i75701.jpg

Muitos atores dariam tudo para ter o sucesso e o prestígio de Selton Mello. Menos o próprio Selton. “Não estou conseguindo me reinventar. Vou entrar em um período sabático e pretendo que ele seja longo”, diz o ator de 35 anos, que decidiu dar uma pausa na carreira depois de atuar nos filmes A erva do rato, A mulher invisível e Leave to remain, todos ainda inéditos nos cinemas. A decisão não veio por acaso. Premiado recentemente como melhor diretor, ele lança na sexta-feira 21 o filme Feliz Natal, seu primeiro longa-metragem, no qual co-assina a produção, o roteiro e a edição. E já começa causando polêmica: foi devido à cena de nudez vivida na história pela atriz Graziella Moretto que o ator Pedro Cardoso escreveu um manifesto contra a pornografia na produção audiovisual. Uma cena que, como vista na edição final, não tem nada de escandalosa. Selton não confirma se decidiu reduzir essa seqüência nem se ela foi realmente filmada mais longa: “Não falo sobre esse assunto. Fiz um filme delicado, as pessoas que vejam e tirem suas conclusões.”
 

i75702.jpgQuem for aos cinemas em busca de uma comédia, gênero ao qual Selton mais se dedicou, vai se deparar com um drama denso e sem concessões. Rodado com atores não tão populares ou há muito tempo fora de atividade, o filme é pesado, pendendo para o experimental. A fotografia, por exemplo, assinada por Lula Carvalho, é toda granulada, lembrando produções domésticas – mas o acabamento é extremamente profissional. Mesmo o Rio de Janeiro, cidade onde se passa a ação, não traz nada de maravilhosa, sendo flagrada em botecos do centro e em subúrbios da zona norte. É lá que moram os pais do protagonista Caio (Leonardo Medeiros), dono de um ferro velho numa cidade do interior, há alguns anos longe de casa. Ele vai passar o Natal com a família e reencontra os parentes mergulhados numa completa ruína afetiva. A mãe (interpretada por Darlene Glória) vive à custa de álcool e tranqüilizantes, o irmão (Paulo Guarnieri) passa por uma crise conjugal, sua mulher (Graziella Moretto) não suporta mais a sogra e o pai (Lucio Mauro) abandonou o lar para dedicar-se à amante bem mais jovem.
Segundo Selton, o filme tem uma íntima relação com Lavoura arcaica, no qual contracenou com Leonardo Medeiros, sob a direção de Luiz Fernando Carvalho. “Essa impossibilidade de comunicação que retrato é uma resposta positiva ao que vivi naquele filme”, diz ele. Foi por isso que, ao escrever o roteiro de Feliz Natal, finalizou a história com a frase de Raduan Nassar, autor do livro Lavoura arcaica: “Estamos indo sempre para casa.” Detalhe: isso ele pôs no roteiro escrito, não na tela. Selton explica que uma das razões de ter dirigido o filme está no fato de ninguém ter oferecido papéis parecidos para ele: “Tinha a necessidade de expressar algo que não estava conseguindo como ator.” Ele pretende passar o próximo ano “saboreando” seu novo trabalho em mostras e festivais.