Na véspera do Natal de 1988, saber quem matou Odete Roitman era mais urgente do que abrir os pacotes trazidos por Papai Noel. Naquela noite, ia ao ar o capítulo 192 de Vale tudo em que a empresária arrogante vivida por Beatriz Segall era assassinada a tiros.

O crime mais comentado da história das telenovelas brasileiras saiu da pena de Gilberto Braga, mas as tramas de suspense e assassinatos são, sem dúvida, a especialidade de Silvio de Abreu. Belíssima, sua novela atual no horário nobre da Rede Globo, em apenas 24 capítulos já matou dois personagens: a golpista Valdete (Leona Cavalli) e o romântico Pedro (Henri Castelli). Ao que tudo indica, a vilã Bia Falcão (Fernanda Montenegro) será a próxima vítima. “Tem que ter mistério. Não abro mão de colocar um thriller”, explica o autor, cujo recorde de assassinatos em novela foi de 13 personagens, em A próxima vítima.

Segundo Mauro Alencar, doutor em teledramaturgia pela USP, o expediente do “quem matou?” apareceu em folhetins brasileiros pela primeira vez em Véu de noiva, de 1969, escrita por Janete Clair. Mas foi em outra trama que a autora criou o maior enigma do gênero: “Quem matou Salomão Hayala?”, pergunta-chave de O astro, de 1978. “Carlos Drummond de Andrade tinha uma coluna no Jornal do Brasil e escreveu que, ‘agora que o Brasil sabe quem matou Salomão Hayala, podemos voltar a trabalhar’”, lembra.

Terá o mesmo destino a pérfida Bia Falcão? Silvio de Abreu garante que, pelo menos por enquanto, a morte da vilã não passa de especulação. “Fernanda ficará de acordo com a demanda da trama”, diz. Até porque a personagem caiu no gosto do público com suas tiradas irônicas. Segundo ela, Júlia (Glória Pires) tem “o pior defeito que uma mulher pode ter: é comum”. Já sua secretária Yvete (Angelita Feijó) é dona de um “gerundismo horroroso”. Não é bom, contudo, contar coma clemência do autor. “Recebi muitas solicitações para que o Pedro não morresse, porque não merecia. É engraçada essa visão do público: só deve morrer quem é ruim”, conclui. Pelo menos nesse ponto a ficção é injusta como a vida.