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Que o presidente dos Estados Unidos é sempre protegido por um forte esquema de segurança não é nenhuma novidade. Como primeiro presidente negro eleito, Barack Obama, no entanto, terá um esquema sem precedentes na história americana. Na semana passada, durante sua primeira visita a Washington, depois das eleições, Obama teve uma amostra da proteção que vai acompanhá-lo a partir de agora: da pista do aeroporto, ele entrou numa limusine preta semelhante à usada pelo presidente George W. Bush. Trinta agentes trabalham a seu lado dia e noite, em um esquema semelhante ao do presidente e maior do que o do vice-presidente americano. O próprio Obama já disse que evita pensar sobre o assunto, mas que era consciente do risco.

Depois que assumir a Casa Branca, Obama deverá ter um novo carro, um Cadillac desenvolvido pela General Motors e ainda em fase de testes.

A informação não foi confirmada nem pela montadora nem pelo serviço secreto, mas o veículo foi visto há alguns meses por um fotógrafo que vive de descobrir novos modelos de automóvel antes do lançamento. Gregg Merksamer, especialista em carros profissionais e autor de livro sobre o assunto, diz que os carros presidenciais estão cada vez mais resistentes a ataques externos. Este deve resistir a armamento pesado. Os vidros laterais do carro usado por Bush, segundo Merksamer, parecem ter mais de 12 centímetros de espessura. As primeiras imagens do carro possivelmente destinado a Obama indicam que ele pode ser ainda mais reforçado, com pneus utilizados em caminhões de carga média.

O aumento da segurança em torno do presidente eleito já pôde ser notado na festa da vitória. Durante o dia, homens incumbidos de proteger Renegade – seu codinome entre os agentes – vistoriaram o palco de onde ele pronunciaria o discurso, em Chicago. Concluíram que ele poderia ser atingido a partir de um dos arranhacéus que cercam o Grant Park. Decidiram instalar vidros à prova de balas nas laterais do palco. E ainda posicionaram atiradores de elite no topo de prédios próximos. Quem assistiu ao discurso pela tevê não percebeu nada e pensou que o presidente eleito estava no meio do povo.

As precauções do serviço secreto fazem sentido. Além dos inimigos externos dos Estados Unidos – Al- Qaeda e outros grupos terroristas -, Obama terá de enfrentar ameaças domésticas. Desde que ele começou a se destacar na política, inúmeros fóruns na internet discutem a possibilidade de um atentado. O assassinato do presidente é uma obsessão para os americanos e não é para menos: quatro já perderam a vida em atentados – Abraham Lincoln, James Garfield, William McKinley e John F. Kennedy – e vários sobreviveram a ataques. Ronald Reagan foi ferido a tiros em março de 1981, apenas dois meses depois de assumir. No caso de Obama, há ainda um outro histórico: os atentados contra líderes negros que tiraram a vida de Medgar Evers, Malcolm X e Martin Luther King Jr.

Durante a campanha, o serviço secreto examinou pelo menos 500 ameaças contra Obama. A grande maioria foi desconsiderada, mas algumas ainda estão sob investigação e duas delas resultaram em prisões. Em um dos casos, três homens do Colorado foram presos por posse de armas ilegais e drogas sintéticas, mas não houve provas suficientes para mantêlos na cadeia por planejar um atentado. Em outro caso, dois jovens do Tennessee haviam combinado uma série de crimes que culminaria com a morte de Obama. Um relatório da Stratford, um centro de pesquisas de inteligência, mostra que o serviço secreto se preocupa com três reações diferentes à eleição de Obama entre os grupos supremacistas brancos. O primeiro raciocínio é de que alguém tentaria matar Obama, dando início a uma onda de protestos e violência como a que se seguiu à morte de Martin Luther King. Isso seria bom para os supremacistas porque haveria mais receptividade às suas idéias. O segundo raciocínio é de que a eleição de Obama é boa para os supremacistas porque serviria para alertar os americanos brancos de que eles estão perdendo poder no país e poderia estimulá-los a reagir. O terceiro é de que os judeus controlam o governo americano e eles próprios vão planejar um atentado contra Obama, com a intenção de culpar os supremacistas brancos. Apesar de a lei americana proteger a livre manifestação de idéias, o serviço secreto monitora a comunicação e as ações desses grupos.

O mais famoso deles, a Ku Klux Klan, nega qualquer intenção de matar Obama. O diretor nacional da organização, Thomas Robb, diz que a eleição de um negro deve ser vista como um sinal de que os brancos estão perdendo poder no país. "O assassinato de Obama é a última coisa que queremos. Causaria uma reação terrível contra o nacionalismo branco. Eu, sinceramente, rezo para que nenhuma violência aconteça com ele", escreveu Robb em seu blog. Pelo sim, pelo não, o serviço secreto americano não pára de reforçar o esquema de segurança em torno do presidente eleito.

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