19/11/2008 - 10:00
Nada há de errado ao se encontrar, em alguma livraria, um gibi na estante de literatura. Seguindo uma tendência internacional, as editoras brasileiras começam a investir na transposição de clássicos para os quadrinhos. Machado de Assis, Lima Barreto, Eça de Queiroz e Jorge Amado são alguns dos autores que já tiveram obras adaptadas. Em países como EUA, França e Itália, esse filão editorial já está estabilizado. No Brasil, o aquecimento aumenta, agora, com a inédita inclusão de 23 títulos na lista de compras do Ministério da Educação para o ensino médio, através do Programa Nacional Biblioteca na Escola de 2009, que distribui livros para a rede pública. "O objetivo é facilitar o acesso da juventude a obras de referência", explica Marcelo Soares Pereira da Silva, diretor de políticas de formação, materiais didáticos e tecnologias para a educação básica do MEC.
Além do óbvio apelo visual, os quadrinhos facilitam a compreensão do conteúdo, sem esvaziar a história. "Não é resumo", diz Silva. De tão bem-feita, uma das obras selecionadas pelo programa (O alienista, de Machado de Assis) ganhou em setembro o Prêmio Jabuti, um dos mais prestigiados da literatura nacional, na categoria didático, paradidático e ensino fundamental ou médio. A adaptação que Fábio Moon e Gabriel Bá fizeram dessa obra inaugurou a coleção Grandes Clássicos em Graphic Novels, da editora Agir. Em 2009, serão publicadas versões de Os sertões, de Euclides da Cunha, e O pagador de promessas, de Dias Gomes, entre outras. "O maior desafio foi transformar a narração em diálogo, mas mudando pouco o que está escrito", diz Moon. Ou sem mudar nada, como fizeram Arnaldo Branco e Gabriel Goés com O beijo no asfalto, de Nelson Rodrigues.
"Segui um conselho que ele dava aos diretores que montavam suas peças: sejam burros. Por isso não tentei inventar", diz Branco. Mas a fidelidade ao texto não impede certa dose de criação. O cartunista Spacca, que finaliza uma adaptação de Jubiabá, acrescentou informações ao romance de Jorge Amado. "O livro não cita datas, mas tomei a publicação de 1935 como referência para uma cronologia", diz ele. A intenção não é substituir o livro original. "Bons quadrinhos também são insubstituíveis", argumenta o escritor Moacy Cirne, um dos maiores especialistas dessa arte no Brasil. Há estantes para todos.