19/11/2008 - 10:00
Na única entrevista da família Obama durante a campanha, Malia, dez anos, falou sobre o que mais a entusiasmava dianta da perspectiva de viver na Casa Branca: "Eu vou ter um quarto novo para decorar. Eu adoro decorar, vai ser ótimo ter um quarto inteiro para fazer o que eu quiser", disse a menina.
Quando se mudar para lá no dia 20 de janeiro, junto com a irmã, Sasha, de sete anos, o pai, Barack, e a mãe, Michelle, as duas meninas se transformarão nas novas "princesinhas" americanas e terão a vida acompanhada de perto pela mídia – quer queiram ou não os seus pais, que até agora conseguiram mantê-las longe dos holofotes. Não é à toa que as meninas despertaram tanto interesse: desde 1977, quando Amy Carter se mudou para a Casa Branca com nove anos, o palácio presidencial não tinha moradores tão jovens.
PEQUENOS INQUILINOS
Outras crianças que deixaram sua marca no endereço mais famoso dos Estados Unidos
1861-1865
Abraham Lincoln com o filho Tad, aos sete anos. O garoto era fascinado pelos soldados que guardavam a residência oficial
1893-1897
Esther, no colo da mãe, foi o único bebê a nascer na Casa Branca, no segundo mandato do pai, Grover Cleveland
1901-1909
O presidente Teddy Roosevelt, com a mulher, Edith, e os seis filhos do casal em 1901. "Não acredito que nenhuma família tenha se divertido tanto na Casa Branca quanto nós", disse anos depois Roosevelt
1961-1963
No Salão Oval, o presidente John Kennedy lê documentos em noite de 1963, enquanto seu filho John-John brinca embaixo de escrivaninha histórica. O garoto chamava o espaço de "minha casa"
1977-1981
Rosalynn e o presidente Jimmy Carter, com a filha Amy. Ela era uma garota séria, que gostava de ler e chegou a dizer ao pai que o controle de armas nucleares era o problema mais grave do país
Das amigas às notas escolares, passando pelas apresentações de balé e competições esportivas, tudo o que fizerem vai virar notícia. "A vida delas não vai ser normal. Não é normal ser a filha do presidente. Neste país, é como ser da realeza", diz a historiadora Sandra Musgrove, autora de livros a respeito de filhos de presidentes. Depois do debate sobre a raça do cachorrinho prometido por Obama às filhas (leia quadro à pág. 82), nos últimos dias a imprensa americana se dedicou a tentar adivinhar as escolas que as meninas vão freqüentar a partir de janeiro.
Na semana passada, no mesmo dia em que visitou pela primeira vez a ala residencial da Casa Branca a convite da primeira-dama Laura Bush, Michelle conheceu duas escolas em Washington: uma particular, que custa US$ 25 mil por ano, e uma pública. Amigos da família acreditam que as meninas devem estudar numa escola privada, como fazem em Chicago, mas educadores da capital americana adorariam ver as primeiras-filhas numa escola pública da cidade. As escolas públicas de Washington têm uma péssima reputação, e é comum que altos funcionários que chegam à cidade com filhos em idade escolar sejam aconselhados a viver nos Estados vizinhos de Virgínia ou Maryland. "Os Obama devem mandar as meninas para uma escola particular. As pessoas que conhecem bem Washington sabem que é a coisa mais sensata a fazer", diz Bonni Angelo, autora do livro First families. De qualquer maneira, a presença das filhas do presidente numa sala de aula não vai passar despercebida. Para começar, elas estarão sempre acompanhadas de seguranças, estejam estudando, brincando com amigas ou nas aulas de balé.
A presença de crianças na Casa Branca é em si uma novidade, depois de tanto tempo, mas estas crianças devem trazer singularidade também para a agenda presidencial. Obama sempre disse que pretende continuar acompanhando as meninas nas atividades sociais. Nos dias seguintes à eleição, de volta a Chicago depois de meses de campanha viajando pelo país, ele levou as meninas pessoalmente à escola. Por isso, espera-se que o presidente seja visto não apenas em eventos políticos, mas também em jogos de futebol e apresentações de dança das filhas.
Como fazem em Chicago, elas devem continuar com as aulas extracurriculares. Michelle já disse, durante a campanha, que sua principal atividade, se o marido se tornasse presidente, continuaria a ser o de "mãe-em-chefe", numa referência ao cargo de "comandante- em-chefe" do presidente da República e uma afirmação clara de que, pelo menos para ela, as filhas vêm antes da política. "Se Barack estiver na Casa Branca ou na nossa casa, as meninas serão sempre o centro das nossas vidas", afirmou Michelle. "Vamos fazer de tudo para que elas sejam protegidas e que suas vidas tenham algum grau de normalidade."
