07/12/2005 - 10:00
Após sessões de pipoca e filmes trash no sítio, em Guaratiba, Rio de Janeiro, Vera Fischer resolveu brincar de fazer cinema. “Se eles podem fazer essas porcarias, também posso”, disse a si mesma antes de escrever no ano passado
a história de vampiros Sangria desatada, seu primeiro roteiro. Agora, mais ousada, fez o roteiro, o figurino, a trilha sonora, a direção e protagonizou o média-metragem Serpentes e escorpiões, lançado no Festival de Búzios. Se fosse sério, seria detonado pela crítica, mas se propõe a ser um trash. Embora tenha gostado do resultado, Vera não tem planos de fazer da direção um projeto para a aposentadoria. Também não há motivo para pensar nisso. Aos 54 anos está ainda mais bonita. O brilho nos olhos azuis, sem maquiagem, reflete a ótima fase: ela tem outros três roteiros prontos, vai dirigir o ex-marido Perry Salles no musical Confidências e lançar um livro.
Serpentes e escorpiões, de 35 minutos, conta a história de mãe e filha que se odeiam. Depois de uma discussão, a filha (Adressa Koetz) vai para a casa do pai (Perry), com quem acaba fazendo sexo. A mãe seduz o namorado da filha (Marcelo Lima) em cenas de sadomasoquismo – “não entendo nada disso, foi tudo invenção”, frisa Vera. Embora não assuma a vaidade, as cenas em que aparece são a mais pura ego trip. Ela diz ter descoberto o prazer de editar, fazer trilha sonora e, sobretudo, escrever. Contratada da Globo, estará aberta a outras emissoras se não conseguir um “papel interessante”. A atriz busca uma editora para o livro autobiográfico que escreve há dois anos, recheado de fotografias de amigos e dos filhos. Mais de 400 imagens. “Faz parte da minha inquietude. Não consigo ficar parada. Tenho de me mexer, criar, inventar coisas.”
A sensação, no entanto, é de que Vera está em paz. As tesouradas, a dependência química, a perda da guarda do filho parecem não caber mais nessa mulher. Entrou na menopausa no ano passado sem os desconfortos que atingem as pobres mortais. “Tomo remédios naturais. Sinto-me maravilhosa, livre. É a consagração feminina”, comemora. Ela literalmente pára o trânsito quando chega ao Hotel Vila do Mar, em Búzios, para a projeção de seu filme, que não circulará comercialmente. Com um elegante longo da estilista mineira Rosana Bernardes, exibe 58 quilos bem distribuídos em 1,72 m. Usa apenas blush sobre a pele morena e brilho nos lábios. É simpática e equilibrada, nos gestos e nas palavras. “Sou feliz”, sintetiza.
A felicidade tem alguns capítulos. Um deles é a relação com o filho Gabriel, 13 anos, ainda sob a guarda do pai, o ator Felipe Camargo, mas que vai quando quer à casa da mãe. “A gente se saca”, descreve, orgulhosa. “Ele tem uma namoradinha na escola e suas melhores amigas são mulheres.” Já a relação com Perry Salles foge ao convencional. São mais do que amigos, mas não rola sexo. Ele vibra com a nova fase da ex, com quem foi casado por 16 anos: “O filme mostra que Vera é muito mais do que a aparência. Ela nasceu virada para a lua”, brinca Perry.
O assunto casamento é página descartada na vida da atriz. O coração está quieto, sem ninguém em vista. A idéia é só namorar. “Tenho hábitos arraigados e filhos”, justifica. Surpreende ao contar que seu lazer preferido é tomar sol, sem se incomodar com a pele. Adora se esparramar na piscina da cobertura no Leblon ou em meio às orquídeas do sítio em Guaratiba. “Sei que envelhece, mas assumo as rugas”, diverte-se. Vera resolveu seus problemas com a balança, depois de sucessivas fases de sanfona. “Descobri que não preciso comer muito. Como de tudo, mas pouco.”
É sem dúvida um reflexo do equilíbrio adquirido. “Antes eu era meio desvairada, ficava um dia sem comer, depois comia sem parar.” Ela esculpe as formas em aulas de ginástica localizada em casa. Já não faz terapia, mas auto-análise: “Falo comigo mesma e resolvo tudo. É uma loucura”, diz antes de pedir um prosecco. É hora de comemorar o filme. Não como projeto profissional, mas apenas como mais uma das travessuras de Vera, sem efeitos colaterais.