– É isso ou concordata.
Dita sem rodeios, a frase abateu os ânimos dos 110 funcionários remanescentes da leva de 500 contratações feitas no Brasil pelo provedor de internet America Online, o Aol. Eles faziam uma espécie de assembléia, com o presidente Milton Camargo no meio da roda, quando souberam que a empresa fecharia as portas se não aparecesse um comprador. Era o começo do fim. Depois de um desembarque arrojado, em 1999, ancorado em planos de rapidamente liderar o mercado brasileiro de acesso à internet, a conquista do País fracassara. Em junho do ano passado, logo após a melancólica assembléia, o sofisticado centro de operações que ocupava dois andares no edifício American Business Park, numa das áreas comerciais mais nobres de São Paulo, foi evacuado. Agora, ali, o antigo burburinho do dia-a-dia de trabalho dá lugar ao silêncio das cadeiras vazias e mesas limpas. Telefones, computadores e gente foram transferidos para a distante Santo André, a mais de 25 quilômetros. “O que restava do nosso ânimo acabou ali”, diz um dos funcionários. “Vi colegas às lágrimas.”

Na terça-feira 7, a agonia do Aol, que em seus seis anos de operações consumiu investimentos de US$ 155 milhões, chegou ao fim. Num comunicado de 33 linhas aos 200 mil assinantes, os responsáveis pelo provedor informaram que todas as atividades no País serão encerradas na sexta-feira 17. Até a sede de Santo André será fechada. O portal irá para o buraco negro, arrastando consigo as páginas de blog, os sites pessoais, as salas de bate-papo e o serviço de e-mails. Os milhões de megabytes gravados em seus discos rígidos, com todas aquelas fotos de gente sorrindo, serão deletados. Os assinantes, convidados a aderir ao provedor Terra, que pagará ao Aol segundo o volume de adesões. Nesta operação-saída, impera a lei do silêncio. Os diretores não atendem a ligações. Os funcionários temem represálias, caso contem seus dramas. Na recepção na sede de Santo André, a ordem é não deixar ninguém entrar. Um assessor diz que o que havia para dizer está no comunicado aos assinantes: “Foi um prazer e uma honra ter você como cliente.”

No seu calvário brasileiro, o Aol sofreu a primeira queda em 2003, quando cortou 200 funcionários. Em maio de 2005, dispensou mais 80 e extinguiu os departamentos comercial e de marketing. Cessou naquele instante toda e qualquer publicidade do portal. Investimentos em tecnologia foram suspensos. Emagreceram as equipes de conteúdo e de atendimento ao cliente. Em junho, novo baque: os 110 funcionários remanescentes receberam o aviso de que teriam de evacuar o elegante prédio high tech em São Paulo. Era o Aol pagando por seus pecados originais. Com 35 milhões de assinantes nos EUA e a firme liderança no mercado de provedores, a companhia ancorou por aqui certa de ser melhor que seus concorrentes. Sua propaganda insinuava que quem não optasse pelo provedor iria sair perdendo, tantas eram as suas vantagens. Na prática, as promessas logo morreram. Para acessar o Aol era necessário um software próprio. A empresa distribuiu milhões de CDs para os usuários instalarem o programa em seus computadores, mas a primeira leva saiu com um defeito que alterava a configuração das máquinas. Milhares desses CDs continham, ainda, gravações do grupo de pagode Raça Negra. Humilhação no mercado, frustração entre o público. Reclamações aos borbotões.

O irônico da história é que, apesar da empáfia e dos erros infantis, a operação
do Aol no Brasil foi lucrativa nos últimos dois anos. Funcionários receberam um salário a mais, nesse período, por conta da participação nos lucros. O problema
é que essa operação faz parte de uma única empresa, a Aola (América Online
Latin América), que acumulou prejuízos na Argentina, México e Porto Rico e somou dívidas estimadas em US$ 182 milhões. Números exclusivos sobre a operação brasileira nunca foram divulgados. Na Argentina e México há uma negociação em andamento. A sede de Porto Rico foi incorporada pela Aol americana. No Brasil,
os fãs do provedor, reunidos em comunidades do Orkut, como os Ex-Aol e Dinossauros da Aol, parecem perdidos. “Ainda não sei para onde vou, vai depender dos preços”, diz a estudante Alessandra Bertoni. Ao Aol, como está nítido, faltou entender o Brasil e os brasileiros.