02/09/2009 - 10:00
Na segunda-feira 24, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva antecipou seu plano eleitoral para São Paulo durante almoço no escritório da Presidência da República, na esquina da rua Augusta com a avenida Paulista. "Palocci é o nosso nome para o governo de São Paulo. Agora, ele só precisa se viabilizar politicamente", comunicou Lula aos deputados Ricardo Berzoini (PT-SP) e Michel Temer (PMDBSP). Com o aval do presidente, o exministro da Fazenda Antônio Palocci, deputado federal pelo PT-SP, só estava aguardando o julgamento da denúncia que pesava contra ele no STF para dar início ao ambicioso projeto. Agora, não falta mais nada. Três dias depois, na noite da quinta-feira 27, por 5 votos a 4, o STF livrou Palocci da acusação de ter violado, em 2006, o sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa -, assim como seu ex-assessor Marcelo Netto. Anunciado o arquivamento do processo, houve festa na Presidência da República. "O Supremo fez justiça e a vida de Palocci está liberada", disse o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho. "Palocci tirou essa sombra das costas. Ele é um nome respeitadíssimo no Brasil", fez coro o ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro (PTB).
OUTRO LADO O caseiro Francenildo assistiu à absolvição de Palocci na primeira fila do plenário: "São dois pesos e duas medidas"
Conforme apurou ISTOÉ, palocci vem conversando há pelo menos 15 dias com empresários e parlamentares da base aliada para pedir apoio à sua candidatura. Ele já ofereceu a vaga de vice na chapa para os partidos do chamado bloquinho de esquerda, formado por PSB, PDT e PCdoB. Um nome que agrada ao ex-ministro é o do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Palocci manifestou sua simpatia por Aldo em conversas com o presidente do PSB paulista, deputado Márcio França, e o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT), o Paulinho da Força Sindical. Em jantar na terça-feira 25, em Brasília , com o dileto amigo e ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel e parlamentares da bancada do Ceará, mostrou confiança no julgamento do STF e adiantou qual deverá ser uma das linhas programáticas de sua campanha: "Vamos focar na administração. São Paulo vai crescer mais economicamente." Ele pretende vender a imagem de principal guardião dos bons fundamentos da economia brasileira.
Palocci, obviamente, só vai oficializar sua candidatura quando reunir as condições políticas necessárias, o que, segundo aliados, deve ocorrer até o fim do ano ou no início de 2010. De acordo com um interlocutor frequente de Lula, ouvido por ISTOÉ na quinta-feira 27, "Palocci pode ser o homem de Lula na campanha". Caso o projeto rumo ao governo paulista seja inviabilizado, o plano é alçá-lo a principal coordenador da campanha da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, ao Palácio do Planalto. Por ora, a ideia, aventada pelo presidente desde o fim de 2008, de levar o deputado petista para o primeiro escalão do governo – nas Relações Institucionais ou na Casa Civil a partir da desincompatibilização de Dilma – está descartada. A possibilidade foi examinada diante da demora do STF em julgar o ex-ministro. Foi a hipótese de Palocci ir para o governo que alimentou a estratégia de lançar o nome do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) ao Palácio dos Bandeirantes. Mas, como o próprio Ciro, após o lançamento de Marina Silva pelo PV, renovou o desejo de disputar a Presidência, a alternativa Palocci voltou com força à cabeça de Lula. Outra ideia é o ex-ministro continuar como eminência parda do governo e, mais à frente, buscar a reeleição a deputado federal. Hoje, Palocci, na prática, é um dos principais assessores de Lula. "Ele não precisa de cargo nem de holofote para ter influência no governo", afirmou um auxiliar do presidente.
Palocci é um forte curinga nas mãos do presidente Lula. Não por acaso, tem o nome citado como plano B no caso de a candidatura de Dilma naufragar. Um episódio, ocorrido em 2005, no auge do escândalo do mensalão, ilustra bem o prestígio que o ex-ministro desfruta com o presidente da República. Acossado pela avalanche de escândalos que envolviam o governo, Lula convidou Palocci para uma conversa a sós no Palácio da Alvorada, por volta de oito horas da noite. No bate-papo, regado a uísque escocês, que varou a madrugada, o presidente confidenciou ao então ministro que avaliava a possibilidade de não concorrer à reeleição nas eleições presidenciais de 2006. "Quem deve lançar a candidatura é você", sugeriu o presidente. Entre surpreso e agradecido pela sugestão, Palocci devolveu a cortesia: "A crise vai passar e o senhor será eleito novamente."
Os próprios amigos de Palocci admitem, porém, que um voo solo ao Palácio do Planalto, hoje, é improvável. Reconhecem que, mesmo no caso da disputa ao governo de São Paulo, o caso Francenildo pode ser uma fonte de desgaste. Daí a cautela de Palocci em oficializar sua candidatura, apesar da intensa movimentação nos bastidores. A oposição, certamente, ressaltará que Palocci foi absolvido numa votação bastante apertada. E fará uso dos quatro votos contra o arquivamento do processo, todos contundentes e bem fundamentados, um deles do decano do STF, ministro Celso de Mello. "Os votos contrários a Palocci foram muito fortes e podem ser explorados.
SOBROU Ex-presidente da Caixa, Mattoso é o único dos acusados que não foi absolvido
A absolvição não transforma ninguém em herói", disse o líder do PSDB, Arthur Virgilio (AM), antecipando o tom da oposição na campanha. Poderá ser lembrado também que o processo não está encerrado, pois o STF remeteu à Justiça comum a ação contra o ex-presidente da Caixa Jorge Mattoso, por quebra de sigilo das contas do caseiro Francenildo. Além disso, ainda pesam contra Palocci dez ações civis movidas pelo Ministério Público Estadual. O próprio caseiro, que permaneceu em silêncio durante o julgamento, pode ser um importante cabo eleitoral da oposição. "São dois pesos e duas medidas", disse Francenildo ao sair do STF. Até mesmo integrantes do PT de São Paulo ressalvam que Palocci ainda precisa resgatar sua imagem, pois o partido tem outros pré-candidatos, como o prefeito de Osasco, Emídio de Souza, e a exprefeita Marta Suplicy. Mas, ao fim e ao cabo, sabe-se que a última palavra caberá ao presidente Lula. E o coração de Lula bate pelo amigo Palocci.