Para dizer a verdade, um pesadelo. Como num slide macabro, as imagens de senadores – Sarney, Renan, Collor, Mercadante e Virgílio – invadiam o meu sono. Aqueles rostos iam se deformando até assumirem feições monstruosas e assustadoramente reais. Dentro do Congresso, outros parlamentares, com broches do PT, do PSDB, do DEM, do PMDB, banqueteavam no Conselho de Ética e depois se transformavam em porcos, como em "A Revolução dos Bichos". Na cena seguinte, José Serra e Dilma Rousseff apareciam montados em tanques de guerra e com pilhas de dossiês, protegidos por seus atiradores profissionais. Discutiam o caso Lina Vieira, o caso Alstom e também quem possuía mais ou menos diplomas. De fora, o mato crescia e um pântano lamacento cercava o Congresso. Quem passava por perto, se perguntava: "Fazer o quê? Pegar em armas? Chamar os milicos? Anular o voto?"

No meio da noite, acordei banhado em suor. Tomei um copo d´água, abri a janela e esperei amanhecer. Quando voltei para a cama, mergulhei num sono pesado. Desta vez, as imagens surgiam nítidas e transparentes. Primeiro, a senadora Marina Silva. Em seguida, Henrique Meirelles, o presidente do Banco Central. Eram dois átomos puros, que pareciam distantes, mas depois se fundiam numa molécula indestrutível. Marina, a emoção, o sonho, a utopia. Meirelles, a razão, a eficiência pragmática, os pés no chão. Vistos de longe, dois antípodas. De perto, o par ideal – e talvez necessário.

Quando despertei novamente, quis interpretar aquela mensagem onírica. Pensei na história da senadora Marina, ex-seringueira no Acre, que se alfabetizou aos 17 anos e foi escolhida por especialistas globais como uma das 50 pessoas capazes de salvar o planeta. Depois, na trajetória de Meirelles. Um goiano de Anápolis, de classe média, que chegou ao topo do mundo, assumindo nos Estados Unidos a presidência de um grande banco, graças aos seus méritos. E que, no BC, foi responsável por grande parte do sucesso do governo Lula. Dois vencedores, exemplos do que o Brasil tem de melhor, e que, nos últimos dias, começaram a se oferecer como alternativas ao mundo político, com o perfume e o frescor da novidade em meio a tantas frutas podres.

Marina quer ser presidente da República. Meirelles também – governar Goiás é seu plano B. Uma tem carisma e carrega a agenda do futuro. O outro representa a âncora econômica e a garantia de crescimento e estabilidade. Isolados, eles seriam devorados pelos monstros do meu pesadelo. Juntos, imbatíveis. Sonho? Fantasia? Mas quem disse que o sonho de hoje não pode ser a mais concreta realidade do amanhã? Uma utopia com os pés no chão.