A diplomacia do governo Lula conseguiu sua primeira vitória. Em Quito, onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assistiu na quarta-feira 15 à posse do novo presidente do Equador, Lucio Gutiérrez, foi anunciada a criação do Grupo de Amigos para a Venezuela – uma iniciativa brasileira para tentar pôr um fim à grave crise institucional no país vizinho. Depois de horas de negociações e várias polêmicas, ficou estabelecido que Estados Unidos e Brasil vão liderar o grupo com quatro países-membros (Brasil, EUA, México e Chile) e dois observadores (Portugal e Espanha). O bloco deverá auxiliar a comissão presidida pelo secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), César Gavíria, que já está há quase seis semanas em Caracas sem alcançar avanços palpáveis nas negociações entre defensores do presidente Hugo Chávez e a oposição, que mantém uma greve geral há 40 dias exigindo a renúncia do mandatário.

Do nome do grupo à sua formulação, muitas polêmicas surgiram.
Os EUA eram contrários à designação “Amigos da Venezuela”, para
eles uma sutil indicação de apoio ao governo de Chávez, e por isso o nome foi trocado para “Amigos para a Venezuela”. De fato, o próprio Chávez havia pedido a intervenção do governo brasileiro na crise.
A princípio, a Casa Branca torceu o nariz, temendo o esvaziamento
da OEA nas negociações, mas acabou buscando uma fórmula conciliatória. “OsEUA sabem da importância e do papel desempenhado pelo Brasil na região, principalmente durante a resolução de problemas diplomáticos, como no caso do Peru e do Equador”, afirmou
o diplomata Rafael Vidal, do Itamaraty.

Para se chegar à resolução de que o Brasil conversaria com o governo venezuelano e os americanos cuidariam dos opositores, muitos telefonemas foram trocados entre Washington e Brasília antes da viagem de Lula ao Equador. Para Quito, Bush enviou quatro assessores, entre eles John Maisto, do Conselho de Segurança Nacional, e o polêmico Otto Reich, assessor para a América Latina, que havia feito duras críticas contra Chávez. Os EUA recusavam a presença da Rússia e da França no grupo. O Brasil concordou, mas em contrapartida barrou a entrada do Canadá, um forte aliado americano. A pedido de Bush, os assessores americanos se reuniram com o chanceler brasileiro, Celso Amorim, antes de se encontrarem com seus colegas latino-americanos.

Os chanceleres do novo grupo deverão se reunir brevemente para dar início aos trabalhos. A mais difícil tarefa para os brasileiros será vencer os opositores que desconfiam da proximidade entre Chávez e Lula. Um grupo de 40 pessoas fez um panelaço na terça-feira 14 em frente à embaixada brasileira em Caracas. Por outro lado, o governo americano não pode ser considerado isento, já que apoiou veladamente a tentativa de golpe de Estado contra Chávez em abril do ano passado. O governo brasileiro afirma que não faz questão da paternidade do grupo, mas diz priorizar uma resolução conciliatória. Assim como os EUA, o secretário-geral da OEA apontava como solução para a crise a antecipação das eleições, exatamente o que pleiteia a oposição. Porém isso seria inconstitucional. Um plebiscito, outra alternativa da oposição, constitucionalmente só poderia acontecer em agosto deste ano – tempo demais para opositores. Uma das saídas poderia ser a reformulação da Constituição. César Gavíria afirmou que o acordo não saiu por conta de dois pontos: a data do plebiscito e o fim da greve dos petroleiros. A pressa dos americanos em resolver a crise venezuelana é uma só: no caso de uma guerra contra o Iraque, o petróleo venezuelano é imprescindível.