PMDB, PTB e demais partidos da base governista para os próximos anos. Ou seja, envolve a reeleição da Mesa do Congresso, os acordos para as eleições municipais deste ano, as eleições para governadores em 2006 e, até, a reeleição do presidente Lula. Tudo isso está sendo discutido, ora às claras, ora sutilmente, no troca-troca ministerial. Por exemplo: atente-se bem para onde vai Miro Teixeira, ao sair do PDT e do Ministério das Comunicações. No coração da cúpula nacional do PT, ele seria o grande candidato para governador do Rio em 2006. Ciro Gomes e Eunício Oliveira, adversários no Ceará, estão sendo colocados frente a frente no governo para se acertarem no futuro no Estado. Michel Temer, do PMDB, antes ignorado, agora integra as negociações da reforma ministerial. É que também vai discutir a sucessão de Marta Suplicy, em São Paulo. Ou seja, basta prestar atenção que dá para notar cada passo.
Superlaranja
O vice-presidente da CPI do Banestado, deputado Rodrigo Maia (PFL), vai convocar a depor o superlaranja Fábio de Oliveira Catão, que movimentou US$ 1,5 bilhão em contas secretas em paraísos fiscais. A astronômica quantia é semelhante à que o Brasil conseguiu obter esta semana com lançamentos de seus títulos no exterior, com vencimentos para 30 anos. ISTOÉ havia revelado que Catão é acusado de enriquecimento ilícito, evasão de divisas, sonegação de impostos e lavagem de dinheiro. A Promotoria Distrital de Manhattan, nos Estados Unidos, já identificou e bloqueou diversas contas bancárias dele naquele país.
Eixo Rio-São Paulo
O PT usa estratégias diferentes no Rio e em São Paulo para as eleições municipais. Na cidade de Marta Suplicy, trabalha para que ninguém lance candidatos, inclusive o PMDB de Orestes Quércia e Michel Temer. No Rio de Janeiro, contra Cesar Maia (PFL), a idéia é promover o máximo de candidaturas possíveis.
Por que Gato?
Roberto Requião é assim com Lula, mas não é assim com o PMDB. O partido prepara a unção de um conterrâneo, o deputado federal José Borba, para suceder Eunício Oliveira (futuro ministro das Comunicações) na liderança da bancada na Câmara. Requião só chama o deputado de “Borba Gato”. Mas jura que não é menção ao antigo bandeirante.
Cerco federal
O governo Lula prepara uma nova cacetada na senadora Heloísa
Helena. Expulsa do PT, ela deve apoiar o candidato do PPS, Régis Cavalcanti, à Prefeitura de Maceió. Com o estímulo do Planalto, o senador Renan Calheiros (PMDB) vai retaliar armando uma aliança com o governador Ronaldo Lessa (PSB), para decolar o senador Teotônio Vilela (PSDB) como candidato a prefeito. Em tempo: Renan já foi padrinho de Régis e inimigo mortal de Lessa.
Verticalidade
Quando consultado sobre mudança de Ministério, Ciro Gomes foi curto
e grosso com o ministro José Dirceu: “Tudo bem, saio, desde que seja para cima.” O titular da Integração Nacional sonhava, alto, com o Ministério do Planejamento. O resto era para baixo. Por isso, vai ficar
no mesmo nível.
Rápidas
• O velho ex-cacique baiano Antônio Carlos Magalhães rendeu-se
ao fato de que José Carlos Aleluia (PFL-BA) será líder do PFL na
Câmara, mesmo contra a sua vontade.
• Oposicionista, Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) apóia a reeleição do presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP). Assim, ele permanece como primeiro-secretário da Casa.
• Dia 26, decide-se a primeira grande conta de publicidade do governo
no ano: Caixa Econômica Federal, R$ 170 milhões. Concorrem amigos
e inimigos do PT, inclusive Duda Mendonça.
• Tasso Jereissati avisou Ciro Gomes: se o ministro quiser ser candidato a prefeito de Fortaleza, pode contar com o apoio do PSDB. Inclusive do governador Lúcio Alcântara.