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VOTO VERDE Marina Silva aparece com índices de 12% a 24% nas pesquisas

Na segunda quinzena de junho, a cúpula do Partido Verde realizou uma reunião no Rio de Janeiro para discutir a estratégia eleitoral para 2010. O encontro teve como cenário a casa do vice-presidente do PV, Alfredo Sirkis, no bairro de Laranjeiras, e estavam presentes, além do anfitrião, José Luiz Penna, presidente nacional do partido, Sérgio Xavier, de Pernambuco, e Marco Antônio Mroz, diretor da Fundação Verde Herbert Daniel. Todos integrantes da Executiva Nacional. "O PV deve ter uma candidatura presidencial em 2010 para se afirmar no quadro político nacional e reforçar o ideário verde internacional", sugeriu Sirkis. "Só um nome pode personificar a nossa bandeira: é o de Marina Silva", disse Penna, que recebeu a imediata concordância dos demais. Nasceu ali a surpreendente candidatura da ex-ministra do Meio Ambiente à Presidência da República. No dia 8 de julho, tanto a tese de Sirkis quanto o nome da candidata foram aprovados em reunião oficial da Executiva e, três semanas depois, houve o convite formal.

Fotos: Roberto castro/Ag. ISTO É; Divulgação

A decisão do PV provoca uma reviravolta na sucessão de 2010. Tudo caminhava para a repetição de um cenário que se desenha desde 1994, quando Fernando Henrique Cardoso chegou à Presidência. O sucessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pertenceria fatalmente ao PSDB ou ao PT, os dois partidos hegemônicos da política nacional nos últimos 15 anos. A disputa tinha tudo para ganhar caráter plebiscitário cujo desfecho poderia até se dar no primeiro turno das eleições, no dia 3 de outubro. De um lado, a candidata do governo, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. De outro, o governador de São Paulo, José Serra, ou o de Minas Gerais, Aécio Neves, ambos aspirantes ao Planalto pelo PSDB. Mas a provável filiação ao PV da ex-seringueira e senadora Marina Silva para entrar no jogo da sucessão de Lula entusiasmou parte da opinião pública que clama por mudança na política fora do discurso tucanopetista. Ela trouxe o imponderável para uma eleição que tem como ingrediente fundamental o fato de, pela primeira vez, em 21 anos, Lula – e sua antítese, o anti-Lula – estar fora da disputa.

Levantamento feito pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), por encomenda do PV, mostra que a candidatura de Marina não só é viável como pode ameaçar a polarização PT-PSDB. Em dois dos quatro cenários, a ex-ministra aparece na frente de Dilma. "A pesquisa é surpreendente", disse à ISTOÉ o coordenador da consulta, o cientista político Antônio Lavareda. Sem a presença da ex-senadora Heloísa Helena (PSOL) e do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) na disputa, Marina derrotaria, com 24% dos votos, a ministra Dilma, que ficaria com 16%. José Serra, neste caso, apareceria com 37% dos votos. Com Serra e Ciro fora da disputa, Marina aparece na casa dos 24%, mas em empate técnico com Aécio, pois a pesquisa tem margem de erro de 2,2 pontos percentuais. Dilma ficaria com 19%. Os números revelaram ainda forte presença de Marina nas classes A e B. "Não há dúvida que a candidatura é competitiva e viável", diz Lavareda. "A pesquisa mostra de forma inequívoca que a senadora transcende a classe média, o voto de protesto e entra bem no Nordeste", acrescenta Sirkis, ressalvando que o alcance do levantamento, por ter sido feito por telefone, e ouvido um contingente de duas mil pessoas, não é o mesmo do de uma pesquisa tradicional. "Estamos apenas numa fase primitiva da campanha", lembra ele.

