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O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), é considerado autoritário e explosivo por muitos de seus pares. Na quinta-feira 13, ele mais uma vez fez jus à fama que carrega. Diante da decisão tomada um dia antes pelo STF de ratificar a posição do Tribunal Superior Eleitoral em favor da fidelidade partidária, o presidente do TSE, ministro Ayres Britto, reiterou uma determinação que já havia feito por mais de uma vez para que a Câmara cassasse o mandato do deputado paraibano Walter Brito Neto, que trocou o DEM pelo PRB. Uma determinação mais do que natural, uma vez que o TSE decidiu pela perda do mandato de Brito Neto em março. Como resposta, Chinaglia não apenas resistiu a cassar o deputado infiel como atacou Ayres Britto e o Poder Judiciário de forma bem mais explosiva do que se pode esperar de um parlamentar. “Quero dizer ao ministro Ayres Britto que Sua Excelência não preside um Poder, Sua Excelência preside o TSE. Se eu quiser cobrar publicamente do ministro Ayres Britto processos em que Sua Excelência ficou determinado tempo sem deliberar, posso fazê-lo publicamente também”, reagiu Chinaglia. E emendou dizendo saber que há ministros que “sentam” em cima de processos.

Ayres Britto entra assim para a longa lista de vítimas das explosões do presidente da Câmara. “Ele sempre foi duro, sincero, nunca foi de dourar a pílula. Mas reconheço que, às vezes, ele se excede”, avalia o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), um dos principais amigos de Chinaglia no Parlamento. Na quarta-feira 12, no meio do plenário, atrás do microfone de apartes, o deputado Francisco Rodrigues (DEMRO) ficou vermelho como um pimentão. É que, do alto de sua cadeira, o presidente Chinaglia bradava a plenos pulmões na direção do deputado: “O senhor se ausenta das votações e depois acha que pode vir aqui atrapalhar os trabalhos? Não vou aceitar isso de maneira alguma. Não venha me criar problemas.” Rodrigues tinha perdido a votação de um dos destaques de uma MP e queria às pressas se justificar e manifestar qual seria seu voto. Com isso, acabou interrompendo outro parlamentar. Diante dos gritos de Chinaglia, Rodrigues respondeu: “O senhor é quem cria problemas com todo mundo.”

O presidente da Câmara sabe da fama de ser pavio curto. Defende-se reforçando o rigor do seu temperamento. “As pessoas confundem rigor com mau humor”, argumenta. Chinaglia passou a presidir os deputados num momento em que a imagem do Poder Legislativo é ruim, escândalos se sucedem e a produtividade do Congresso é baixa. Tentou reagir a esse quadro impondo uma rotina moralizadora. Numa dessas medidas, começou as sessões mais cedo para evitar que elas passassem das 19 horas, quando teria de pagar hora extra. Ganhou, com isso, o apelido de “Um para as sete”: quando falta um minuto para as 19 horas, ele encerra a sessão. “Numa Casa com a imagem desgastada, se discute se um deputado pode usar chapéu de vaqueiro no plenário” “Chinaglia é meio bedel. Cobra bastante dos deputados. Mas reconheço que, às vezes, ele se excede um pouco” Deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) “Fazer grosseria com os outros é uma coisa que não aceito. Ele é maleducado, descortês e autoritário” Deputado Edgar Moury (PMDB-PE) Deputado Edigar Mão Branca (PV-BA) Conseguiu, de acordo com a sua assessoria, uma economia de R$ 22 milhões desde 2007.

“Ele pode ser rigoroso, mas não precisa ser mal-educado”, rebate o deputado Edgar Moury (PMDB-PE). Em fevereiro, Moury foi ao gabinete de Chinaglia, acompanhado de outros 11 deputados da bancada de Pernambuco, para pedir a votação de um projeto de legalização dos bingos e do jogo do bicho. Chinaglia fez os deputados esperarem 40 minutos, recebeu-os de pé e foi curto e grosso: “Não vou colocar esse projeto em votação, porque ele vai contra tudo o que eu defendo”, disparou. Moury fez uma queixa formal contra o comportamento de Chinaglia. “Depois, ele queria me chamar para conversar. Fazer grosseria com os outros e depois pedir desculpas como se nada tivesse acontecido, eu não aceito não”, conta Moury.

Algumas brigas de Chinaglia parecem uma inacreditável perda de tempo. É o que pensa o presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), que se diverte com a importância que Chinaglia deu ao fato de ter errado o seu nome – chamou-o de “José Garibaldi” numa cerimônia no Palácio do Planalto. Ao receber um longo ofício em que Chinaglia desculpava-se do erro e informava o afastamento da funcionária responsável por ele, Garibaldi comentou com seus assessores: “E o Arlindo ainda tem tempo para isso?”