07/12/2005 - 10:00
Noites glamourosas e barracos inesquecíveis pontuam a trajetória de Ocimar Versolato, “primeiro estilista brasileiro a fazer sucesso nas passarelas internacionais” segundo a orelha do livro Vestido em chamas (Ed. Aleph, 208 págs., R$ 35). Vale a leitura: Versolato foi confundido com garçom em uma festa em Cannes, entrou em um hospital de Paris certo de que estava com Aids, vetou a top Claudia Schiffer – “que não serve nem para santinho de caminhoneiro” – de um desfile em Seul, teve síndrome do pânico e jamais esqueceu a lição de Christian Lacroix: “Todos temos uma chance na vida, e é quando menos esperamos que essa porta se abre.” A porta se abriu para ele em 1989, quando foi considerado revelação na França. Hoje, aos 44 anos, Versolato move meia dúzia de processos contra os ex-sócios Sandra e Sérgio Habib, que investiram uma fortuna em sete lojas no Brasil para fechá-las logo.
ISTOÉ – Por que Vestido em chamas?
Ocimar Versolato – Assumi que sou polêmico. Também é uma referência a um vestido do Thierry Mugler, do primeiro desfile que vi em Paris. Fui à loja ver de perto e a vendedora perguntou qual era meu número. Achei estranho, mas, mesmo que eu quisesse comprar, ele custava 20 mil francos e eu vivia com 500 por mês.
ISTOÉ – Muitos visitam lojas para copiar?
Versolato – Às duas da manhã, o Boulevard Saint Germain (Paris) fica cheio de gente tirando fotos das vitrines. Um horror! Na França, o estilista e o copiador têm seus mercados. Um copiador foi à minha casa com um cheque: “Eu vou copiar tais modelos. Se for à Justiça, você vai ganhar tanto. Para não perdermos tempo, eu te pago já e você não me processa.” Aceitei.
ISTOÉ – No Brasil, estilistas com status de grandes astros repetem
coleções de grifes européias.
Versolato – Isso é coisa de Terceiro Mundo. O cara sai da escola, compra uma máquina de costura, o pai monta uma lojinha e ele já desfila no São Paulo Fashion Week. Na França, os novos criadores não são colocados no mesmo nível de Saint Laurent e Galliano.
ISTOÉ – Você já presenteou atrizes com vestidos?
Versolato – Nunca. Isso começou com os italianos, que emprestavam vestidos
para eventos como o Oscar. Depois, uma grife começou a dar e logo a pagar para que celebridades usassem suas roupas. Uma vez, a Sigourney Weaver nos encomendou um vestido para o Oscar e logo cancelou porque o Cerruti havia mandado um de presente. Avisei que ela não ficaria bem. Acabou na People como
a mais malvestida do ano.
ISTOÉ – Mas a prática rende espaço na mídia.
Versolato – Desde quando luxo precisa disso? Crítica só repercute no mundinho. Por outro lado, há mulheres que colocam a roupa de qualquer jeito e quem leva a fama é o estilista. Algumas têm a bunda enorme e querem vestido justo; outras têm peito caído e querem decote lá embaixo. Não é assim! “Ah, mas eu quero mostrar meu peito!” Então conserta!
ISTOÉ – Jornalistas de moda são pretensiosos?
Versolato – Só o fato de a maioria aqui se considerar crítico é sinal de pretensão. Como pode existir crítica de moda em Aracaju? Na Itália, nenhum jornalista escreve: “Detestei o desfile da Gucci.” A moda é fonte de divisas e não pode depender de uma opinião.
ISTOÉ – Há quatro anos, quando se mudou para o Brasil, especularam que deixou dívidas na França.
Versolato – Fechei a maison porque o Ricardo Pessoa (investidor) não tinha mais dinheiro. Tive síndrome do pânico e fiquei porque me sentia melhor aqui.
ISTOÉ – Por que suas sete lojas no Brasil fecharam?
Versolato – Fui vítima de um grande golpe. Até hoje, não sei de onde veio o dinheiro, como foi gasto. Só não quero me ver num escândalo financeiro.
ISTOÉ – Pode ter sido lavagem de dinheiro?
Versolato – Não posso comentar por causa dos processos. Mas a atitude deles não foi correta. Antes, eu tinha meu ateliê e um estoque com tecidos e roupas. Eles roubaram tudo. Quero ser ressarcido e ter de volta o que era meu. Se eles fecharem a loja da Jaguar (gerenciada por Sandra), terão de pagar à Jaguar da Inglaterra por danos à marca. A minha merece o mesmo. Como alguém pode jogar US$ 10 milhões no lixo? Eles poderiam fechar uma ou duas lojas, reduzir preços e pessoal. Parecia que tudo estava programado.
ISTOÉ – Por que os nomes dos ex-sócios foram trocados no livro?
Versolato – Eles não farão mais parte da minha vida. Acho que ela (a ex-sócia) deveria parar de dizer às amigas que me ama e pôr a mão na consciência. Puta tem limite. Na minha casa, não entra nem o nome.