Mais do que a compra de aviões de guerra, o que está por trás da licitação da Força Aérea Brasileira (FAB) para a aquisição inicial de 12 caças supersônicos é o bilionário mercado da aviação comercial no planeta. Há projeções que apontam para a necessidade de 13 mil novos aviões para vôos regionais até 2022, o que representa cerca de US$ 800 bilhões. A brasileira Embraer é uma das quatro maiores fabricantes de aviões do mundo e tem boa parte desse mercado com os jatos EMB 170, 175 e 190. O problema é que essas aeronaves foram desenvolvidas a partir de tecnologia recebida entre 1985 e 1988, no projeto AMX em parceria com a italiana AeroMacchi. Para se manter competitiva nas próximas décadas, a empresa aposta na licitação da FAB a fim de manter a parceria com os franceses para desenvolver o caça Mirage 2000-BR e absorver mais tecnologia. A mesma aposta é feita pelos russos da Rosoboronexport. Para vencer a licitação, fizeram um consórcio com a brasileira Avibrás (fabricante de material bélico) e apresentaram o caça Sukhoi SU-35. Prometem fabricar o avião no Brasil e daqui fazer as vendas para outros países. O problema são os compromissos já assumidos na Rússia. O presidente da holding Sukhoi, Mikhail Pogosyan, afirmou que usará o dinheiro conseguido com a desejada venda dos caças para incrementar planos domésticos. Em parceria com a Boeing, os russos pretendem desenvolver um jato para disputar o mesmo mercado da Embraer.

• A Aeronáutica finalizou na última semana o relatório encaminhado ao Ministério da Defesa. O documento seleciona o Mirage e o Sukhoi como as duas aeronaves que atendem aos interesses da Força Aérea. O avião russo, por causa de seus dois reatores, maior autonomia de vôo e maior capacidade de manobras, é o preferido dos pilotos. Os pontos positivos terminam aqui. Além das questões políticas comerciais, o Sukhoi SU-35 é ainda apenas um protótipo. Os russos andam fazendo investidas pesadas no Congresso. Sugeriram que poderiam se tornar parceiros da Embraer e insinuaram uma ruptura na Frente Parlamentar de Apoio a Empresa Nacional, atualmente com mais de 150 deputados e senadores. A primeira sugestão foi rechaçada pelo próprio presidente da Embraer, Maurício Botelho. “Nossa parceria é para a fabricação do Mirage. Não há possibilidade de outros acordos”, disse ele. Quanto à frente parlamentar, na tarde da quinta-feira 18 uma reunião no Ministério da Defesa mostrou que não há divisões. “Estamos unidos em torno da Embraer, que poderá, inclusive, usar mísseis da Avibrás no caça Mirage”, disse um dos deputados presentes.