DISCOS

Vivo feliz

Com Elza Soares (Reco-Head Records) – Não há idade conjecturada para Elza Soares que aquiete sua eterna jovialidade, sua vontade de renovação e uma determinação de estar em permanente festa com a vida. Após experiência de resultados bastante positivos sob a orientação do compositor e produtor José Miguel Wisnik no impecável álbum Do cóccix até o pescoço (2002), a cantora lança um CD de olho no público jovem, que a descobriu na onda retrô imposta pelos DJs tupiniquins. No trabalho anterior, Elza e sua voz enlouquecidamente rouca surgiram cobertas de requintes musicais e poéticos, virando o samba do avesso e dando dicas de um namoro com a música eletrônica. Foi incensada pela crítica, mas não vendeu muito. Cansada da MPB cabeça e talvez incentivada por Anderson Lugão, seu novo marido – aliás novíssimo, considerando seus 27 anos –, ela se associou ao produtor e multiinstrumentista Arthur Joly, um militante do som sintético, e gravou este disco com todos os confeitos da modernidade. Mas na voz de Elza Soares nada soa modernoso. Ela desconstrói o clássico Opinião, revigora o antigo samba Lata d’água, cobre de ginga o funk-rap Rio de Janeiro e – na melhor faixa do disco – faz renascer com toda a pompa um outro clássico, Volta por cima, com participação especialíssima do rapper francês Pyroman. É coincidência, mas a letra de Paulo Vanzolini é a própria biografia de Elza Soares. (Apoenan Rodrigues)

PopArt – the hits

Com Pet Shop Boys (Emi) – Está aí uma trilha sonora para levantar o astral de um ano inteiro. Com quase duas horas e meia de duração, o CD duplo do grupo inglês Pet Shop Boys engloba duas décadas de boa música dançante. Do primeiro sucesso, West End girls, do álbum Please (1986), ao mais recente, Home and dry, de Release (2002). Os CDs são batizados de Pop e Art – o primeiro reúne tudo o que o nome sugere, incluindo a irreverente versão de Go west, antigo sucesso do Village People, e mais uma série de esquenta-pistas, como Heart, It’s a sin e It’s alright. Art fecha o conceito do álbum com faixas bem acabadas e cheias de orquestrações, a exemplo de Liberation e Being boring, do melhor disco da dupla, Behavior (1990). Além da
seleção perfeita de hits, ainda há duas faixas inéditas para saciar
fãs de todas as idades. (Ivan Claudio)

Sixty six to Timbuktu

Com Robert Plant (Universal Music) – Dinossauros, sabe-se, nunca foram seres de fácil extinção. No caso dos dinossauros musicais, nem mesmo o meteorito do som eletrônico exterminou gente como o ex-vocalista da lendária banda inglesa Led Zeppelin. Uma boa constatação é este álbum duplo no qual Robert Plant reúne em 35 faixas as músicas mais representativas das suas fases pré e pós Led. O CD 1 traz 16 canções de oito discos solos que, segundo o cantor, evitam o manjado formato “o melhor de”. É uma seleção na qual o rock’n’roll se alia a recursos tecnológicos de estúdio num mix mais moderno (Upside down) ou rememora o ritmo sem toques nostálgicos (Promissed land). No CD 2, as 19 faixas traçam um panorama da carreira de Plant, desde You’d better run – seu primeiro single, lançado em 1966, cover da banda de New Orleans, Young Rascals – até Win my train far home, gravado ao vivo, no ano passado, em Timbuktu, cidade de Mali, na África Ocidental. (Apoenan Rodrigues)

Amor de periferia

Com Edvaldo Santana (Tratore) – Em seu melhor disco até o momento, o filho do bairro periférico de São Miguel Paulista, na zona leste da capital, faz uma ponte com a intelectualidade folclórica da Vila Madalena. Apoiado nos arranjos requintados do guitarrista Luiz Waack, com quem produziu o disco, o cantor e compositor solta sua voz rouca ao lado de estrelas como Lenine (O jogador) e Zélia Duncan (Desse fruto). Também dialoga com o sambão do Quinteto Branco e Preto (Batelaje) e com a guitarra luxuosa de Nuno Mindelis (Guilhotina). Em músicas como Viralatas, Cantora de cabaré, Choro de outono – esta uma homenagem ao amigo Itamar Assumpção, morto em junho de 2003 –, Edvaldo Santana mostra que é do ramo ao misturar espaço cultural e quintal com muita elegância, sem perder a malandragem. (Luiz Chagas)

