02/09/2008 - 10:00
MONTAGEM SOBRE FOTOS DE FREDERIC JEAN/ED. GLOBO E ROBERTO CASTRO/AG. ISTOÉ
Esqueça a chapa puro-sangue – aquela que teria José Serra como candidato a presidente e Aécio Neves como seu vice. Ela só existe na cabeça do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Nos próximos quatro meses, os governadores de São Paulo e de Minas Gerais dominarão a cena da oposição na batalha pelo direito de enfrentar o candidato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva numa eleição fundamental para definir um novo projeto para o Brasil. José Serra, 67 anos, e Aécio Neves, 49, são diferentes em muita coisa: no jeito de fazer política, nas prioridades de governo e, até onde deixam antever, no projeto para o Brasil.
Mas estão no mesmo partido e, pelo acordo tácito estabelecido entre os líderes do PSDB, terão até dezembro para que um se mostre mais viável que o outro como candidato a presidente da República. Até lá, contudo, o dilema do PSDB será esmiuçado em um jogo político de duas frentes. Para o eleitor comum, eles desfiarão um rosário de estatísticas, inaugurações, obras e programas de governo – com o objetivo de subir nas pesquisas de intenção de voto. Mas também irão acelerar a peregrinação pelos Estados, de olho em alianças regionais e na conquista dos filiados do PSDB. Se até dezembro nenhum dos dois se sobrepujar, uma eleição geral, no início de 2010, entre os 350 mil integrantes do partido indicará o comandante da oposição na batalha contra o governo Lula. O vencedor definirá com que estilo, velocidade e rumo o Brasil irá caminhar para se tornar uma nação desenvolvida. E é por isso que, daqui por diante, a temperatura no PSDB não vai parar de esquentar.
Apenas na última semana, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, rodou mais de dez mil quilômetros para frequentar reuniões partidárias e eventos políticos. Foi a Aracaju, Fortaleza, Rio de Janeiro, Florianópolis e Brasília. Seus adversários dentro do PSDB olham as pesquisas de intenção de voto e alardeiam que ele roda, mas não sai do lugar. De fato, o governador de Minas está estacionado na casa dos 15% nas pesquisas em que aparece como o candidato do PSDB à Presidência.
Seus aliados argumentam que Aécio ainda não foi descoberto pelo eleitor comum, mas dentro do partido tem feito um estrago, por enquanto silencioso. Na sexta-feira 28, os parlamentares tucanos de todos os Estados se reuniram num hotel do Rio de Janeiro para discutir a sucessão. Nenhum governador foi convidado porque a estrela do encontro era o cientista político Antônio Lavareda, uma espécie de mago das pesquisas durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. "Queremos entender o que as pesquisas realmente mostram e qual o potencial de cada candidato", explicou um líder do PSDB. A pesquisa apresentada por Lavareda mostra que o eleitor está satisfeito com o Bolsa Família de Lula, mas que há enorme insatisfação com a carga tributária. "Desta vez, não vamos permitir o discurso de que o PSDB é contra os programas sociais", afirmou a vice-presidente do partido, senadora Marisa Serrano (MS).
O cativante e o racional
No contato com a militância, Aécio levou vantagem nas duas únicas viagens que fez ao lado de Serra. No Rio e no Paraná, ele foi recebido com um entusiasmo que não se viu em relação a Serra. "São as diferenças de personalidade", justifica o presidente do partido, senador Sérgio Guerra (PE). "O Serra faz um discurso mais racional." O fato é que o governador de São Paulo acabou por adiar o terceiro embate, que deveria ter ocorrido em Aracaju, na sextafeira 21. Na última hora, Serra remarcou sua presença no encontro estadual do PSDB para o dia seguinte à passagem de Aécio.