"Marina pode mudar a eleição. É uma novidade, tem boa imagem e abraça a causa do meio ambiente, que hoje é prioridade no mundo", diz Carlos Augusto Montenegro, do Ibope. "Ela muda o cenário por ser claramente uma figura com imagem positiva, biografia respeitável e com entrada em certos setores de esquerda", faz coro o cientista político Fábio Wanderley Reis, da Universidade Federal de Minas Gerais. Com a movimentação política de Marina, espera-se que os partidos defendam seus projetos no primeiro turno e, valorizados pelos resultados das urnas, montem as composições do segundo turno. É assim que a vontade do eleitor é transformada em decisão política. O fator Marina torna o horizonte eleitoral ainda mais nebuloso na medida em que tem potencial para esfacelar o PMDB, até então a noiva preferencial da sucessão. "A Marina vai causar uma revolução na eleição", endossa o experiente senador Pedro Simon (PMDB-RS), para quem o partido, com o surgimento de novas candidaturas, pode ficar mais refém de suas conveniências regionais, em detrimento de um projeto nacional.

O primeiro sinal de que a entrada da senadora no jogo sucessório embaralha as cartas para 2010 foi a realimentação, nos últimos dias, das ambições presidenciais de políticos até então intimidados diante de um cenário que parecia consolidado.

Fotos: Joédson Alves, ANDRÉ DUSE K - Ag. IstoÉ
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"Marina não reúne atributos importantes para um candidato à Presidência"
Marcos Coimbra, do Instituto Vox Populi

FOTOS: PABLO JACOB/AG. O GLOBO; JOÉDSON ALVES/AG.

 DIVIDIDO Gabeira: dois palanques na candidatura ao governo

Mas há quem desconfie da força de Marina. "É uma candidatura muito setorizada. A sociedade necessita mais do que uma única bandeira", critica o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), que travou vários embates com Marina. Para o presidente do Instituto Vox Populi, o cientista político Marcos Coimbra, a candidatura dela à Presidência pode não ter o impacto que se imagina. "Marina não reúne atributos importantes para um candidato à Presidência, como densidade política, condições de governar e imagem de quem tenha uma pauta mais ampla de preocupações", diz Coimbra. "É uma candidata ligada a um tema só." Coimbra lembra que Heloísa Helena, em um momento de maior "vulnerabilidade" para o partido de Lula, em 2006, teve 6,5 milhões de votos. "Dificilmente a Dilma perde um voto para Marina", conclui Coimbra. A pesquisa, no entanto, mostra que Marina tira, sim, votos de Dilma, de Ciro e de Heloísa, principalmente no Nordeste e no Centro-Oeste. A candidatura do PV foi tema de várias reuniões no PT durante a semana. Uma delas com a presença do presidente Lula. Na avaliação da cúpula do partido, Marina pode mesmo avançar sobre o eleitorado em potencial da ministra da Casa Civil. "Ela tem um perfil mais próximo do eleitor do PT", admitiu o presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini. Para os petistas, outro ponto que também poderá prejudicar a eleição de Dilma ao Planalto é o fato de Marina ser ex-ministra de Lula, o que lhe dá munição para tecer críticas contra o governo.

PORQUE O NOVO SEMPRE VENCE

Fotos: José Cruz/ABR ; Biô Barreira; ROBERTO CAST

MUDANÇA Collor e Lula em debate na campanha de 1989

A análise das vitórias dos três presidentes eleitos depois da ditadura revela que, no Brasil, o novo sempre vence. Novo, no caso, não é questão de idade nem de experiência. Em 1994, Fernando Henrique tinha 63 anos, contra 48 de Lula. E em 2002, Lula bateu um candidato mais velho (José Serra, 60) e dois mais novos (Anthony Garotinho, 42, e Ciro Gomes, 44). Fernando Collor tinha sido governador de Alagoas e FHC ministro das Relações Exteriores e da Fazenda antes de se elegerem. Lula tinha apenas um mandato de deputado constituinte quando superou três vastos currículos no mundo da administração pública.

Neste ano, completam-se duas décadas da marcante primeira eleição da redemocratização. Em 1989, havia 22 candidatos e há pouco mais de um ano da data da eleição (como agora) ninguém apostava que o segundo turno se daria entre Collor, o novo da direita, e Lula, o novo da esquerda. Quem mandava no noticiário e nas articulações políticas eram as grandes forças estabelecidas. Ulysses Guimarães, do PMDB, e Aureliano Chaves, do PFL, tinham as duas maiores máquinas partidárias do País. Ulysses teve 4% dos votos, Aureliano menos de 1%.

