img_popup_94.jpgA locomotiva da economia global está voltando aos trilhos. Duas importantes organizações internacionais declararam nesta semana que o mundo iniciou a retomada. Na terça-feira 18, o economistachefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Olivier Blanchard, publicou um artigo em que afirma que começou a recuperação da mais profunda crise desde a Segunda Guerra Mundial. No dia seguinte, foi a vez de a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostrar que o Produto Interno Bruto (PIB) dos 30 paísesmembros se estabilizou no segundo trimestre de 2009, após um ano de queda.

A prova de que as coisas começam a melhorar é que a recessão deixou de ser um fantasma para países de peso na formação do PIB global. O Japão, segunda maior economia mundial, e a Alemanha, a quarta, voltaram a crescer, 0,9% e 0,3%, respectivamente, no segundo trimestre do ano em relação aos três meses anteriores. Na França, também houve expansão, de 0,3%, na mesma comparação. Nos Estados Unidos e Reino Unido, o PIB continua em queda, mas em menor ritmo se comparado aos trimestres anteriores. A velocidade de crescimento da economia global, no entanto, não será de um trem-bala.

i137405.jpg"O crescimento sustentado dependerá do desempenho dos mercados mais avançados"
Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia 2008

Os mercados emergentes devem superar a crise mais rapidamente, mas o mundo só voltará a crescer de forma sustentável com a recuperação definitiva dos países ricos, o que ainda é dúvida entre os economistas, apesar dos primeiros resultados positivos anunciados recentemente. "A economia internacional está no fim da recessão, mas no momento não foram criadas ainda forças suficientes para a recuperação", disse o Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman. De qualquer forma, o Brasil pode se beneficiar ainda mais nesse momento porque as exportações que representam dois pontos percentuais no nosso PIB já dão algum sinal de voltarem aos trilhos. O crescimento de países como Alemanha e Japão se deve aos estímulos fiscal e monetário, mas também ao reaquecimento do comércio sustentado pela demanda chinesa.

Do primeiro para o segundo trimestre, com agressivas políticas públicas de incentivo à economia, a China conseguiu acelerar seu PIB de 6,1% para 7,9%. Com mais importação, puxou outras economias, principalmente da Ásia. "O mundo está muito concentrado no desempenho chinês e por isso não estou tão otimista", diz Celso Grisi, professor da Faculdade de Administração, Economia e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP).

No ambiente doméstico, por outro lado, as economias avançadas ainda enfrentam dificuldades. Isso pode ser constatado na evolução do crédito, que segue em queda ou desaceleração por conta do endividamento das famílias e da baixa utilização da capacidade produtiva nas indústrias, o que significa menos investimentos. Nos Estados Unidos, o estoque de crédito ao consumidor, sem considerar as hipotecas, recuou 2% em junho na comparação anual. Na Zona do Euro, houve uma redução do ritmo de crescimento. O crédito para o consumidor, que crescia 2,3% no final do ano passado, agora está perto da estabilidade. "Os bancos ainda estão sofrendo o baque e há resistência para emprestar dinheiro", afirma Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria Integrada.

i137407.jpg"A economia mundial já começou o processo de recuperação da crise, mas a expansão ainda será fraca"
Olivier Blanchard, economista-chefe do FMI

Nesse cenário, a expectativa é de que o mundo retome os patamares de crescimento mais próximos ao do período pré-crise somente daqui a três ou quatro anos. A Tendência prevê uma expansão da economia de 4% apenas em 2015. Enquanto isso, o mundo conviverá com taxas mais modestas de expansão. E enfrentará o desafio de equilibrar as contas públicas depois de os governos darem uma inédita injeção de capital para salvar bancos e garantir a circulação de dinheiro na economia. A conta chega a US$ 10 trilhões e terá de ser paga em algum momento. Países como EUA, Reino Unido e Japão devem encerrar o ano com um rombo superior a 10%.

Entre as economias desenvolvidas, o destaque é a Alemanha. Além de liderar o crescimento na Europa, o país sai da recessão com um déficit fiscal projetado em 4,6% do PIB este ano. "Os países estão respondendo por sua eficiência econômica. A Alemanha tem um sistema financeiro e um parque industrial desenvolvidos, além de déficit público sob controle", afirma Ernesto Lozardo, da Fundação Getulio Vargas. A consolidação de um crescimento sustentável passa ainda pela reformulação do sistema financeiro para que os erros não se repitam. Esse será um dos temas centrais da reunião do G20, em setembro, em Pittsburgh (EUA). "A crise estrutural do capitalismo ainda precisa ser resolvida.", diz Antônio Corrêa de Lacerda (PUC-SP)