Em menos de uma semana, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), respeitado órgão governamental ligado ao Ministério do Planejamento, divulgou duas notícias de grande repercussão. O governo adorou a primeira e detestou a segunda. Gostou muito da divulgação, no dia 25 de novembro, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), referente ao ano de 2004. As coisas melhoraram. Em relação a 2003, melhorou a distribuição de renda, cresceu o número de empregos com carteira assinada, caiu o número de crianças fora da escola e parou de cair o rendimento médio da população. Ou seja, para 50% dos brasileiros que ganham menos houve um aumento de 3,2% em sua renda. Já para os outros 50% houve uma queda de 0,6% em seus rendimentos. Também aumentou em 6,6% o número de empregados com registro em carteira. Na educação, 4,3% das crianças em 2003 não tinham escola e em 2004 o número passou para 2,9%. Se a renda média não cresceu, ela pelo menos parou de cair: manteve-se nos mesmos R$ 733 de 2003, interrompendo sete anos de queda. O governo gostou muito e o País também. Todo mundo gostou.

Já no dia 30 de novembro, o mesmo IBGE divulgou a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre de 2005. Não houve crescimento. Houve uma queda de 1,2% em relação ao trimestre anterior. O governo não gostou. Ninguém gostou. E muita gente falou: “Eu bem que avisei, com esses juros não podia dar outra coisa.” O Banco Central, o responsável por “esses juros”, não só não gostou como contestou os dados do IBGE. Tudo isso para continuar defendendo sua política monetária, que agora, já em pleno tiroteio que antecede as eleições do ano que vem, mais do que nunca, é o alvo da vez.

O Banco Central contesta a metodologia do IBGE. Só que a metodologia do IBGE é a mesma há anos. Ou muda-se a metodologia do IBGE ou muda-se a política monetária do Banco Central. Ficamos com a segunda hipótese.