21/01/2004 - 10:00
A principal preocupação do governo Lula, esta semana, não é o
primeiro emprego. O que angustia o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva é o primeiro desemprego de seu Ministério, provocado pela
troca de cadeiras necessária para acomodar o PMDB e enxugar a área social. Até sexta-feira 23, antes de embarcar no sábado para a Índia, Lula, que gosta de nomear, mas odeia demitir, vai revelar ao País o resultado final do sofrido quebra-cabeça partidário. Deixam a Esplanada os ministros Roberto Amaral (Ciência e Tecnologia) e Benedita da Silva (Ação Social) e mudam de endereço os ministros Miro Teixeira (Comunicações) e Ricardo Berzoini (Previdência).
São poucas mexidas num tabuleiro de 33 peças de poder. Mas alteram
a essência do governo petista. O PMDB entra, finalmente, no primeiro escalão nas vagas de Miro e Berzoini. O líder do partido na Câmara, Eunício Oliveira (CE), deve assumir a pasta das Comunicações e o senador Maguito Vilela (GO) despontava como favorito na sexta-feira
16 para a Previdência. A idéia original parecia ser outra. A Previdência entrou no rateio no lugar da Integração Nacional diante da recusa do titular, Ciro Gomes, de fazer a transposição para outra cadeira. Assim, o PMDB teve que trocar de nome: saiu o senador Garibaldi Alves (RN) e entrou o goiano Maguito Vilela, preservando a alegria do influente presidente do Congresso, José Sarney. A suplente de Maguito é a ex-senadora Iris Rezende, mulher do ex-governador Iris Rezende, tão amigo de Sarney quanto Garibaldi.
Duas semanas atrás, quando o Planalto acenou pela primeira vez com a Previdência, o PMDB torceu o nariz. Mas o ex-senador Sérgio Machado, diretor da Transpetro, lembrou que o PFL aguentou o encargo durante sete anos no governo FHC. E agora, aprovada a reforma no Congresso, a Previdência deixava de ser um problema político do PMDB e passava a ser uma questão jurídica para a Advocacia Geral da União. E o PMDB começou a gostar da idéia. Na segunda-feira 12, o presidente Michel Temer avisou: “O PMDB terá ministérios, não ministros.” Era a senha de que o partido não queria pastas fatiadas. Na quarta-feira, o presidente do PTB, Roberto Jefferson, tentou morder o pedaço do PMDB, pedindo a Dirceu a direção dos Correios e Telégrafos. “Não, as Comunicações serão integralmente do PMDB”, avisou o chefe da Casa Civil. Da mesma forma, a Previdência manterá o INSS nas mãos peemedebistas. Na quinta-feira 15, no almoço de Lula com o governador do Paraná, Roberto Requião, o partido abocanhou uma gorda estatal: a Eletrobrás.
No mesmo dia, na reunião pública com alguns de seus ministros na Câmara de Política Social, Lula botou frente a frente Berzoini e Benedita, talvez em suas derradeiras aparições públicas como ministros. A primeira alternativa para coordenar a área social, englobando os programas Fome Zero e Bolsa Família, é o secretário do Conselho de Desenvolvimento Político e Social, o ex-prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro. A segunda opção de Lula é outro ex-prefeito, de Belo Horizonte, o deputado federal Patrus Ananias (PT), amigo dileto do ministro da Secretaria Geral, Luís Dulci. Se Tarso ganhar a parada, Dulci vai acumular o Conselho de Desenvolvimento, ajudando a enxugar a máquina do governo.