Para os "aecistas", Serra roda pouco o Brasil porque não empolga e, como não empolga, não sobe nas pesquisas. Segundo o último Datafolha, o governador paulista caiu três pontos em relação à pesquisa anterior, mas com 38% tem mais que o dobro das preferências da sua principal adversária, Dilma Rousseff, do PT. Com essa dianteira nas pesquisas, Serra escorou sua estratégia no favoritismo. Enquanto Aécio estimula a campanha de recadastramento para aumentar seu eleitorado na eventualidade de ter de recorrer às prévias, Serra costura uma aliança com a cúpula do DEM e de parte do PMDB. Seu primeiro objetivo na pré-campanha é evitar que o PMDB fique ao lado de Lula.
Como o PMDB dá prioridade aos projetos estaduais, Serra começou a montar palanques que privilegiam o aliado. Isso, no entanto, o desgasta diante das ambições locais dos tucanos. Na contabilidade serrista, ele tem o apoio dos peemedebistas em Santa Catarina, São Paulo, Pernambuco, no Rio Grande do Sul e Rio Grande do Norte. No seu plano, até o final de outubro vai assegurar o PMDB em Mato Grosso e em Mato Grosso do Sul. Entre os tucanos, porém, apesar da vantagem nas pesquisas, 13 dos 24 diretórios estaduais consultados por istoé não declaram apoio ao governador paulista.
Dentro de casa, Serra quer segurar Aécio em dois campos. Primeiro, tratá-lo a pão de ló até o início de outubro, quando vence o prazo legal para mudança de partido. Com o governador de Minas preso definitivamente ao PSDB, Serra, parte de tradicionais líderes tucanos, seus aliados do DEM, como Jorge Bornhausen, e do PMDB, como Orestes Quércia, tentarão forçá-lo a abrir mão das prévias. "Ao Aécio, ele garantiu que isso não iria acontecer", diz um parlamentar do PSDB. "Mas é claro que ele não acreditou."
No cenário idealizado por Serra, com Aécio no partido e fora da disputa presidencial, o PMDB em Minas, Bahia, Pará e Goiás também estaria ao seu lado e não com Lula.
A armadilha do favoritismo
A briga no PSDB esquentará na proporção da eventual subida de Aécio ou queda de Serra nas pesquisas. Crescer é o drama de Aécio no momento. Mas o problema do governador de São Paulo é ainda maior. "Ele é o único que tem dois adversários", explica um tucanão paulista. "Porque se a Dilma voltar a crescer, o governador já manifestou sua intenção de disputar a reeleição, ainda que Aécio continue patinando." É por isso que os aliados de Serra têm hoje tanto interesse em sustentar a crise do Senado e amplificar a rebelião da Receita Federal (leia na pág. 94). Trata-se de uma estratégia vulnerável a uma reversão fulminante do quadro. Serra tem trabalhado por alianças e tem um nome reconhecido por mais de 90% dos eleitores. Mas, dono de uma personalidade que dificulta um maior magnetismo com o eleitor, pode ver o arco de apoios estaduais se inclinar para Aécio ou Dilma em caso de queda nas pesquisas ou se houver crescimento de um dos candidatos. "A maioria vota em quem está na frente, mas o Aécio agrega mais, emociona mais e tem mais capacidade de fazer alianças", diz um dirigente nacional dos tucanos.
Serra tem feito uma administração com visibilidade nacional. Lançou projetos polêmicos como o que proibiu o fumo em lugares fechados. A lei antifumo rendeu notícias e foi logo copiada em outros Estados, como o Rio de Janeiro, por exemplo. Seu governo está mudando radicalmente a estrutura de transportes: até o próximo ano, entregará um novo sistema de trens suburbanos, a ampliação das avenidas mais movimentadas do Brasil (as marginais do Tietê e do Pinheiros), o trecho do rodoanel, fundamental para o trânsito com o Porto de Santos, e uma nova linha de metrô.
Numa prova de que cumpre acordos, elegeu seu candidato na capital, Gilberto Kassab, do DEM, contra o candidato do próprio partido, Geraldo Alckmin, que entrou na disputa respaldado por uma larga superioridade apontada pelas pesquisas e que teve em Aécio um parceiro de primeira hora. Colocou dois professores nas salas de aula do curso fundamental, ampliou o número de escolas técnicas e tem trabalhado forte na capacitação dos professores.
