O primeiro e mais sensível impacto da crise mundial no mercado brasileiro foi justamente a falta de crédito para financiar desde as empresas até o consumidor final, que juntos fazem a economia girar. Uma ação coordenada de governos estadual e federal está mudando esse quadro. Na semana passada, o setor automobilístico foi contemplado com uma injeção de recursos poucas vezes vista, que vai auxiliar no financiamento da compra de carros. Dos cofres de São Paulo estão saindo R$ 4 bilhões. Do Tesouro Federal, outros R$ 4 bilhões. Minas Gerais entrou com quase meio bilhão. No total, um montante nada desprezível de R$ 8,5 bilhões em recursos está inundando a atividade, que é um dos principais motores do crescimento do País. A rápida resposta, via linhas de crédito, deve provocar uma reação em cadeia em vários setores que dependem dessa indústria para sobreviver – garantindo ainda, por tabela, mais empregos e consumo. As ações positivas têm sido o diferencial brasileiro para conter a contaminação de um problema que vem de fora. O presidente Lula, os ministros Mantega e Meirelles, além de governadores – muitos deles de oposição, como José Serra e Aécio Neves -, têm juntado esforços para quebrar o ciclo perverso de recuo da atividade econômica. Em paralelo ao que já vem sendo chamado de o "PAC dos carros", surgiram pacotes de ajuda aos varejistas – a Caixa Econômica abriu uma linha de R$ 2 bilhões para comerciantes de pequeno e médio portes -, aos agricultores, aos exportadores e à construção civil. Medidas pontuais de liberação do compulsório dos bancos, que não acarreta gasto direto da reserva federal nem a necessidade de aumento dos impostos, estão criando fontes alternativas de dinheiro para atender a parte das demandas que apareceram depois que o crédito externo sumiu. O que isso representa na prática é o aumento da capacidade de reação brasileira aos tempos difíceis de recessão internacional. Por ter feito a lição de casa, com ajustes seguidos lá atrás, o Brasil está figurando no rol dos países em melhores condições para enfrentar o inverno econômico e também pode hoje se dar o direito de abrir as torneiras.

Carlos José Marques, diretor editorial