Lula, quem diria, está presente no coração da campanha de José Serra. Um dos cérebros do programa de tevê do candidato tucano, o diretor de criação Paulo César Bernardes, é um verdadeiro clone do petista Luiz Inácio Lula da Silva. O barbudo PC, como é chamado na produtora de som MCR, onde é diretor, faz a alegria da rapaziada tucana, arrancando risos até mesmo do sisudo Serra, ao incorporar a alma do petista, imitando perfeitamente sua característica voz rouca. “PC é um grande imitador de Lula. Melhor do que o próprio Lula”, elogia Serra. “Sou músico e sei imitar vozes. Sempre que encarno o Lula, o faço com todo o respeito. É uma brincadeira que descontrai o tenso ambiente de campanha”, explica. Quando é confundido com o petista, não perde a chance de fazer piada. “Eu ajudava a coordenar a campanha presidencial de FHC em 1998 e quando saía do Palácio do Alvorada os jornalistas olhavam assustados, pensando que o Lula estava dentro do carro”, lembra PC, que aproveitava para mostrar que, além de parecido, também sabia falar como o petista.

Aos 40 anos, PC é conhecido mesmo pelo talento na criação de jingles. Ele e o publicitário Nelson Biondi, coordenador geral de marketing, são os cabeças da campanha televisiva tucana. Mas foi com o publicitário Nizan Guanaes que PC criou os jingles Rumos claros e Levanta a mão, utilizados na campanha à reeleição de Fernando Henrique Cardoso e no programa de TV do PSDB, apresentado na primeira semana deste mês. O exigente Serra não mede adjetivos para elogiar seu assessor. “O PC é o rei dos jingles. É fabuloso nisso”, aplaude. Amigo de Nizan, há 25 anos, com quem chegou a dividir o teto, o carioca PC garante que o baiano não participa da campanha de Serra. “É claro que por ser ligado ao PSDB, Nizan não está no Alasca. Ele tem uma proximidade”, ressalta. Nos bastidores, sabe-se que Nizan e Serra não se bicaram na campanha de 1996, quando o tucano foi candidato a prefeito de São Paulo.

Quando não faz campanha eleitoral, PC compõe, toca e canta jingles comerciais. Também chegou a lançar um disco de música new age chamado Feng shui. Ele rebate a fama de que Serra seja um político difícil de lidar, antipático e frio. “Há oito anos conheço o Serra. Ele não é nada disso. As pessoas confundem antipatia com falta de expansividade. Ele é uma pessoa reservada nos seus assuntos pessoais, mas é carinhoso com as pessoas que o cercam”, afirma PC, que fez as duas campanhas de FHC, em 1994 e 1998. Ele adianta que Serra será mostrado tal como é na campanha. “O brasileiro evoluiu muito politicamente e na hora de votar não compra mais qualquer coisa. Já tivemos um simpático no Planalto e o período Collor não foi nada bom”, argumenta. Mas Serra, de fato, é exigente ao extremo. “Ele quer participar de tudo e pergunta sobre tudo. É bom que a explicação não seja burra. Se sua resposta for boa, tudo bem. Mas ele não engole pílula sem saber o seu conteúdo”, explica. Talvez o segredo de sucesso de PC seja justamente o bom humor em doses generosas. Assim, tudo fica mais fácil. Até mesmo dobrar o turrão Serra.

Embolou Geral

Se alguma das principais candidaturas não for abalada por mais um terremoto, a disputa pela Presidência em outubro será mais acirrada do que se imagina. Em pesquisa realizada pela Toledo & Associados, que entrevistou 955 pessoas entre os dias 1º e 7 de março, na cidade de São Paulo, Lula, Serra e Roseana aparecem tecnicamente empatados no primeiro lugar, com, respectivamente, 19,8%, 18,8% e 17,6%. A grande novidade é o avanço de Serra, que ganhou força depois que a Polícia Federal encontrou R$ 1,3 milhão no cofre da empresa Lunus, de propriedade da governadora maranhense.

Em outra simulação, o senador paulista Eduardo Suplicy surpreende. Como candidato do PT, num cenário em que Itamar Franco (PMDB) apoiaria Ciro Gomes (PPS), Suplicy ficaria à frente de Serra com um percentual maior que o de Lula: 24,9% contra 18,8%. Na mesma disputa, com o apoio do governador mineiro, Ciro teria 11,8% dos votos, o que significa um crescimento de 50%. A pesquisa revela que apenas 22% dos eleitores escolheram seu candidato à Presidência e, destes, os que pertencem às classes A e B são os que mais decidiram (59%).

Na corrida pelo governo paulista, Paulo Maluf (PPB) sai na frente, com 28,3% dos votos contra 21,4% do governador Geraldo Alckmin (PSDB). José Genoíno vem em terceiro lugar, com 9,1%. Maluf, segundo a pesquisa, é mais forte entre os eleitores das classes D (30%) e E (35%), enquanto Alckmin lidera na preferência das classes A (35%) e B (29%). O tucano José Serra também é o favorito dos paulistanos mais abonados: 50% da classe A votariam no candidato governista para a presidência, contra 10% em Lula e 10% em Roseana. Como é aí que estão os mais esclarecidos, natural que Serra tenha 32,1% dos votos entre os eleitores que possuem curso superior completo, enquanto Lula é o que mais agrada entre os que têm primeiro grau incompleto (21,7%). Neste quesito, Roseana só lidera no eleitorado com segundo grau completo (21,2%). A pesquisa também perguntou aos entrevistados quais são os maiores problemas brasileiros. E ganhou o desemprego, com 57,5%. Em segundo lugar ficou a violência, com 43,5%. A pena de morte já tem o apoio de 62,8% dos paulistanos.