Depois de assumir a Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro em maio em um momento de emergência, o ex-governador Anthony Garotinho (PMDB) tomou gosto pela estratégia policial. Na época, ISTOÉ publicou a capa: “Ou Garotinho acaba com os bandidos ou os bandidos acabam com Garotinho”, discutindo a arriscada aposta que poderia comprometer seu futuro político. Nove meses depois, Garotinho garante que está vencendo o jogo. Apesar de os cardeais do PMDB preferirem que ele se dedique às articulações para as próximas eleições, o secretário quer continuar à frente da pasta pelo menos até o fim de 2004. Garotinho afirma que as operações policiais em andamento estão rendendo resultados positivos. No mês de outubro, nove dos dez itens abordados nas estatísticas oficiais apresentaram melhoras consideráveis, em comparação com 2002.

Os melhores resultados apareceram nas modalidades de roubo em coletivos (o número de casos caiu para a metade), roubo de carga
(34% a menos) e roubo a transeunte (16,9% a menos), além de sequestro e roubo a banco, que chegaram a zero. “Em qualquer
grande cidade, é impossível acabar com a criminalidade. Mas estamos conseguindo fazer com que custe muito caro ao criminoso praticar
um delito”, explica. O delegado Zaqueu Teixeira, que ocupou a Chefia
de Polícia Civil, no governo Benedita da Silva (PT), põe em dúvida o critério de Garotinho. “Por que eleger apenas dez itens das estatísticas? Isso pode servir a manipulações”, pondera. Os técnicos da Secretaria
de Segurança justificam que esses itens são os mais importantes. O próximo passo é combater o crime praticado por personagens que deveriam ser os principais inimigos dos criminosos, mas que na prática atuam muitas vezes como seus parceiros: os próprios policiais civis e militares. Para isso, Garotinho anuncia nos próximos dias a deflagração
da Operação Transparência Policial.

“O material que temos já é suficiente para fazer uma boa limpeza na polícia”, adianta o secretário. A operação vai procurar identificar, prender e excluir dos quadros policiais um número inédito de agentes que praticam delitos. Até agora, há cerca de 20 suspeitos sob investigação e o número deverá aumentar. “A diferença desta operação é que normalmente os governos punem os maus policiais quando algum caso de repercussão vem à tona”, explica o chefe de Polícia Civil, Álvaro Lins. “Desta vez, vamos nos antecipar”, conclui. Vai ser feita uma análise inédita do padrão patrimonial dos policiais. Para fechar o cerco, a governadora Rosinha Matheus já encaminhou à Assembléia Legislativa um projeto de lei que agiliza a exclusão dos maus policiais. Atualmente, esse processo pode levar até cinco anos. Mas o grande trunfo é a escuta telefônica. “Ouvimos coisas que, mesmo para quem já é profissional experiente, são estarrecedoras”, afirma Lins.

A maior das ações da Secretaria de Segurança que está em curso atualmente é a Operação Asfixia, em que policiais ficam postados na entrada das favelas de maior movimento de tráfico. “O objetivo é inibir o trânsito dos compradores de drogas e estrangular o tráfico economicamente”, diz Garotinho. “Assim, obrigamos o traficante a descer para o asfalto, onde ele se torna um alvo mais fácil”. Segundo o secretário, o número de prisões dos chamados pequenos traficantes, que era de 50 por semana até agosto, saltou para 130. Outra ofensiva é a operação Atlas, que visa prender os líderes da facção criminosa Terceiro Comando, assim como o que aconteceu com os chefões do Comando Vermelho. Mas o maior aparato é usado na Operação Pressão Máxima, em que 20 equipes de 40 policiais se reúnem diariamente pela manhã para atacar pontos de tráfico que são conhecidos somente na hora da partida dos comboios. Todos os policiais são obrigados a entregar seus telefones celulares antes de conhecer os seus destinos, para evitar o vazamento de informações. “Dessa maneira, atuamos de forma inesperada, surpreendemos os bandidos e os deixamos desarticulados”, afirma o secretário. “Não vamos ficar esperando que os criminosos ajam para reagir. Resolvemos agir antes deles”. Nos primeiros 14 dias de operação, foram presas por tráfico 164 pessoas, apreendidos 258 quilos de cocaína, 382 quilos de maconha, além de 19 pistolas, seis fuzis e oito metralhadoras.

Apesar dos números positivos, ainda há muito o que fazer na área da Segurança Pública. O secretário de Administração Penitenciária, Astério Pereira, admitiu que há falhas no sistema de bloqueadores de celulares, instalado há poucos meses para impedir conversas telefônicas dos detentos dos presídios de segurança máxima de Bangu. Astério exige
que as operadoras retirem as antenas transmissoras das proximidades
dos presídios, mas as empresas resistem. Outro ponto fraco é a favela
da Maré, que continua conflagrada, apesar da instalação de um batalhão da PM dentro da comunidade. Os tiroteios na região colocam em risco motoristas e passageiros que trafegam pela avenida Brasil, Linha Vermelha e Linha Amarela. “Sempre que trocamos o efetivo do batalhão para evitar a conivência de policiais com traficantes, os bandidos reagem”, argumenta Garotinho.