Uma das mais interessantes surpresas do governo Luiz Inácio
Lula da Silva – hoje é consenso – está na assertiva política
externa capitaneada pelo chanceler Celso Amorim. Trata-se de
uma área que poucos esperavam muito protagonismo presidencial,
dado a vocação internacionalista do antecessor de Lula no Planalto, Fernando Henrique Cardoso, um scholar reconhecido internacionalmente e com inequívoco gosto pelas complexas partituras do concerto
das nações. Mas, 11 meses depois da posse, o ex-metalúrgico e
ex-sindicalista Lula, o monoglota, alçou vôos muito mais altos do
que os realizados pelo poliglota sociólogo-presidente transformado
em globe-trotter. Ao contrário de FHC, cuja política externa privilegiava fundamentalmente a América do Sul, através do fortalecimento do Mercosul, a diplomacia lulista ambiciona colocar o Brasil na liderança de um renascente bloco do Sul, articulando ao Mercosul países como a África do Sul e a Índia – no chamado Grupo dos Três (G-3) para fazer frente aos blocos dos países ricos.

O batismo de fogo da diplomacia presidencial de Lula foi na cúpula da Organização Mundial do Comércio, em Cancún (México), quando o Brasil liderou o chamado Grupo dos 22 (ou G-20Plus) e conseguiu impedir que a reunião fosse dominada pela agenda dos Estados Unidos e da União Européia. Assim, foi frustrada a tentativa dos ricos de fazer os países emergentes abrirem mais seus mercados, enquanto eles próprios se resguardavam o direito de continuar subsidiando sua ineficiente agricultura. Agora, o Brasil abre uma nova frente com um giro de Lula ao Oriente Médio – algo que, apesar dos laços que nos unem àqueles países, nunca fora feito antes. Uma diplomacia dessa envergadura exige viagens constantes ao Exterior, ao contrário do que supõe uma certa crítica simplista. Mas Lula também viaja muito pelo País, para tomar contato com a realidade sofrida e, frequentemente, dramática do povo brasileiro. O diretor de redação de ISTOÉ, Hélio Campos Mello, acompanhou uma dessas viagens do presidente, ao Quilombo dos Palmares (AL).