08/02/2006 - 10:00
O governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, do PMDB, é um otimista. Na última pesquisa do Instituto Ibope, seu patamar de intenção de voto para a Presidência da República oscila entre 2% e 3%. Mas isso não parece abatê-lo. Para Rigotto, esse mau começo é um filme já visto. Foi assim quando se elegeu para o governo do Estado em 2002. Saiu de um porcentual também de 2% para quebrar a polarização que havia entre o PT do então governador Olívio Dutra e o PPS do ex-governador Antônio Britto. Rigotto acredita que a atual situação nacional é idêntica: uma polarização entre duas forças políticas já testadas e, acredita ele, igualmente rejeitadas pelo eleitorado. PT e PSDB, claro. Ele imagina ser possível o surgimento de uma novidade e pretende ocupar esse espaço. Para isso, aposta numa campanha em que o PMDB aponte caminhos para o País superar a política econômica que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva herdou da administração anterior e, segundo Rigotto, aprofundou. Em sua plataforma, o governador prega pacto de preços e controle de capitais. Para levar suas bandeiras aos eleitores, porém, Rigotto ainda precisa convencer o PMDB de que sua candidatura é viável e vencer, no partido, duas forças poderosas: os que preferem abraçar a candidatura Lula e o ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho, que também aposta em se consolidar como a terceira via na sucessão presidencial.
Em primeiro lugar, porque não concordo com a reeleição. Na última pesquisa realizada no Estado, ganho em todos os cenários com folga. A aceitação ao meu governo é excelente. Mas tenho uma posição clara sobre isso: acho que oito anos é tempo demais. Segundo, a Presidência é um desafio que me atrai. Minha candidatura sai atrás, mas vai crescer. Serei a novidade nesta eleição.
Esses números não me surpreenderam. Eu tinha certeza de que sairia de um porcentual baixo. Fiquei com meu trabalho restrito ao Rio Grande do Sul, um Estado que está no extremo sul do Brasil. Não está no eixo Rio–São Paulo–Minas. É natural que eu apareça com um porcentual baixo em qualquer pesquisa de opinião. Mas tenho convicção de que posso crescer porque a presença do PMDB na eleição qualifica o processo eleitoral. Podemos ser a surpresa necessária, formando uma coalizão de centro-esquerda. O quadro eleitoral ainda vai se alterar. Há quatro meses, o presidente Lula era imbatível. Hoje, não se tem certeza de que será candidato. Com a atual situação no Brasil, todos temos chances.
Apesar de a expressão ser batida, não há como apresentar de outra forma. Hoje, temos dois partidos que estão polarizando a eleição e que vão completar 12 anos no poder. Se olharmos as amarras que temos na economia, o desenvolvimento pífio, vamos ver que existem razões para que algo novo surja.
Não estamos enfrentando como deveríamos as reformas sociais. Não estamos gerando os níveis de emprego e de renda que poderíamos gerar. O PT e o PSDB podem apresentar projetos semelhantes aos nossos, mas eles já tiveram a oportunidade de fazer isso e não fizeram. Precisamos mudar as atuais políticas econômica e cambial conservadoras.
Temos uma política que vem tratando os juros de forma tacanha. Poderíamos ter uma Selic caindo mais rápido sem comprometer a austeridade no combate à inflação. Hoje, temos os juros mais altos do mundo que resultam num real artificialmente valorizado. Isso diminui a competitividade. Quantas empresas perderam oportunidades de continuar exportando após conquistar o mercado internacional? Não dá para continuar assim.
Em vez de arrocho fiscal, temos de ampliar os gastos em infra-estrutura para fazer a economia girar e arrecadar sem pesar mais o bolso do contribuinte. No lugar dos juros altos, podemos fazer uma pactuação de preços entre governo e empresários. Outro ponto é o controle dos fluxos de capitais. O Brasil está sendo inchado por dinheiro especulativo que só vem parar aqui por conta dos juros.
Ele está fazendo um pré-programa para o partido. Não é um programa
para esse ou aquele candidato. Ainda assim, suas idéias serão avaliadas por
uma comissão do PMDB, que definirá qual será o caminho que poderemos adotar para vencer as eleições. Mas creio que as idéias do professor Lessa devem ser levadas em conta.
É claro que aqueles que se apresentarem com um discurso de crescimento e desenvolvimento, e que já tiveram a oportunidade de fazer e não fizeram, vão ter muito menos credibilidade ao apresentar suas propostas. Quem
não foi presidente ou ocupou qualquer outro cargo no governo federal tem
condições de apresentar uma alternativa que represente um caminho novo
em termos de desenvolvimento.