O bicho-papão se chamava Leonel Brizola (PDT), visto (e temido) como alguém fadado a ser presidente. Perdeu a chance de chegar ao segundo turno por 450 mil votos. Em 1994, teve apenas 3% dos votos e acabou como vice de Lula na eleição seguinte. Collor era novo porque trouxe à tona a agenda esquecida pela estatizante Constituição de 1988. Pregava reforma administrativa e abertura econômica. Lula representava uma esquerda pós-1964, desatrelada do Estado, sem laços com o totalitarismo soviético numa época em que o Muro de Berlim começava a ruir. Suas agendas eram opostas, mas ambos carregavam a mais forte dose real de mudança dentre os 22 programas eleitorais.

Cinco anos depois, o embate entre o novo e o antigo se repetiu. Em maio de 1994, um mês depois de lançar a candidatura, junto com o embrião do Plano Real, FHC tinha 16% das intenções de voto, segundo o Datafolha, contra 42% de Lula. Mas o PT não soube captar a extraordinária mudança trazida pelo controle da inflação. FHC encarnou o novo e venceu o primeiro turno com 34 milhões de votos, o dobro do que foi dado ao PT. Em 2002, Lula entendeu o recado do eleitor e se renovou com a Carta aos Brasileiros. Serra não superou a desconfiança do intervencionismo, Garotinho foi barrado pelo populismo e Ciro pelo temperamento histriônico. Cada um a seu modo, os oponentes de Lula representavam facetas do Brasil antigo.

De maneira simplificada, o eleitor fez de cada disputa presidencial uma decisão estratégica de mudança. Collor simbolizou a abertura econômica, a redução do Estado e, por fim, graças ao impeachment, o grande teste da maturidade política e do respeito às regras. FHC, a estabilidade econômica. E Lula, a melhoria social, com a valorização do mercado interno. Ou seja, democracia, responsabilidade econômica, distribuição de renda e segurança jurídica: o Brasil tem hoje os pilares básicos para avançar no caminho do Primeiro Mundo. Nesses 20 anos, o eleitorado passou de 82 milhões para mais de 130 milhões de pessoas – e pela primeira vez, em 2010, os que nasceram depois da ditadura serão maioria. Outra vez uma eleição presidencial se dará no embate entre o moderno e o arcaico. A agenda das mudanças deve vencer mais uma – mas ela ainda está aí, em aberto, esperando quem a represente.

Luciano Suassuna

FOTOS: PABLO JACOB/AG. O GLOBO; JOÉDSON ALVES/AG.
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Fotos: José Cruz/ABR ; Biô Barreira; ROBERTO CAST

O que mais pode ajudar Marina na corrida presidencial é sua biografia muito parecida com a do presidente Lula. Foi na zona rural do Acre, em um seringal chamado Bagaço, a 70 quilômetros de Rio Branco, que a senadora nasceu e morou até a adolescência. Filha de nordestinos retirantes, enfrentou as agruras da vida desde muito cedo. Sua rotina diária era árdua. Acordava às quatro horas da manhã, aprontava farofa com café para os irmãos no fogão a lenha. E percorria sete quilômetros até o seringal. O mesmo percurso fazia de volta ao anoitecer. Dos 11 irmãos, dois morreram de sarampo e um de tétano. Ainda criança, aos 6 anos, teve seu sangue contaminado por mercúrio e foi desenganada pelos médicos por quatro vezes. Adolescente, ainda contraiu hepatite, e foi tratada com medicamento para malária. Aos 13 anos, sentiu uma grande vontade de ser freira. Confessou o desejo ao pai, que foi tachativo: "Freira não pode ser analfabeta."

Foi movida por essa vontade que, aos 16 anos, Marina ganhou as ruas. Mudou-se para a capital do Estado, alfabetizou-se pelo antigo Mobral e conseguiu seu primeiro emprego como empregada doméstica. Após fazer o supletivo, em 1984, formou-se em história pela Universidade Federal do Acre. Em 2003, com a chegada de Lula ao poder, Marina assumiu o Ministério do Meio Ambiente, onde permaneceu até maio de 2008, quando pediu demissão no rastro de uma série de quedas de braço com Dilma Rousseff. O principal deles, devido ao atraso na concessão de licenças ambientais pelo Ibama, que foi apresentado como o grande vilão para o não andamento das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Aos 42 anos, a católica das Comunidades Eclesiais de Base que pregava a Teologia da Libertação se converteu à Igreja Evangélica.

