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A terra da parrilla já não é mais a mesma. Os tradicionais cortes de carne argentina, como ojo de bife, assados de tira e bife ancho, estão perdendo lugar nas mesas da capital, Buenos Aires, para brotos de feijão, saladas e derivados de soja. Com a crise econômica, agravada pela debandada de turistas atormentados pela gripe suína que castiga a região, caiu drasticamente o movimento nos restaurantes típicos portenhos. Pratos vegetarianos, muito mais baratos, estão ganhando um espaço que não se imaginava. Pelo menos num país com fama de ser um dos mais carnívoros do mundo. Para dar um colorido às novas casas, elas têm influência da culinária asiática, como a indiana e a chinesa, por exemplo.

O governo argentino não divulga a produção de carne em 2009, mas um dos indicadores informais que abalizam o pessimismo dos pecuaristas é a proporção da quantidade de novilhos abatidos para o corte e a dos que são mantidos para reprodução. A parcela destinada ao abate foi a maior das últimas três décadas. Menos reses para reprodução significa que os produtores estão receosos de investir na criação.

Nesse cenário, o florescimento dos vegetarianos é a facada final no orgulho gastronômico argentino. Raridade há alguns anos, atualmente há dezenas de restaurantes verdes em Buenos Aires, todos opções muito mais baratas do que as casas de parrilla, naturalmente caras por demandar manutenção e infraestrutura complexas. O argentino Guillermo Ávila, dono do Ávila Restaurante, em São Paulo, especializado em parrilla, vê com desgosto essa tendência. “Eles enlouqueceram”, afirma. Mas reconhece que o momento econômico do país tornou o consumo da carne mais difícil. “Hoje é muito caro para um argentino comer um churrasco. Como os restaurantes sofrem uma influência forte do turismo, o preço vai parar nas nuvens.”

A gripe suína também fez seu estrago. Belarmino Iglesias Filho, do grupo paulista Rubayat, afirma que o movimento no Cabaña Las Lilas, a filial de Buenos Aires, caiu 40% em julho, auge da pandemia no Hemisfério Sul. “Em agosto, a queda foi menor: 25%.” Iglesias não se impressiona com a moda e acredita que, se a carne baixar de preço, o consumo volta ao normal. “O argentino é um parrilheiro como o brasileiro é um técnico de futebol. Nisso não se mexe.” O portenho médio deve consumir 57 quilos de carne neste ano, bem menos do que os 68 quilos de 2008. Por enquanto, com refeições vegetarianas sendo vendidas por menos da metade do preço de uma parrillada, só os turistas devem continuar cedendo aos prazeres da carne.

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