19/11/2008 - 10:00
Em tempos normais, os resultados da Petrobras no terceiro trimestre deste ano seriam recebidos com banda de música e fogos de artifício. Na terça-feira 11, a empresa anunciou que seu lucro quase dobrou em relação ao ano passado, saltando de R$ 5,528 bilhões para R$ 10,852 bilhões. O lucro acumulado de janeiro a setembro bateu em R$ 26,560 bilhões. Trata-se do melhor desempenho de toda a história da estatal em um único trimestre e ele se dá exatamente nos três meses mais agudos da crise econômica que afeta o planeta. A contradição é que nesse mesmo período as ações da Petrobras foram as que mais caíram na bolsa brasileira e detêm a marca de segunda maior queda nas bolsas do mundo. Mesmo depois de anunciados os lucros extraordinários da estatal, na quartafeira 12 suas ações preferenciais sofreram uma desvalorização de 13,75% e as ações ordinárias caíram 13,25%. Nos últimos seis meses, a cotação das ações preferenciais desabou de R$ 47 para R$ 21. O argumento usado por especialistas para tentar justificar tamanha contradição chega a ser risível.
Mal o balanço foi divulgado, os especialistas mergulharam em exercícios de futurologia. E, numa espantosa incongruência, concluíram que o resultado não foi tão bom assim. Referiram-se ao aumento de R$ 2,4 bilhões nas despesas operacionais no terceiro trimestre, como se fosse possível a uma empresa crescer da forma como cresceu a Petrobras sem que se registrassem aumentos nos gastos operacionais. Em sua visão torta, a estatal vai sofrer com a alta nos preços de serviços e equipamentos, já que o custo de extração de petróleo subiu 43% no terceiro trimestre. Diante disso, o banco Credit Suisse decidiu rebaixar a recomendação das ações da Petrobras de acima da média para neutra. Vale lembrar que a mesma casa bancária fracassou ao não prever a debacle dos grandes bancos americanos. Da mesma forma, os analistas que consideraram o balanço "abaixo do esperado" convenceram seus clientes, no ano passado, a investir em IPOs de empresas sem nenhuma tradição, hoje cotadas a centavos. Por trás desse movimento, atuam investidores estrangeiros.
"Sempre que têm uma oportunidade, os fundos americanos se desfazem de ações no Brasil para fazer caixa", dizem corretores. No jargão da bolsa, a Petrobras oferece maior liquidez e paga a pena exatamente por ser mais fácil de vender. Aos investidores brasileiros, recomenda-se cautela.
Quem quiser correr riscos que aposte contra a Petrobras. Quem tem a cabeça no lugar conhece muito bem o extraordinário potencial da estatal do petróleo. E não vai se deixar levar por um efeito manada que se baseia em mera especulação.
Diante dos expressivos números apresentados pela Petrobras, o presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, deixou a modéstia de lado: "É com orgulho que apresento o maior lucro trimestral da história da Petrobras. Esse resultado é fruto da excelência operacional, do crescimento da produção, das vendas e da disciplina de capital acumulados ao longo de anos." Os resultados mostram que a Petrobras não pára de crescer e tem planos ambiciosos. Vai investir este ano R$ 50 bilhões, dos quais R$ 34 bilhões já foram executados. Apesar do credit crunch, tem realizado captações externas de vulto, graças à sua projeção internacional. Para 2009, espera captar algo entre US$ 5 bilhões e US$ 10 bilhões, repetindo a cifra atual. A estatal, segundo o diretor financeiro, Almir Barbassa, encerrou a fase de perfurações no pré-sal da Bacia de Santos e partirá agora para a produção de óleo na área. "No pólo do présal de Santos já foram perfurados nove poços. Todos com sucesso. Com isso, damos por encerrada essa primeira fase exploratória", afirma Barbassa. A estatal investiu US$ 1,5 bilhão nos poços perfurados. E começa a produzir 100 mil barris/dia em 2012 nos campos de Tupi e Iara cujas reservas podem chegar a 12 bilhões de barris. As reservas conhecidas, hoje, somam 14 bilhões de barris. O que é pouco quando se examina o potencial do pré-sal. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, anunciou na quinta-feira 13 que as reservas do pré-sal podem subir a 150 bilhões de barris.
É um mar de petróleo que assegura o futuro da Petrobras e de seus acionistas. A empresa descarta os temores de que a forte queda do preço do petróleo venha a inviabilizar a exploração da camada pré-sal. "Os projetos são rentáveis até mesmo com preços menores do que os vigentes atualmente no mercado", assegura Barbassa.