07/01/2004 - 10:00
O exuberante peru de Ação de Graças que o presidente George W. Bush exibia no dia 28 de novembro em sua visita de surpresa ao Iraque era falso. Mas quem se importa? A cena em que ele segurava a pomposa ave de plástico em meio às batatas lhe rendeu imagens televisivas esplêndidas espalhadas pelo mundo afora e o primeiro empurrão na jornada à reeleição em 2004 para a Casa Branca. Afinal, Bush estava lá, sorrindo entre os valentes combatentes americanos, que agora enfrentam uma guerra de guerrilhas. Naquele dia, o número de americanos mortos na invasão do Iraque chegava a 430 soldados, 184 deles depois de 1º de maio, data oficializada pela Casa Branca como o fim da guerra. Mas as mortes das tropas americanas não abalaram o crédito do presidente, que viu sua popularidade subir depois da captura do ex-déspota Saddam Hussein, em dezembro. Uma pesquisa do jornal NY Times e da TV CBS News mostrou que a aprovação de Bush subiu de 52% para 56%. E mais, 54% dos americanos afirmam que, mesmo com as baixas no Iraque, valeu a pena invadir o país.
Muito mais contundente que a imagem de Bush com o falso peru foi a de um Saddam Hussein capturado de forma humilhante como uma
presa fácil. Cena que deverá reverberar insistentemente nos vídeos da campanha presidencial do republicano. A humilhação que sofreu
o ex-ditador é uma confirmação do velho ditado popular que diz que quem mata a cobra deve mostrar o pau. Bush prometeu que iria matar a cobra e assim fez, alimentando um sentimento patrioteiro entre os americanos, turbinando, desse modo, sua campanha para a reeleição. Mesmo que hoje os americanos saibam que julgar e condenar Saddam Hussein à pena de morte, como gostaria George W. Bush, não será suficiente para acabar com a ameaça terrorista. E não será mesmo. Os frequentes ataques contra as tropas americanas devem continuar, embora não a ponto de abalar os ânimos dos eleitores americanos que votam em Bush. O Iraque desmoronado, sem luz, eletricidade, também não deve afetar o resultado das urnas. Até porque os EUA começam a demonstrar uma pressa inusitada para a transferência de poder aos iraquianos.
Oposição fraca – Já a outra guerra, a econômica, e a mais importante em termos domésticos, parece momentaneamente vencida. As recentes projeções de crescimento anual de 6%, o salto de 80% no total de lucros operacionais das empresas e o aumento no valor das ações em 30% trazem os melhores ventos para os americanos nos últimos 12 meses e deixam a oposição democrata sem fôlego para enfrentar Bush. Mesmo que alguns desses dados tenham sofrido uma boa maquiagem, como o peru de Ação de Graças do Iraque. Olhando com lupa, mesmo com a criação de dois milhões de empregos, nos últimos três anos, existem
hoje nos EUA cerca de nove milhões na amargura do desemprego.
Nesses novos empregos que foram criados, o salário-hora de US$ 19 baixou para US$ 14,50. Os benefícios de saúde e previdência também estiveram fora de moda no governo Bush. Todas essas frentes poderiam ser fartamente exploradas pelos candidatos democratas em campanha, mas a grande questão desta eleição é que, até agora, os rivais de Bush não parecem ser páreo para ele.
O mais fervoroso opositor do republicano, o democrata Howard Dean, que recentemente ganhou apoio do ex-vice-presidente democrata Al Gore, é ainda muito tímido em suas propostas. Ele sempre se apresenta como o candidato do contra. Contra a guerra do Iraque, contra o desemprego, contra a pena de morte. Mas a favor do quê, Dean ainda não foi capaz de dizer. O fato é que o ex-governador de Vermont não tem um programa definido. “Ele não tem visões claras, formadas. Suas atitudes e reações são como as de Bush filho há quatro anos”, afirmou à revista Time um ex-assessor do presidente Bill Clinton. “Se ele tiver algum tipo de programa, ninguém o conhece”, completou John Podesta, outro assessor do ex-presidente democrata. Exatamente um ano antes das eleições presidenciais de 1992, o então governador de Arkansas, Bill Clinton, fechava-se em seu escritório com seus assistentes para definir as estratégias de campanha. Se parecia improvável o desconhecido governador derrotar o experiente Bush pai, com um currículo invejável como ex-diretor da CIA, ex-embaixador na China e que também acabava de sair vitorioso da outra guerra contra o Iraque, em poucos meses houve uma reversão de expectativas favorável a Bill Clinton. “É a economia, estúpido”, escrevia num quadro-negro para Clinton seu assessor de campanha James Carville, toda vez que o então candidato enfrentava Bush pai nos embates políticos. Mas, se os democratas dependerem hoje da economia para vencer, azar o deles. E mais, Bush está enrolado na bandeira do patriotismo e virado para as estrelas. Se ainda fosse a senadora Hillary Clinton a peitá-lo, vá lá. Mas, por enquanto, Bush ri sozinho e provavelmente terá todos os motivos para comemorar este Natal com um peru verdadeiro.