O maior obstáculo para a voo solo de Marina ao Planalto reside no fato de o PV, dono de apenas 14 assentos na Câmara dos Deputados, ser um partido pequeno. A senadora, considera Lavareda, precisaria de mais tempo na tevê e teria que ter como opção uma "cesta" de pequenos partidos ou um "movimento na sociedade". Porque, se todos os pré-candidatos forem para a disputa em 2010, Marina largaria com 10% dos votos. Por isso, a senadora insiste na refundação do PV. Isso incluiria a participação do ex-ministro Gilberto Gil na chapa como candidato a vice. A formação de palanques estaduais é outra preocupação. No Rio, por exemplo, o provável candidato a governador, Fernando Gabeira, ficaria com dois palanques, o do PSDB, de quem tem o apoio, e o dos verdes. "No primeiro turno, minha campanha vai ser para a Marina", garante Gabeira.

Durante a semana, Marina dedicouse às conversas com aliados mais próximos, como o governador do Acre, Arnóbio Marques, e os irmãos Viana (o ex-governador Jorge e o senador Tião), seu suplente, Sibá Machado, e o prefeito da capital, Raimundo Angelim. A todos deixou a impressão de que vai mesmo topar o desafio. "Sinto um chamamento", disse ela ao presidente da Helibrás, Jorge Viana. Em entrevista à ISTOÉ, em seu gabinete, de paredes verdes, decoradas com quadros de seringueiros, entre os quais um que homenageia Chico Mendes, Marina deu pistas claras do caminho que pretende seguir.

 

ISTOÉ – A sra. esperava que a repercussão da sua candidatura fosse tão grande?
Marina Silva –
Acho que fomos todos surpreendidos. Vejo isso como muito positivo. O Brasil precisa fazer jus à potência ambiental que é. Essa luta tem 30 anos e tem uma densidade muito significativa nos vários segmentos da sociedade. Diante de uma crise econômica que só se soluciona resolvendo a crise ambiental, e uma crise ambiental que, ao se resolver, não pode negar a questão econômica, o tema aparece com alguma densidade.

ISTOÉ – Qual a importância de o tema da sustentabilidade entrar no debate?
Marina –
Essa questão está colocada na minha trajetória de vida há muito tempo. Estou comprometida com a luta da sustentabilidade. E esse desafio não pode estar presente só numa candidatura do PV. Quando Juscelino Kubitschek resolveu industrializar o Brasil, ele partiu de uma visão antecipatória de País. Nesse caso, é uma visão antecipatória para a civilização. O Obama entrou em cena e os EUA são como os superatletas: quando entram em cena fazem a diferença. Com a capacidade técnica e de recursos que eles têm, eles podem fazer a diferença. Mas o Brasil talvez seja o único que tenha condições de fazer o que os EUA fizeram no passado. Nós temos os recursos. O Brasil tem um potencial enorme de hidroeletricidade, tem 30 anos de tecnologia na produção de etanol, 350 milhões de hectares de área agricultável e 11% da água doce do planeta. Pode dobrar sua produção sem derrubar mais uma árvore.

ISTOÉ – A sra. falou para um amigo que estava recebendo um chamamento, como se fosse alguma coisa bíblica.
Marina –
Não vou me colocar nesse lugar de projetos messiânicos. Eu estava me baseando em um texto muito bonito de Joseph Campbell, que é um dos maiores mitólogos do mundo. Ele diz que nós temos que fazer acerto de contas conosco mesmo. Às vezes, a gente é chamada interiormente para dar uma resposta.

"NÃO SOU UM PROJETO MESSIÂNICO"

"O afastamento seria o melhor para a sociedade, para o Congresso e para o próprio presidente Sarney"

ISTOÉ – Como a sra. vê a pesquisa que a coloca na frente da ministra Dilma Rousseff?
Marina –
Não vou prender a minha decisão a pesquisas. Não vou me surpreender se outro jornal amanhã disser que estou com apenas um tracinho nas pesquisas.

