26/11/2003 - 10:00
Se o Brasil quiser mesmo colher frutos do sucesso internacional
do presidente Lula, apontado
pelos latino-americanos como o melhor da safra, deve prestar atenção – e certamente fará isso – ao 23º Encontro Nacional de Comércio Exterior, nos dias 27 e 28, no Hotel Glória, no Rio de Janeiro. Um dos temas centrais do encontro, a ser aberto pelo vice José Alencar e encerrado pelo próprio Lula, será a política de exportação de serviços, especialmente de engenharia civil – cujo volume o ministro do desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, quer quadruplicar. Os exportadores esperam convencer o governo – leia-se BNDES – a
valorizar mais as ações para integrar a América Latina e reduzir o
déficit na balança de serviços, comparável ao espetacular superávit
da balança comercial de bens e produtos.
A conta é simples. Se a economia se soltar em 2004, a tendência
é que o Brasil importe muito mais. Isso reduziria o superávit comercial, que não leva em conta a extrema desvantagem na competição de serviços como transporte, turismo, royalties, remessas de imigrantes e computação. No governo passado, segundo a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), o total importado menos o exportado foi de uns US$ 30 bilhões por ano. “A exportação de serviços é o grande colchão para a eventual redução do superávit comercial”, argumenta o presidente da AEB, Benedicto Fonseca Moreira.
Com o desmonte da Marinha Mercante e a fragilidade estrutural do
Brasil em royalties, computação e informação, o turismo e a engenharia aparecem com grande potencial compensatório. Um dos desafios do encontro no Rio é decifrar um enigma: como um país com tantas
atrações consegue ter déficit turístico? Outro é encontrar formas de reduzir a burocracia e ampliar os financiamentos para a exportação de serviços. “O Brasil só participa com 5% dos US$ 10 bilhões que as obras de engenharia movimentam nesses países. Nossa inserção mundial é de 0,6%”, conta Benedito. Mesmo assim, entre 1998 e 2002 a engenharia brasileira registrou um superávit de US$ 3,2 bilhões, na contramão da surra que o Brasil leva no comércio mundial.
O maior argumento contrário ao financiamento dessas obras costuma
ser o de que o dinheiro público deveria criar empregos em território nacional. O raciocínio, simples, costuma desconsiderar o futuro que um país abre quando extrapola suas fronteiras com marcas e produtos. Ao construir uma rodovia na Bolívia, por exemplo, uma empreiteira brasileira amplia as exportações de produtos brasileiros, de matéria-prima a grandes máquinas ou simples cancelas de pedágio. É muito boa a imagem das empreiteiras brasileiras na América Latina, graças a obras como a da hidrelétrica de Pichi Picún Leufú, no rio Limay, na Patagônia, a primeira obra de engenharia pesada de uma empreiteira brasileira (Odebrecht) na Argentina. O que não falta à América Latina são sonhos de integração e planos de construção de hidrelétricas, estradas, ferrovias e hidrovias entre o Pacífico e o Atlântico. Uma chance histórica de aumentar o
cacife do Brasil no comércio mundial nesses tempos de Alca.