O desejo de ficar com o corpinho em forma para o verão arrasta uma enorme quantidade de pessoas às clínicas de medicina estética. A vontade de tirar aquele pneuzinho ou amenizar a celulite é tamanha que a maioria das pessoas se esquece de perguntar os riscos e as contra-indicações dos tratamentos. Um dos mais procurados nesta época do ano – e também um dos mais perigosos – é o bronzeamento artificial. O método já foi inclusive condenado pela Sociedade Brasileira de Dermatologia por ser um dos responsáveis pelo envelhecimento precoce e pelo aparecimento do câncer de pele. Helô Pinheiro, 58 anos, a eterna garota de Ipanema, se submete à técnica há dez anos e não teme os riscos. “Faço sempre que me sinto branca, com cara de doente. Me deixa mais feliz”, justifica.

Esse tipo de declaração deixa preocupados profissionais como o médico Carlos Eduardo Santos, do Instituto Nacional do Câncer. Não é para menos. As câmaras de bronzeamento emitem raios UVA e UVB, com ação cancerígena comprovada. “Os UVA aceleram o envelhecimento e os UVB são os mais cancerígenos”, diz Santos. Por isso, os adeptos correm riscos. “Pessoas com qualquer tipo de pele podem sofrer as consequências. Mas os que são claros, que têm casos de câncer de pele na família ou que apresentam lesões com chance de se tornar um tumor são mais suscetíveis aos perigos do bronzeamento”, informa o dermatologista Guilherme Almeida, de São Paulo.

Outra prática que pode deixar arrependimentos é a drenagem linfática. Embora seja aceita pela Sociedade Brasileira de Angiologia, a técnica, indicada contra a celulite e gordura localizada, não é cientificamente reconhecida. A massagem é feita em pontos específicos, onde estão localizados os vasos linfáticos (parte do sistema imunológico). O objetivo é fazer a linfa – líquido que circula dentro dos vasos – voltar para o seu devido lugar. Quando ela escapa, se acumula nos tecidos e causa inchaço, por exemplo.

Frágil – Uma polêmica que envolve o método é se ele é contra-indicado para pacientes com certos tipos de câncer, como o de mama. O argumento é o de que, como esse tumor pode se disseminar pelos vasos linfáticos, a massagem – feita justamente nessa região – ajudaria nesse processo. “Até hoje nenhuma pesquisa mostrou isso. O câncer de mama se propaga pelo sistema linfático devido às suas características, e não por causa da massagem”, afirma o oncologista Gilberto Schwartsmann,
de Porto Alegre. Quem concorda com ele é o oncologista Antônio
Buzaid, de São Paulo. “A drenagem é recomendada após a cirurgia
da mama para reduzir inchaços no braço”, diz. Mas os especialistas recomendam que a drenagem seja feita por um fisioterapeuta. “Os
vasos linfáticos são frágeis e devem ser massageados por quem tem experiência para não haver rompimento”, avisa o cirurgião vascular
Kasuo Miyake, de São Paulo.

Um método que também requer cuidados é a mesoterapia. O tratamento consiste na aplicação de injeções na área a ser tratada. Cada ampola contém várias substâncias, como vitamina C e cafeína. O objetivo é melhorar a circulação sanguínea e promover a redução
da gordura localizada e da celulite. “Mas, se não houver uma reeducação alimentar e exercícios, nada resolve”, diz a médica
carioca Karla Rodrigues. A dermatologista Dóris Hexcel, da Sociedade Brasileira de Dermatologia, lembra ainda que a mesoterapia pode causar hematomas.

Outro conselho é não se esquecer de perguntar ao profissional o nome das substâncias usadas nas injeções. Talvez o paciente nem possa receber as aplicações. A ioimbina, por exemplo, pode ser um dos componentes das injeções. “Mas ela é contra-indicada para pacientes com doenças cardíacas, renais, hepáticas e hipertensão”, informa o cardiologista Mário Maranhão, de Curitiba. A combinação dos compostos utilizados é motivo de perigo. “Se a mistura for feita de maneira equivocada, ao entrar em contato com a pele há chances de causar uma ferida ou úlcera”, informa Samantha Neves, dermatologista de São Paulo. O tratamento também é contra-indicado para grávidas.

Cuidar da pele do rosto é ainda mais delicado. Os tratamentos de acne aumentam a sensibilidade da pele ao sol. É o caso do medicamento isotretinoína (um derivado da vitamina A), utilizado contra acne grave. Não é recomendável usá-la no verão e o filtro solar é indispensável mesmo em dias nublados. Outra precaução importante é não usar em caso de gravidez ou nos casos em que se deseja engravidar. A droga pode causar má-formação no feto. Problema semelhante ocorre se a gestante usar a flutamida. O remédio pode provocar sérios problemas na genitália de fetos masculinos se utilizada por mulheres grávidas. A substância inibe a ação da testosterona, o hormônio responsável pela manifestação dos caracteres masculinos. Se a mulher faz uso do composto e engravida de um menino, há o risco de os órgãos genitais serem formados com características femininas, já que a produção de testosterona foi inibida.

Luz – Atenção especial requer também a depilação a laser. O raio age nos locais onde há grande concentração de melanina – pigmento que dá cor à pele e aos pêlos. Por isso, se a pele estiver bronzeada (nesse caso, há alta concentração de melanina), a luz pode ser atraída ao local e causar queimadura. A depilação pode até ser aplicada nessa situação. Porém, é preciso enfatizar que deve ser feita por um profissional experiente. Ele saberá regular a intensidade da luz e o tempo de exposição. Depois das sessões, a ida à praia deve ser prorrogada. A dermatologista Sandra Azevedo, do Rio de Janeiro, só aplica o método às segundas-feiras, para que as pacientes fiquem pelo menos uma semana longe do sol. “A pele fica avermelhada e inchada, e quem faz de quatro a seis sessões no mês só repetirá o tratamento em um ano”, esclarece.

Os cuidados com o sol também são fundamentais para quem faz tratamentos para retirar as varizes. Após as injeções para secar os vasos, é necessário um período de repouso, pois as agulhadas podem causar hematomas. E o sol ajuda na sua pigmentação. Quem opta
pelo uso de laser associado a injeções com determinadas substâncias também precisa ficar atento. Diabéticos, por exemplo, devem evitar aplicações de injeções à base de glicose.