ISTOÉ – É possível um candidato de partido pequeno chegar a presidente sem composição, repetindo o Obama nos Estados Unidos, numa terceira via?
Marina –
Temos que dar a palavra ao eleitor. É nisso que acredito. Temos uma cultura patrimonialista muito arraigada. Alguém diz: ‘Você tira voto de fulano’. O voto não é do Serra, nem da Dilma, nem do Lula, nem de ninguém. O voto é do eleitor. O voto é a única coisa que você nunca tem. No momento que você o recebe, já é passado e o eleitor já está livre para votar em quem ele quiser. As pessoas já estão cansadas que se façam as coisas para elas. É melhor se dispor a fazer com elas, com os jovens, os empresários, as mulheres, os idosos e os formadores de opinião. Foi essa questão que o Obama colocou na cultura americana, que era muito polarizada. O Obama foi capaz de transitar entre as duas coisas para estabelecer uma ponte. A humanidade precisa cada vez mais de pontes.

"O voto não é do Serra, nem da Dilma, nem do Lula, nem de ninguém. O voto é do eleitor"

ISTOÉ – Como a sra. recebeu as declarações do ex-ministro José Dirceu, dizendo que o mandato da sra. pertence ao PT?
Marina –
Acho que o ex-deputado José Dirceu não falaria isso em tom de ameaça. Ele é uma pessoa que trabalhou o tempo todo na organização partidária, muito zeloso pelo estatuto, por essas coisas. Ele olha para a legislação. Nunca me senti intimidada por outras ameaças muito perigosas, imagina por uma pessoa como o Zé Dirceu. Isso não é algo que me faria mudar de ideia.

ISTOÉ – Como a sra. acompanha a crise no Senado?
Marina –
Com muita preocupação. O Congresso é a representação da sociedade, aqui se estabelece o debate, se realizam os acordos sociais mediados, que deveriam ser por meio de um debate consequente. Lamentavelmente isso está interditado por essa crise. Acho que não devemos encará-la com um discurso udenista simplesmente, que não vai nos tirar do buraco. São as investigações que têm de ser feitas pela Polícia Federal, pelo Ministério Público, com a anulação de atos. É preciso fazer isso com equidistância para que a sociedade creia que de fato esteja sendo feito, porque já há um descrédito a priori. Foi por isso que apresentamos a ideia à bancada que deveria ser um afastamento temporário do senador José Sarney. Seria o melhor para a sociedade, para o Congresso e para o próprio presidente Sarney.

ISTOÉ – Qual é a frase da "Bíblia" que mais inspira a vida da sra.?
Marina –
É uma frase do apóstolo Paulo: ‘Examinai tudo e retende o bem’. Com essa frase, ele diz que não se deve ter preconceito contra ninguém, nenhuma ciência e filosofia. E você não pode impor sua vontade aos outros.

"Às vezes, a gente é chamada interiormente para dar uma resposta"

ISTOÉ – O presidente Lula fez um comentário elogioso a sua possível candidatura. Como está o relacionamento com ele?
Marina –
Não mudou. Digo que tenho tido bons mantenedores de utopia. Quando eu era uma jovem, talvez mais sonhadora do que hoje, a gente tinha bons mantenedores de utopia, tínha Chico Mendes, Darci Ribeiro, Celso Furtado, Leonardo Boff, Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Henrique Cardoso. Mas, aos 51 anos, ainda sou uma sonhadora. E quero ser mantenedora de utopia.

ISTOÉ – A sra. ainda inclui o presidente Lula como mantenedor de utopia?
Marina –
Ele é um realizador de utopias. Fazer a política social que ele está fazendo é a realização de uma utopia.

ISTOÉ – A sra. se aconselhou com Leonardo Boff. Ele deu alguma sugestão sobre a candidatura?
Marina –
Ele disse que eu escutasse o meu coração.

ISTOÉ – E o que diz seu coração?
Marina –
Meu coração está me sussurrando.