Realmente, em 2003 e 2004 conseguimos bons números, mas em 2005 foi uma desgraça. Perdemos 74% da safra de soja, 72% da safra de milho e isso afetou a indústria, o comércio e os serviços. Tivemos problemas no setor calçadista por conta dos chineses, no setor de maquinário, e por conta das perdas dos agricultores. E mesmo assim vamos crescer mais do que a média nacional. O nome disso se chama atração de investimentos.
Outro dia eu estava conversando com uns empresários e fui bem claro: não podemos mais viver na ilusão do regime militar de que o Estado investe sozinho em infra-estrutura. É óbvio que o governo federal não está investindo quase nada. Mas poderia ter feito muito mais se tivesse se preocupado com as Parcerias Público-Privadas. Elas são uma forma de termos dinheiro para investir no que os empresários pedem. E o governo deveria ter visto isso. No Rio Grande do Sul, estamos fazendo uma PPP para a revitalização do cais do porto. E estamos encaminhando uma outra para a linha férrea entre Pelotas e Porto Alegre.
Precisamos definir de uma vez por todas as obrigações de cada um dos três entes federativos. As reformas tributária e fiscal, de extrema importância para os Estados, vêm sendo boicotadas desde o governo Fernando Henrique Cardoso. E o presidente Lula ratificou essa política. Não podemos mais enfrentar uma situação em que os Estados fiquem a cada final de ano dependentes de um favor do governo ou do Congresso para ter os recursos da desoneração. Em 1997, no início da Lei Kandir, tínhamos US$ 26 bilhões de exportações e US$ 3,2 bilhões de ressarcimento. As exportações passaram para US$ 98 bilhões em 2004, e os recursos subiram para US$ 4,8 bilhões. Em 2005, eles foram de US$ 5,2 bilhões. É uma situação em que as exportações crescem e os recursos de reposição de perda dos Estados ficam estagnados. E a solução para isso, ainda mais depois desse excesso de arrecadação, não é uma coisa tão difícil. Uma lei complementar pode determinar essa regulamentação.
O problema não é a arrecadação. Ela é até saudável. Mostra que o governo conseguiu costurar o sistema para combater a sonegação que ainda é muito alta. O problema da arrecadação é a despesa. O governo precisa entender, de uma vez por todas, que não há santo que faça milagre quando o assunto é dinheiro. Precisa enxugar a máquina que exaure o dinheiro público.
Não só do custeio. Mas de todo esse aparelhamento do Estado. Chegou-se a falar na redução dos cargos de confiança. Caíram de 22 mil para sete mil, se não me engano. Ainda assim, não precisamos de tudo isso. O governo tem de trabalhar para o povo e não para os amigos.
Garotinho está andando pelo Brasil mais do que eu. Já foi candidato à Presidência e tem bons índices nas pesquisas. Mas, a partir de agora, eu terei a oportunidade de fazer tudo isso também.
O PMDB não deve ter dúvida de que precisa ter candidato próprio. Será a recuperação da imagem do partido, que perdeu sua identidade, adquiriu os rótulos do fisiologismo e do clientelismo. Os dirigentes contrários à eleição interna estão cometendo um erro terrível.
O presidente Lula tem dificuldades enormes de ser candidato. Se eu tivesse de apostar, apostaria até que ele não vai disputar a Presidência. Isso não significa que eu prefira não enfrentá-lo. Ele é o nome mais forte no PT. É o presidente da República. Aparece bem nas pesquisas. Mas corre um risco grande. Pode se desmoralizar se perder. Não significa que, daqui a quatro anos, ele não possa de novo tentar uma candidatura à Presidência. Eu não vejo hoje o presidente Lula com convicção de que deseja disputar a reeleição. Ele tem uma sensibilidade política muito grande e sabe que, mesmo ganhando a eleição, chega extremamente fragilizado no seu segundo mandato. Como é que ele governa? Com dificuldade de formar uma base de sustentação sólida. A própria campanha eleitoral vai fragilizá-lo. E essa disputa entre o Alckmin e o Serra? Como é que ela terminará? Como o derrotado vai assimilar a vitória do outro? Não sei.
Mas eu tenho um problema sério, nesse caso. Como é que vou me desincompatibilizar em 31 de março sem saber se serei ou não candidato? O que eu faço se sair do governo e, depois, não for escolhido na prévia? Não posso deixar o jogo estar decidido para sair do governo.