22/01/2003 - 10:00
Alegria de pobre dura pouco, reza o ditado popular. Depois de fazer a festa das beldades brasileiras nos últimos dois anos, o Lipostabil – medicamento
injetável que dissolve a gordura localizada – foi proibido. Por ter um preço mais atraente, ele vinha roubando possíveis candidatos à cirurgia plástica
e à lipoaspiração. Por conta disso, virou moda
e acabou chamando a atenção da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Surpresa. O órgão descobriu que o produto, feito à base da substância fosfatidilcolina, não tem registro no País e suspendeu sua comercialização há duas semanas. De quebra,
o órgão proibiu também a manipulação
da fosfatidilcolina por farmácias especializadas, afirmando que a substância não
tem segurança comprovada.
Parece estranho que a Anvisa só agora tenha se dado conta do festival de Lipostabil – que pertence ao laboratório Aventis Pharma. Festival sustentado por procedimentos irregulares de importação. Cláudio Enriques, diretor da agência, garante que apenas recentemente o órgão teve conhecimento do uso do produto. Por que ele não tem registro? “Porque ninguém fez esse pedido”, responde. É de se estranhar também a recusa da Aventis brasileira em falar sobre o assunto. Um comunicado oficial informa tão-somente que o Lipostabil não é comercializado aqui e sua indicação é para tratamento de embolia gordurosa (acúmulo de gordura no sangue). Não para fins estéticos.
Nos Estados Unidos, onde o produto também não é vendido, o laboratório não esclarece muito mais do que isso. “As áreas em que o Lipostabil atua não são de interesse da Aventis e por isso não vamos regulamentá-lo”, afirmou a ISTOÉ a assessora de comunicação Patricia Munzer. Na Alemanha, que comercializa o medicamento, o serviço de informação da filial não pode prestar esclarecimentos. A razão: o departamento apenas se pronuncia a respeito de produtos vendidos sob prescrição médica. Isso mesmo. Os alemães não precisam de receita para adquirir o remédio.
Por aqui, o médico Aloísio Faria de Sousa, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Estética, lamenta a proibição, mas entende a atitude da Anvisa. “O produto estava sendo usado indiscriminadamente.
Algo precisava ser feito. Pena que a saída tenha sido a proibição e não a regulamentação”, declara. Acabar com a “farra”, de fato, é uma medida importante. A medicação tem suas indicações, quantidades e locais exatos para aplicação. Para a dermatologista Patrícia Rittes, pioneira no uso do produto no Brasil, a portaria veio em boa hora, já que até cabeleireiros estavam fazendo aplicações. “Mas a Anvisa deveria ter procurado profissionais sérios que fazem pesquisa sobre o assunto antes de proibir”, rebate. Patrícia, por exemplo, teve um estudo publicado na revista científica americana Dermatologic Surgery no ano passado. A Anvisa esclarece que o medicamento foi proibido devido à falta de registro e de informações a respeito da segurança do produto. Ela acena, porém, com a possibilidade de rever sua posição caso receba comprovações científicas de que a droga é segura. A assessoria de comunicação da FDA, agência que fiscaliza medicamentos nos EUA, garantiu à reportagem que o órgão está aberto a pedidos de autorização para pesquisa com a substância. Lembra, entretanto, que isso deve ser feito com o aval de quem possui a patente. Se depender da Aventis americana, pelo menos por enquanto as gordurinhas vão ficar onde estão.