FOTO: ROBERTO CASTRO/AG. ISTOÉ. ARTE: EDI EDSON; FERNANDO BRUM
Mas na hora em que os governos de São Paulo e Minas são avaliados pelos cidadãos de cada Estado, Aécio ganha. Na última pesquisa do Instituto Vox Populi, com três graus de avaliação positiva e três negativas, o governador de Minas tem 92% de aprovação contra 79% de Serra. Em nove Estados, Minas tem a população mais satisfeita com o governo. São Paulo é o quarto colocado. Entre os mineiros, 29% acham a gestão Aécio "ótima". O "ótimo" de Serra é três vezes menor: 9%. "Não há alcance social maior do que gastar bem o dinheiro público", diz Aécio.
Com R$ 11 bilhões em investimentos neste ano, Aécio levou saneamento e água potável a municípios com índices de pobreza semelhantes aos dos mais pobres do Nordeste. Até o final do próximo ano, completará a ligação por asfalto entre todos os 853 municípios do Estado. Quando assumiu, 229 só tinham estradas de terra. Metade já está pronta e, em alguns casos, as rodovias chegam a 100 quilômetros.
Em novembro, inaugura o Centro Administrativo, que reunirá, num moderno complexo em uma área nova da cidade, as secretarias e órgãos do governo estadual, atualmente dispersos por dezenas de prédios antigos. Haverá uma economia anual de R$ 55 milhões em aluguéis. Acabou com biênios (aumentos automáticos de 5%), quinquênios (10% a cada cinco anos), trintários (um aumento aos 30 anos de serviço) e apostilamento (a incorporação ao salário das gratificações de chefia). No lugar disso, criou um sistema de metas, como taxas de redução da desnutrição ou de aprovação de alunos, que, quando cumpridas, rendem um salário anual a mais ao funcionário envolvido no projeto.
O sonho e o pesadelo
Mas são duas as joias da gestão em Minas: o trabalho na segurança pública e na educação. Depois de demitir três comandantes da Polícia Militar por criar empecilhos a seu plano de integração com a Polícia Civil, ele conseguiu finalmente instalar unidades comuns com banco de dados compartilhado. Agora, segundo acompanhamento da Fundação João Pinheiro, os índices de violência regrediram para o patamar de dez anos atrás.
Na educação os resultados positivos se multiplicam. Em 2004, foi o primeiro Estado do País a abrir vagas para crianças de seis anos. Em 2006, 42% dos alunos do ensino fundamental liam e escreviam adequadamente para a sua idade. Em 2009, o índice pulou para 74% e o governo estima chegar aos 100% no próximo ano – nenhum governo estadual tem essa marca. Nas nove séries do ciclo básico, os alunos das escolas públicas de Minas estão entre os três melhores do País.
Para Serra, a campanha contra o PT seria uma espécie de revanche de 2002, quando ele foi derrotado por Lula. A lógica da polarização foi entendida pelo eleitor. Em pesquisas qualitativas, nas quais se procura associar imagens e qualidades a um candidato, a primeira lembrança diante do nome de Serra é Fernando Henrique Cardoso. Quando se fala em Dilma, aparece Lula. Nas qualitativas encomendadas por Aécio, seu nome é associado a "gestão", depois a "educação" e "segurança".
Para Aécio, a estrada para o Planalto é mais tortuosa. Ela inclui composições políticas que superem a atual dicotomia entre PT e PSDB, menos desequilíbrios regionais e uma nova agenda de reformas. Seu horizonte de alianças inclui partidos que hoje fazem parte da base do governo. Na sexta-feira 21, por exemplo, ele tricotou em Fortaleza com o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), o governador Cid Gomes (PSB) e o deputado Ciro Gomes (PSB-CE). O governador de Minas deixou o Ceará convencido de que, quando terminar de escalar a montanha da disputa interna, vislumbrará uma chapa com Ciro Gomes de vice, o apoio irrestrito de um Serra candidato à reeleição e a bênção velada de Lula.