A day in New York

Com Morelenbaum2/Sakamoto (Universal Music) – O compositor e pianista japonês Ryuichi Sakamoto e o casal brasileiro Jaques e Paula Morelenbaum, respectivamente violoncelo e voz, tocam juntos há mais de dez anos. Com participação do violonista Luiz Brasil e do percussionista Marcelo Costa, o excelente clima de uma turnê da trupe foi preservado nesta sessão registrada num estúdio de Nova York, em novembro de 2002. Além de pérolas jobinianas, como Desafinado, Insensatez e Sabiá, há interpretações raras do quinteto para Coração vagabundo, de Caetano Veloso, Bim, bom – uma das poucas autorias de João Gilberto – e para Tango, de R. Sakamoto, T. Onuki e J. Morelenbaum. (Luiz Chagas)

 

DVD

Os brutos também amam

(Paramount) – No centenário do faroeste no cinema, nada melhor do que a reedição digital deste clássico dirigido por George Stevens, em 1952. Além de marcar época, o filme também entra para a história da sétima arte registrando inovações estéticas apoiadas numa história da luta do bem contra o mal. Um pistoleiro caladão (Alan Ladd) chega a uma fazenda perdida no interior dos Estados Unidos, ainda em formação. Bem acolhido pela família, ele compra a briga do anfitrião com um bando de latifundiários que quer lhe tomar a terra. Para assustar o fazendeiro e seus vizinhos, os malvados contratam um outro pistoleiro – representado por um então jovem Jack Palance – e assim iniciam-se as turras. Baseada em romance de Jack Schaefer, a fita é um primor de narrativa, principalmente quando mostra segundas intenções encobertas pelo moralismo de então. Destaque para a emocionante atuação do garoto Brandon de Wilde, que morreu em 1972, aos 30 anos, vítima de um acidente de carro. (Apoenan Rodrigues)

Chico ou o país da delicadeza perdida

Com Chico Buarque (BMG) – Não se trata exatamente de um show, e sim de um documentário dirigido em 1990 por Walter Salles e Nelson Motta para a televisão francesa FR3. Os nove números musicais, acrescidos de outros quatro bônus, são entremeados com uma entrevista de Chico, com cenas do documentário Uma avenida chamada Brasil, de Otávio Ribeiro, e com canções tiradas de filmes que o artista musicou, entre eles Joana, a francesa e Dona Flor e seus dois maridos. Não menos emocionante é o trecho em que Chico fala sobre os bairros cariocas de Copacabana e Ipanema da sua época de infância ou quando comenta o conceito de brasileiro cordial, esboçado por seu pai, o falecido historiador Sérgio Buarque de Holanda (assim mesmo, com um ele só). (Luiz Chagas)

Lua de papel

(Paramount) – Fosse feita hoje, esta simpática comédia do diretor americano Peter Bogdanovich, realizada em 1973, certamente teria de enfrentar a chatice do politicamente correto ao mostrar uma garota de nove anos praticando golpes e fumando um cigarro atrás do outro. O inusitado papel de Addie Loggins rendeu o Oscar de melhor atriz para Tatum O’Neil, filha de Ryan O’Neil, que faz dupla com a loirinha na pele de um trambiqueiro. Lua de papel é um ótimo exemplar de uma Hollywood que apostava na inteligência do espectador. Entre os extras, comentários de Bogdanovich, com a advertência oportuna de que nas filmagens Tatum fumou apenas cigarros de alface, especialidade de uma loja do Texas. (Ivan Claudio)

Coleção Humphrey Bogart – volume 1

(Warner) – Amantes do filme noir tem nesta caixa de quatro filmes um dos maiores clássicos do gênero, O falcão maltês (1941) – conhecido no Brasil como Relíquia macabra –, estréia na direção de John Huston. Lembrado até então pelos papéis de gângsteres durões – como o Roy “Mad Dog” Earle, do ótimo O último refúgio (1941), de Raoul Walsh, também no pacote –, é no filme de Huston que Bogart começa a abrir o leque de seus personagens. Em Uma aventura na Martinica (1944), de Howard Hawks, o ator faz par com Lauren Bacall. E em Prisioneiro do passado (1947), de Delmer Davis, encarna um foragido da cadeia. Detalhe: no início do filme, a câmera simula ser o olhar do ator, que só mostra o rosto meia hora depois. (Ivan Claudio)

Legend

Com Sam Cooke (ABKO) – Astro do rock seminal, o cantor e compositor negro tem sua vida refeita por imagens raras e depoimentos de amigos. O DVD mostra Sam Cooke como intérprete gospel, passa pela fase de fenômeno pop nos anos 1950 e chega ao período em que ele se torna proprietário de um selo próprio dedicado à música, antecipando-se à mítica Motown. Nascido no Mississippi e criado em Chigago, o artista morreu assassinado em 1964 após posicionar-se contra o racismo. (Luiz Chagas)

 

LIVROS

Férias!

