26/11/2003 - 10:00
A idéia era escrever só sobre
a entrada da MAC na Daslu, em São Paulo. Realmente, para o mundo do glamour, o fato tem peso. A butique mais badalada
do Brasil abre suas portas para a marca canadense de maquiagem preferida das modelos. Em apenas um ano no País, a MAC é sinônimo de sucesso. Este é mais um espaço da grife, que já tem duas lojas em São Paulo e uma no Rio de Janeiro. Mas como falar da Daslu sem falar na Daslu? O corner da MAC fica logo após o famoso café da loja, onde os maridos e namorados despendem horas e horas esperando suas companheiras perambularem pelos muitos corredores da butique. Eles se sentam ali depois de terem visitado a Daslu Homem – que fica em frente à Mulher –, tomam centenas de expressos, comem muitas bolachinhas e batem papo com a Ba, a simpática “aventalzinho”, como são chamadas as moças – e senhoras – que atuam nos bastidores desse mundo quase irreal.
São pelo menos quatro mil metros de luxo. Só mesmo as habitués e o exército de vendedoras conseguem se movimentar pelo labirinto de
salas e corredores sem dar bandeira com o deslumbramento. As salas – pequenas, grandes, não importa – são separadas por estilos e cores. Moda praia, básicos, esporte, jeans, sedas, lingerie. Pelo chão, displicentemente espalhadas estão as botas, sandálias e sapatos.
Os corredores servem também como provadores – daí a ausência
dos homens. Uma mistura de cheiros toma conta do ar, mas são as conversas que entorpecem. Na segunda-feira 17, dia do lançamento do espaço MAC, a loja estava cheia. Não só por causa da inauguração. A modelo Cássia Ávila passou lá para comprar um sapato para usar no casamento da irmã e quis experimentar um batom. “A trabalho ou a passeio, estou sempre na Daslu. Tenho amigas vendedoras e tenho de estar sempre atualizada com a moda”, conta.
Assim como ela, muitas clientes querem estar em dia com o mundo Daslu. Na semana passada, lançamento da coleção de alto verão, várias delas foram até lá com o objetivo de renovar o guarda roupa ou checar a nova e colorida coleção –, em geral desenhada pela equipe de criação da loja ou garimpada em outras grifes por Kim Hamence e Mariana Penteado. “Preciso de uma blusa rosinha, tamanho M”, disse uma cliente para a vendedora. Lá foi a moça, labirinto adentro escoltando a compradora até a sala do rosa. Nas mãos da atendente, a sacola jeans na qual as roupas escolhidas são colocadas.
Se a cliente quisesse dar uma volta até a ala dos importados, seria obrigada a passar pelo café – e eventualmente acenar para o companheiro, de barba crescida a essa altura –, já que grifes como Chanel, Dolce & Gabbana, Prada e Miu Miu ficam ali ao lado ou no andar de cima. Lá, também estão os habillé, aqueles vestidos bordados, usados na entrega do Oscar ou em festinhas de 15 anos, que valem quanto pesam. As desavisadas podem esbarrar em peças semi-exclusivas e morrer sem saber o que seus olhos vislumbraram. Como um vestido Valentino que custa R$ 13 mil e conta com pouquíssimas cópias espalhadas pelo mundo. Ah, os preços estão fixados nas peças, o que poupa a cliente do indefectível “e este, quanto é?”.
Fermento – Tudo isso faz da Daslu um lugar único. Já ganhou páginas de revistas internacionais e suas proprietárias, Eliana Tranchesi e Donata Meirelles, são figuras bem-vindas no mundo fashion. A loja – que tem inclusive um showroom em Paris – agora vai crescer. No ano que vem, ela troca de endereço. Sai do bairro residencial da Vila Nova Conceição para a movimentada Vila Olímpia. A Daslu começou pequena, em 1958, com a mãe de Eliana, Lucia Piva de Albuquerque, e sua amiga Lourdes Aranha dos Santos
(daí o Daslu). Durante os anos 60 e 70, se resumia a roupas e artigos
de luxo nacionais. Eliana assumiu o comando no final da década de 70 e expandiu a empresa, trazendo para o Brasil as mais importantes etiquetas da moda internacional.
Hoje, o império se estende pela moda, pela decoração e artigos de alto luxo. Eliana e Donata imprimiram um estilo e uma filosofia à loja. Além de tratar as clientes como se fossem únicas, também fazem desfiles e eventos inusitados, como aquele em 2001, em que convidaram figuras da high society para trajar na platéia modelos vintages e exclusivos de Valentino. Ou então, há alguns meses, com o show de Marcelo D2, que celebrava a inauguração do corner da loja Mandi no espaço Daslu Homem. Feliz com a mudança, Eliana conta que a filosofia Daslu permanece. “Tudo continua igual. É como quando os filhos crescem e temos de procurar um espaço maior. A loja vai tomar fermento”, diz. Homens, preparem-se.