É um sonho para se contrapor ao pesadelo dos tucanos. Se Serra ganhar a briga no PSDB, mas perder a eleição presidencial para o PT, a legenda vai minguar. Ela ainda terá bases fortes no Sul e no Sudeste porque são muitas as chances de Aécio fazer seu sucessor e de Geraldo Alckmin retornar ao Palácio dos Bandeirantes. Mas isso é tudo o que Serra não quer.
O desafio do pós-Lula Em 2010, ou o Brasil perde o passo na briga partidária entre PT e PSDB ou constrói um novo contrato político para chegar ao Primeiro Mundo em 20 anos Nem José Serra, nem Dilma Rousseff, nem Aécio Neves. Nem Marina Silva, nem Ciro Gomes, nem Heloísa Helena. Dentro de 30 dias começa legalmente a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com os candidatos ao Planalto e aos governos estaduais confirmando por qual partido concorrerão. O desafio dessa eleição, contudo, não está no calendário partidário nem nos nomes, mas nos projetos que eles apresentarão ao País a partir de agora. E a questão central é muito simples: ou o Brasil abre outro ciclo histórico ou se perde no nhem-nhem-nhem partidário. Ou faz novos contratos político, econômico e social, com o objetivo de chegar ao Primeiro Mundo no espaço de 20 anos, ou estica por mais um mandato presidencial o descompasso entre sociedade e políticos. A opção pelo antigo, no entanto, o colocará numa zona cinzenta de ideias, limitadas pelo último round da velha briga paulista entre PT e PSDB, ao final do qual os dois certamente sairão perdendo. Depois de 31 de dezembro de 2010, quando Lula terá de retornar a sua cobertura em São Bernardo do Campo, estará encerrado o período que os livros do futuro provavelmente registrarão como sendo "a consolidação democrática". Ele se iniciou em algum momento entre a eleição indireta de Tancredo Neves, em 1985, e a eleição direta de Fernando Collor, em 1989, e, nesse tempo, o Brasil virou uma democracia madura, com segurança jurídica e sem espaço para aventuras institucionais. Também promoveu o saneamento das contas públicas, com estabilidade e abertura econômicas. E finalmente criou uma rede de proteção social, com distribuição de renda e valorização do mercado interno. Essa agenda de transformações só não está totalmente encerrada porque o governo Lula tratou seu mais vistoso programa social, o Bolsa Família, como uma concessão oficial e não como um direito dos cidadãos. Mas, já que ninguém acredita num eventual desmonte deste benefício, o dilema que se coloca para o novo governo é outro. Da mesma forma que a derrocada do regime militar impôs a agenda da democracia, da estabilidade e da redistribuição de renda, o fim da "consolidação democrática" está aí a pedir um programa para o futuro. O bom projeto colocará o País em marcha acelerada para, em apenas uma geração, se tornar uma nação desenvolvida, repetindo a revolução que Espanha e Portugal fizeram entre 1986, ano do ingresso na comunidade econômica europeia, e 1999, quando passaram a viver sob o euro. Um mau projeto não irá nos transformar num país-caranguejo, como a Argentina, que depois de se desindustrializar agora se desagriculturaliza. Mas será como o governo Sarney de duas décadas atrás, na abertura do ciclo democrático: vacilante, contraditório, sem personalidade, oscilando eternamente entre a ânsia do novo tempo e os espasmos do antigo regime. A fronteira inicial da consolidação democrática ficou tênue porque não houve a ruptura entre o regime militar e o civil. A transição negociada de Tancredo Neves e Ulysses Guimarães usou as armas da ditadura para construir a Nova República. Pior ainda: com a morte de Tancredo e a posse do vice, a zona de sombra dessa transição ganhou contornos ainda mais nebulosos e é esse o risco que se corre agora. Há 25 anos, o Brasil passou a ter um governo do novo, comandado pela imagem do antigo, José Sarney, o velho presidente do PDS, o partido do regime militar. Um sopro de renovação nos dois maiores partidos abrirá a porta para que a classe dirigente elabore um projeto para outra etapa histórica