21/01/2004 - 10:00
Bob Harris (Bill Murray) é um ator americano que já conheceu dias melhores. No entanto, apesar de cinquentão e vítima de um casamento entediante, conserva charme suficiente a ponto de lhe oferecerem US$ 2 milhões para filmar um comercial de uísque em Tóquio. Charlotte (Scarlet Johansson), uma garota de 20 anos, igualmente americana, recém-formada e recém-casada, também está no Japão com o marido John (Giovanni Ribisi), um fotógrafo badalado que a deixa o
tempo todo sozinha. Cada um em sua suíte de hotel amarga a insônia provocada pela diferença de fuso horário. O jeito é procurar o bar do hotel onde acabam se conhecendo. Assim, a diretora Sofia Coppola apresenta seus principais personagens em Encontros e desencontros (Lost in translation, Estados Unidos/Japão, 2003) – cartaz nacional a partir da sexta-feira 23 –, um filme que, como indica o título, fala da solidão a dois.
Depois da elogiada estréia com
As virgens suicidas
(1999), a cineasta, filha de Francis Ford Coppola e mulher de Spike Jonze, apostou num
texto de sua autoria, escrito especialmente para Murray e filmado com uma equipe 90% japonesa. O resultado é dos melhores. Sob a batuta
da diretora, Murray, um ator normalmente histriônico, passeia impassível pela noite nipônica com seus karaokês, jogos eletrônicos e casas de strip-tease, brilhando com dosada comicidade. Ao seu lado, Charlotte dá credibilidade a um romance tão improvável quanto inevitável. O encanto do filme é sublinhado pelas escolhas musicais da diretora, pinçadas diretamente da sua discoteca. Ela mais uma vez recorreu ao duo francês neopsicodélico Air e acrescentou preciosidades do barulhento grupo escocês Jesus & Mary Chain e da banda irlandesa My Bloody Valentine, já descrita como dona de um som igual ao emitido pelas baleias.