Embora recuse a tão invejada marca pessoal, desde os primeiros desenhos, feitos aos 20 anos, o carioca Waltércio Caldas, hoje com 57, tem criado obras marcadas pela peculiaridade de poderem ser atravessadas pelo olhar. Na exposição Waltercio Caldas – desenhos, em cartaz na galeria Artur Fidalgo, em Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro, o artista mostra oito desenhos inéditos e tridimensionais que radicalizam essa intrigante relação proposta ao visitante. As camadas, as cores, as sombras, as linhas que escapam de seus limites, os traços interditados por alfinetes, os objetos incorporados e os contornos de arame ou papel modificam tanto a compreensão que podem ser vistos até como se fossem esculturas separadas. Depende do olhar. Para Caldas, essa série abriu
uma nova perspectiva em sua produção. “Posso exercitar muitos
graus de transparência e isso é muito importante para quem
trabalha com escultura.”

O desenho tridimensional é descrito por ele como uma libertação e um alívio. Em sua análise, as três dimensões fazem com que o desenho deixe de pertencer ao papel e passe a pertencer ao espaço. Caldas possui a rara qualidade de expressar nitidamente seus sentimentos em relação ao trabalho. “Meu processo se resume ao fato de eu tentar adivinhar minhas mais secretas intenções”, diz. Na parte prática, isso inclui passar pelo menos oito horas diárias no ateliê, em Santa Teresa, no centro do Rio, além de registrar em um livro anotações que podem vir a desembocar em uma nova obra. Sem linearidade e com direito a tantas mutações quantas forem necessárias a partir dos fatos e informações novos que vão surgindo.

Vem daí a sua recusa em possuir um estilo. Para ele, isso seria
uma condenação, como se o criador estivesse irremediavelmente
obrigado a seguir a si mesmo e, em consequência, a não produzir
novas possibilidades. “Se o artista não serve para questionar o próprio limite, não serve para nada”, afirma. Seus quadros não têm nome.
Todos têm transparências e, portanto, movimentos peculiares dependendo do ângulo sob o qual são vistos. Detalhista, ele assumiu inclusive a curadoria da atual mostra. Decidiu a disposição dos quadros nas paredes da galeria e assinou o projeto gráfico do catálogo. É, provavelmente, uma de suas exposições mais autorais.