Na política, esse tipo de mudança dissimulada, um clássico da nossa história, acabou sempre por gerar erros sequenciais, que atrasaram o desenvolvimento da nação. As zonas cinzentas retardaram a independência, a abolição, o fim da República Velha e da ditadura militar. A incongruência histórica do governo Sarney permitiu que se restabelecesse a liberdade de opinião enquanto se censurava um filme por pressões da Igreja Católica. Fez-se uma Constituição para garantir a nova ordem jurídica, mas barganhou-se um ano a mais para o presidente que saía. Com o Mercosul, o Brasil entrou na onda dos mercados comuns e da abertura comercial, mas ao mesmo tempo declarou moratória da dívida externa, isolando-se da comunidade financeira internacional. Em 1988, o fora FMI uniu, pela primeira vez, Sarney ao PT e, ao que tudo indica, assim estarão 22 anos depois. Em 2010, um projeto equivocado retardará a passagem do Brasil para o clube dos desenvolvidos. Eventualmente terá o efeito didático que o governo Collor teve no passado. Entre cientistas políticos e economistas, Collor é valorizado pela abertura econômica: iniciou a privatização, reduziu alíquotas de importação, facilitou o fluxo de moedas. Mas foi no seu impeachment que a classe política provou que iria seguir a Constituição e mostrou que não haveria mais recuos no avanço institucional. O que fez de Collor um presidente fraco, fez do Brasil um país mais forte. Se ao longo do tempo essa equação terminou por revelar um saldo positivo, não se pode esquecer quanto ela custou em confisco, bandalheiras, inflação e impasses políticos. Esse será o preço de um mau projeto em 2010 e, como o Collor de 1989, é mais provável que venha de um candidato voluntarista e autocrático. A institucionalização ajudou a barrar a ascensão de Ciro Gomes em 2002 e é ela que gera incertezas nas prováveis candidaturas de Dilma Rousseff e Marina Silva. As duas têm os requisitos básicos para uma disputa presidencial. Oferecem experiência administrativa e estão ligadas a partidos representativos. Dilma larga com uma legenda forte, o PT. Marina tem a difícil missão de engordar o PV durante a campanha. Mas ambas ainda precisam provar sua capacidade de articulação política. A primeira dificilmente teria chances eleitorais, não fosse o respaldo de um presidente popular. A segunda carece de transformar ousadia em votos. A motivação histórica de 2010 não pode ser uma Com o debate colocado em torno de nomes ou partidos, este início de sucessão presidencial já está se passando no enevoado intervalo entre uma era que se vai e outra que ainda não chegou. O anúncio de novos competidores serviu para desanuviar o pior cenário, a batalha precoce de Serra contra Dilma, como se os próximos quatro anos fossem um apêndice dos defeitos e virtudes dos governos FHC e Lula. A motivação histórica de 2010 não pode ser uma revanche de tucanos contra petistas. Mas a clara definição, como bem mostra a extrema-unção do Senado, de que, esgotado um modelo, resta à elite nacional, agora engrossada pelo PT, se debruçar sobre a construção de um novo projeto de 20 anos. Democracia, segurança jurídica, proteção social e estabilidade econômica, com integração comercial. Nenhuma nação ganha o status de país desenvolvido sem esses quatro pilares. São eles que colocam o Brasil à frente da Índia, Rússia e China. Do impeachment de Collor ao real de FHC e o Bolsa Família de Lula, nas três vezes em que mudou um presidente pelo voto direto, o eleitor brasileiro escolheu aqueles que permitiram criar essa base política, econômica e social. Nas três ocasiões, o componente emocional foi fundamental para fazer o vencedor. Se for mantido o atual quadro, corre-se o risco de termos uma disputa tecnocrática, limitada pela miopia das brigas partidárias do passado. Um sopro de renovação nos dois maiores partidos abrirá a porta para que a classe dirigente elabore um projeto para outra etapa histórica. Sem ele, o fosso que hoje separa os políticos da sociedade vai se aprofundar. Luciano Suassuna |