i137409.jpg

"Não houve encontro. A senhora Lina foi leviana"
Dilma Rousseff, ministra da Casa Civil

A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, vive o pior momento de sua précandidatura à sucessão presidencial. Pela primeira vez, desde que o presidente Lula a lançou como sua favorita, ela parou de crescer nas pesquisas. E cometeu uma sequência de erros que revela seu pouco traquejo político. "A Dilma precisa começar a se comportar como candidata", disse o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), em conversa com aliados. Era uma referência direta à arrogância e à impulsividade da ministra.

Dilma nasceu em Minas Gerais, mas no episódio mais rumoroso da semana, o suposto pedido para que a Receita Federal agilizasse uma investigação contra o filho do senador José Sarney, não agiu como manda o manual dos políticos mineiros. No lugar de simplesmente dizer que gostaria de ver concluída (com condenação ou não) uma investigação que poderia comprometer uma instituição da República, como de fato ocorreu no Senado, Dilma optou por negar o diálogo e agredir verbalmente uma funcionária. "Não houve encontro", disse ela sobre a suposta audiência, no final do ano passado, com a então secretária da Receita, Lina Vieira. "A senhora Lina foi leviana."

No final, foi a negativa de Dilma que deixou no ar a suspeita de que o governo gostaria de abafar a investigação contra a família Sarney. "Não mudo a verdade no grito. A reunião existiu", reagiu Lina, na terça-feira 18, em depoimento à Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Embora não tenha dito a data em que o encontro ocorrera, a ex-secretária da Receita descreveu detalhes de seu acesso à Casa Civil, como o portão e o elevador utilizados e o nome do motorista que a transportou. Na sequência do depoimento, o governo afastou de postos de comando da Receita três pessoas ligadas a Lina. E o motorista, vinculado a uma empresa terceirizada do Ministério da Fazenda, pediu demissão. "Trata-se de uma retaliação mesquinha, fruto da cegueira desse governo", afirma o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). "Revela o viés autoritário do PT e da candidatura Dilma."

Para quem precisa construir aliados, o segundo erro de Dilma foi o de alongar a confrontação. Tão logo terminou o depoimento de Lina no Senado, a ministra queria emitir uma nota pública contestando mais uma vez o suposto encontro. A nota só não foi divulgada porque o presidente Luiz Inácio Lula da Silva impediu. Até a tarde da sexta-feira 21, o governo se recusava a revelar a agenda da ministra no final de 2008 e as gravações feitas pelas câmeras da Casa Civil. As frequentes intervenções de Lula, ora para inflamar a candidatura de Dilma, ora para apagar seus incêndios, mostram que a candidata ainda não tem fôlego para voar sozinha. E é justamente isso que tem suscitado um debate interno na cúpula do PT.

No início do mês, por exemplo, o encerramento de um grande encontro entre militantes da capital e do interior de São Paulo deveria servir de pano de fundo para uma espécie de apresentação de Dilma às bases do PT paulista. Mais de cinco mil pessoas aguardavam a ministra, munidas de faixas e bandeiras na quadra do Sindicato dos Bancários. Dilma atrasou mais de duas horas. Segundo um dirigente nacional do partido, ela fez um pronunciamento amorfo e sem emoção. "Ela não pode mais incorrer no erro de deixar as pessoas esperando nos eventos", foi se queixar Berzoini a um auxiliar direto de Lula. "Esse é um dos piores momentos da pré-campanha de Dilma", reconheceu o auxiliar de Lula.

Na mesma semana da decepção da militância paulista, Dilma se desentendeu com a subchefe de articulação e monitoramento da Casa Civil e secretária-executiva do PAC, Miriam Belchior. De acordo com uma testemunha, o tom subiu a ponto de assessores temerem por uma real briga física entre as duas. A razão da divergência era a liberação de recursos para as cidades que irão sediar a Copa do Mundo em 2014. Miriam, viúva do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel, é responsável pela articulação com prefeitos e governadores sobre os investimentos para a Copa. Logo depois, ela detectou um derrame no olho direito, pediu férias de 15 dias e na quinta-feira 20 embarcou para a França. "Saio de férias para tomar um fôlego", disse à ISTOÉ. Sobre a discussão com a ministra, negou o desentendimento. "Não houve briga com a Dilma", disse. Mais uma vez, caberá a Lula intervir por conta do problema: na próxima semana, prefeitos de nove capitais que se

i137408.jpg

"Não mudo a verdade no grito. A reunião existiu"
Lina Vieira, ex-secretária da Receita

diarão a Copa irão ao presidente pedir agilidade na definição dos recursos do governo federal para obras nas cidades.

 

Se Lula via na candidatura de uma mulher um símbolo para um novo tempo, não deixa de ser curioso que o pior momento de Dilma tenha sido causado justamente por outras mulheres. Além dos embates com Lina Vieira e Miriam Belchior, Dilma vê agora esse simbolismo se contrapor à senadora Marina Silva (AC). "A ministra tem os pontos de vista dela e eu os meus", disse a senadora durante o anúncio de desfiliação do PT na quarta-feira 19, reforçando a impressão de muitos dirigentes petistas que creditam a Dilma a perda de Marina. Na visão da cúpula partidária, Dilma só tem um caminho para sair bem dessa briga de mulheres: transferir atribuições administrativas no governo para auxiliares e pessoas de sua confiança, e se dedicar mais aos eventos políticos.

O partido quer que a ministra defina desde já uma espécie de alto-comando da campanha, mas o temperamento de Dilma tem contribuído para o enrosco nas definições. São poucas as pessoas em quem ela confia. Uma delas é a secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, que sonha ser premiada com um cargo vitalício no Superior Tribunal Militar (STM). Entraria na vaga do ministro Flávio Bierrenbach. Mas a possível indicação causou uma celeuma enorme no STM, pois, enquanto Bierrenbach provém de uma família tradicional do meio jurídico, Erenice é desconhecida como advogada. "Acho que há muitas outras pessoas com nível intelectual e jurídico que deveriam ser consideradas antes dela", avalia o ex-ministro do STM almirante Júlio de Sá Bierrenbach, tio de Flávio. Dilma, que já fracassou ao tentar nomear a fiel Erenice para o TCU, pode sofrer um novo revés.