Jurado de morte no Rio de Janeiro por policiais civis e presos, envolvidos na morte sob tortura do chinês Chan Kim Chang, o programador digital Fabiano de Oliveira Costa, 28 anos, renasceu em Brasília. Na segunda-feira 1, embora condenado a 14 anos de prisão por assalto e tráfico de drogas, Fabiano foi incluído pela Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão no Serviço de Proteção ao Depoente Especial, sob a guarda exclusiva da Polícia Federal. Cinco anos de prisão e a habilidade com computadores deram a ele intimidade com o submundo das prisões cariocas e com os policiais que vivem de suas mazelas. A inesperada liberdade na cadeia fez de Fabiano uma testemunha acidental da morte de Chang, cujos detalhes ele revelou ao País na edição 1783 de ISTOÉ.

O Palácio do Planalto vasculhou a burocracia federal para garimpar
a carta manuscrita de 12 páginas que Fabiano escreveu em outubro
ao presidente Lula: “Que minha vida não se resuma a mais um registro
de ocorrência em uma delegacia qualquer como suicídio ou briga de facções”, apela a testemunha no início de sua carta, que só chegou
ao gabinete pessoal do presidente na quarta-feira 3. Dois dias antes,
o procurador-geral da República, Cláudio Fontelles, recebeu carta parecida, junto com a notícia de que Fabiano estava oficialmente no programa de proteção da PF.

A denúncia a ISTOÉ não ecoou apenas no
Planalto. No Rio, a juíza Maria Angélica Guerra Guedes passou a ter proteção policial a partir de segunda-feira 1, com a revelação do plano do bicheiro Rogério de Andrade de contratar matadores de aluguel para matar sua algoz: a juíza condenou o bicheiro a 19 anos de prisão. O juiz federal Lafredo Lisboa, que condenou a máfia do propinoduto e seria também alvo do crime encomendado, pediu investigação do Ministério Público: “A revista veiculou um alerta importante”, disse. Nesta semana, a PF deve providenciar o resgate para Brasília da família de Fabiano, a mulher e os dois filhos, que vivem escondidos mas sem qualquer proteção no Rio de Janeiro. “Estamos prisioneiros, sem poder circular. Na segunda, minha filha de 11 anos perdeu a prova de história porque não pode mais ir à escola”, disse Fernanda, chorando, falando a ISTOÉ de um celular à prova de rastreamento.

Os assassinos de Chang, apontados por Fabiano, já estão detidos: o agente penitenciário Everson Azevedo Motta e os presos Eduardo Nunes de Moraes (o Duda), Cláudio Pereira da Costa (o Cláudio Gordinho) e Paulo Sérgio de Araújo (o Trique-Trique) aguardam julgamento no presídio Milton Dias Moreira, no Centro do Rio. Se Fabiano continuar vivo e falante, a população carcerária pode aumentar: “O estuprador da fonoaudióloga Márcia Maria Lira, assassinada em Santa Tereza em abril de 2001, foi morto na minha frente, na madrugada de 29 de abril, na Polinter. Quem matou foi o preso Vinicius Cavadas, a mando do chefe da carceragem, José Wellington Menezes Paes”, disse Fabiano a ISTOÉ na terça-feira 2, na Polícia Federal em Brasília. O preso e o carcereiro convivem hoje na 59ª DP de Duque de Caxias. “Se chamar o número 3399-3540, o Vinicius vai atender”, avisou Fabiano. ISTOÉ ligou na tarde de quinta-feira, Vinicius atendeu, deu uma gargalhada ao ouvir a acusação (“este sujeito é um doente”) e desligou o telefone.