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É um dos empregos públicos mais cobiçados do País. Bom salário, prestígio técnico e respeito dos poderosos de qualquer vertente e escala. Quem não quer status, carreira de projeção e reconhecimento pela competência? Na Receita Federal, os admitidos encontram esse coquetel de atrações imperdíveis. A admissão na Receita é conquista tida como garantia de vida bem-sucedida para qualquer brasileiro. Sair da Receita é impensável. Renunciar a um posto de chefia nessa estrutura, nem se fala. Mas eis que um grupo nada pequeno de servidores optou pelo caminho da renúncia pura e simples de cargos-chaves. Superintendentes regionais, coordenadoresgerais, delegados, inspetores – tinha de tudo.

A cúpula da burocracia estatal, que controla a arrecadação dos contribuintes e a montanha de dinheiro necessária à gastança federal, devolveu seus postos de confiança. Estariam os técnicos loucos ou tomados por alguma vertigem passageira? Lotados em repartições que primam pela integridade técnica e autonomia operacio-nal como bens inalienáveis, esses funcionários não aceitaram o que consideram uma perigosa ingerência política em suas trincheiras. Estão convictos de que servem ao País, não a governos passageiros. A retirada em bloco, nas circunstâncias em que ocorreu, é uma resposta eloquente.

Um ponto de inflexão que traduz o incômodo latente na sociedade com a quebra de valores fundamentais na gestão da coisa pública. O Leão rugiu alto contra a interferência. Deu uma lição de cidadania. Em parte, a mobilização de auditores e fiscais retrata a indignação daqueles que não aceitam o aparelhamento oficial. Ao zelarem por sua reputação, esses senhores defenderam o interesse nacional. Simbolizaram um protesto orgânico contra a manipulação oficial de instituições vitais ao bom funcionamento do Estado. Reside aí, decerto, um preocupante hábito que deitou raízes por essas bandas. Ao escolher nomes de dirigentes estatais entre amigos sindicalistas, aliados de última hora e agregados de qualquer ordem, mandatários estão ferindo de morte o que há de melhor na engrenagem federativa. Sua sina é defrontarse com a revolta.

Carlos José Marques, diretor editorial