i135970.jpg

O senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) é candidato único a uma vaga da Academia Alagoana de Letras (AAL) e, obviamente, será chancelado imortal em eleição esta semana.

A obra literária de Collor ainda não é visível: ele pretende lançar dois livros – um com os discursos feitos na vida pública e o outro, intitulado "A Crônica de um Golpe – A Versão de Quem Viveu o Fato", com seu relato sobre o impeachment que o tirou da Presidência da República, em dezembro de 1992, pouco mais de dois anos depois de eleito.

A articulação de seu nome para a vaga aberta com a morte do poeta Ib Gatto, no ano passado, foi do escritor e promotor de Justiça aposentado Ivan Barros e conta com a adesão de todos os 40 membros da AAL. Barros aponta um terceiro e importante motivo para a indicação: "Collor é dono de uma empresa de comunicação (o jornal "Gazeta de Alagoas", entre outros) poderosa." O avalista do senador alagoano ressalta sua capacidade de liderança política e seu pendor intelectual e se orgulha da iniciativa: "Eu persuadi dois candidatos que queriam concorrer a desistir".

Fora das belas paredes da instituição, entretanto, o clima é outro. "Não há legitimidade. Os requisitos deveriam ser literários e não políticos, ou por ele ser dono de jornal ", reage o advogado Adriano Argolo. Coordenador do Movimento Social de Combate à Corrupção Eleitoral em Alagoas, Argolo diz que a indicação de Collor à obscura AAL é uma estratégia política eleitoral para "ensaiar sua volta ao governo do Estado de Alagoas", patrocinado pelas "oligarquias alagoanas e pela política de coronelismo que reina no Estado."

i135971.jpg

Outro conterrâneo, o poeta Lêdo Ivo, membro da Academia Brasileira de Letras, (ABL) diverge. "Ele preenche as condições. É autor de vários discursos, vai lançar um livro. Espero que entre, depois, para a ABL", disse. Avesso a qualquer academia, o poeta maranhense Ferreira Gullar apenas suspira e comenta: "Hoje, os critérios para entrar numa instituição dessa são os mais variados. Não me espanta que ele entre sem ter escrito nada. Está errado. Mas é assim que é agora."

 /wp-content/uploads/istoeimagens/imagens/mi_5281082893260475.jpg