De Marian Keyes (Bertrand Brasil, 560 págs., R$ 49) — Para quem está no melhor período do ano, nada mais adequado do que se divertir lendo este romance que segue a linha de humor de Nick Hornby (Alta fidelidade) ou de Helen Fielding (O diário de Bridget Jones). Mas a irlandesa Marian consegue ser mais atrevida. Sua protagonista, afundada em drogas e dívidas, comete loucuras e vai parar numa clínica psiquiátrica, contra sua vontade. “Eu sentia um desejo de mulher grávida por substâncias químicas, mas não era toxicômana. Eu também desejava uma espingarda de cano serrado e isso não fazia de mim uma assassina”, diz ela, num aperitivo do que é a
história. Aproveite e leia também o primeiro livro da autora, o best seller Melancia, porque as personagens das duas obras são irmãs e as intempéries familiares são pano de fundo engraçadíssimo em ambas as tramas. (Eliane Lobato)

Ninguém é perfeito – Billy Wilder, uma biografia pessoal

De Charlotte Chandler (Landscape, 366 págs., R$ 45) – A autora, que escreveu sobre Groucho Marx, Mae West e Bette Davis, entre outros, teve o privilégio de conviver por duas décadas com o diretor austríaco falecido em março de 2002, aos 95 anos. Da vida de repórter em Viena e Berlim ao estágio de “lenda de cadeira de rodas que todos querem homenagear”, nas palavras do próprio biografado, ela traça um saboroso panorama da carreira do responsável por clássicos como Quanto mais quente melhor, Crepúsculo dos deuses, Pacto de sangue e Se meu apartamento falasse. A biografia é enriquecida com depoimentos de vários amigos do diretor, entre eles Jack Lemmon, Tony Curtis, Audrey Hepburn, Barbara Stanwyck, Gloria Swanson e William Holden. (Luiz Chagas)

Malu de bicicleta

De Marcelo Rubens Paiva (Objetiva, 222 págs, R$ 27,90 ) – O personagem Luiz sabe que mulheres são perigosas, muitas vezes loucas e ao mesmo tempo irresistíveis. Escolheu, então, ser predador profissional. Seduzir sem se envolver é o lema de Luiz. Certo dia, no entanto, se apaixona por Malu, a da bicicleta, e vive pela primeira vez o estado idílico da paixão. Há oito anos sem escrever um romance, Marcelo Rubens Paiva cria agora um personagem amoral e divertido. O relato detalhado de suas conquistas estimula e delicia o leitor, numa espécie de elogio ao sexo pelo sexo, encarado sempre pela ótica masculina. (Celso Fonseca)

As 100 melhores histórias eróticas
da literatura universal

(Ediouro, 628 págs., R$ 69) – Organizada pelo escritor Flávio Moreira da Costa, esta antologia de primeira grandeza traz textos dos melhores estilos que transitam pelo amplo e estimulante território do erotismo. Além de contos, a obra reúne trechos de romances e de poesias numa seleção que começa na Grécia Antiga, com a teoria sobre o amor de O banquete, de Platão, e fecha com Um passeio pelo rio, conto inédito do paranaense Domingos Pellegrini. Entre os vários outros autores há um mundo povoado de personalidades, como Anaïs Nin, D. H. Lawrence, Marguerite Duras, Philip Roth e Donatien Alphonse François, o Marquês de Sade. Para ser lido vagarosamente, desfrutando cada detalhe. (Luiza Villaméa)

Conspirações – tudo o que não querem que você saiba

De Edson Aran (Geração Editorial, 352 págs., R$ 29,90) – Da suposta pedofilia de Michael Jackson ao assassinato de um executivo de uma multinacional do petróleo, tudo causa insegurança no cidadão comum. É a partir desta constatação que o  jornalista e cartunista, em seu novo livro, faz um levantamento das principais ordens secretas, casos não resolvidos, suspeitas infundadas e enigmas insolúveis. Aran desenha um painel do mundo bizarro por trás da rotina. Mas garante que é tudo uma grande piada. (Luiz Chagas)