Historiadores dizem que Amy Carter, a última criança a morar na Casa Branca, teve uma infância solitária, isolada de outras crianças. Malia e Sasha pelo menos terão uma à outra, se a segurança da família presidencial dificultar a convivência com os amiguinhos. A nova casa, no número 1.600 da avenida Pensilvânia, tem 132 cômodos, 33 deles na parte privada, além do jardim, que já foi palco de momentos históricos importantes. Resta saber se elas terão liberdade para brincar nas áreas mais abertas, que podem ser vistas do lado de fora, ou se a segurança as manterá presas nas áreas mais reservadas. Além da chance de redecorar o próprio quarto, Malia e Sasha também terão um clube particular em casa, com uma piscina descoberta – que certamente será muito útil no calor amazônico do verão de Washington – quadra de tênis e um cinema com 50 lugares. Se os pais mantiverem o regime rígido que seguem em Chicago, nada de mimos ou de se misturar nos jantares dos adultos. As meninas têm que arrumar a própria cama, guardar os brinquedos e ir para a cama às oito horas da noite. Apesar da rigidez, Malia e Sasha podem ter o que a maioria das crianças gostaria: a avó morando na mesma casa. Marian Robinson, mãe de Michelle, que ajudava a cuidar das crianças em Chicago e ficava com elas quando os pais viajavam, deve se mudar para a capital para ajudar a filha.
Decisões que são meramente pessoais na vida das demais famílias, na família presidencial viram também decisões políticas. Amy Carter freqüentou uma escola pública porque o pai queria cultivar a imagem de homem comum.
Em compensação, ela não podia brincar com as crianças no intervalo porque o pátio era muito próximo da rua.Já Chelsea, filha de Bill e Hillary Clinton, que se mudou para a mansão quando tinha 12 anos, foi matriculada numa escola privada e saiu de lá como a primeira da classe. As filhas de George W. Bush, Jenna e Barbara, gêmeas, tinham 19 anos quando se mudaram para a Casa Branca, mas eram crianças quando visitavam o avô, presidente entre 1989 e 1993.
Em épocas mais antigas, a presença de crianças era mais comum. Esther Cleveland, filha do presidente Grover Cleveland, foi a única a nascer na mansão, em 1893. Teodore Roosevelt morou lá com os seis filhos, em 1901. Foi ele o responsável pela construção da Ala Oeste, que hoje é a sede do governo, depois de perceber que a casa era muito pequena para acomodar ao mesmo tempo uma família grande e os escritórios do governo. A criança mais famosa da Casa Branca talvez seja John-John, filho de John Fitzgerald e Jacqueline Kennedy, que nasceu 16 dias depois que o pai ganhou a eleição e se mudou para a casa ainda bebê, em 1961. Com a irmã, Caroline, três anos mais velha, viveu na Casa Branca – e diante das câmeras – até o assassinato do pai, em 1963.
A imagem das filhas de Obama de mãos dadas com o pai e a mãe na festa de vitória prenuncia um interesse semelhante ao despertado pelos filhos de John F. Kennedy. Nos Estados Unidos, muitos historiadores se dedicam a estudar as famílias dos presidentes. Na opinião de Kati Marton, autora de um livro sobre casamentos presidenciais, é óbvia a comparação dos Obama com o casal Kennedy, o mais glamouroso a passar pela Casa Branca.
"Temos um casal muito dinâmico, extrovertido, com um apelo global e um mundo que está interessado neles", diz. Para o historiador presidencial Tyler Anbinder, da Universidade George Washington, a principal diferença entre as filhas de Obama e as outras crianças que viveram na Casa Branca é a atenção da mídia. "Agora é mais difícil manter a privacidade. Sempre que elas saírem de casa vão estar sob os olhos do público", disse ele à ISTOÉ. Ele acha que crianças da idade de Malia e Sasha provavelmente terão menos problemas com isso do que as adolescentes que as antecederam como "primeiras-filhas". "Crianças se incomodam menos com falta de privacidade. É bem mais complicado para adolescentes", diz ele. Até agora protegidas da curiosidade pública, Malia e Sasha vão crescer diante das câmeras. Se Obama for reeleito e ficar oito anos no cargo, como Bush e Clinton, Malia terá 18 anos e Sasha 15 quando deixarem a Casa Branca.