A porta de entrada fica a um quarteirão ao norte do marco zero. Uma rampa em Barclay Street por onde entravam os caminhões de entrega para o abastecimento daquela cidade, antes de ela virar escombros. Hoje, o caminho serve aos peões incumbidos da impossível tarefa de limpeza. O lugar, afinal, está irremediavelmente manchado. É difícil imaginar que naqueles cerca de 65 mil metros quadrados a grama voltará a crescer. As montanhas e vales moldados por detritos, que estão a céu aberto, vão exigir no mínimo mais um ano e meio para serem retirados. Vão para lugares com nomes como Fresh Kill (morto recente). Mas é mesmo nos vários ciclos subterrâneos ? onde o fogo ainda queima como se fosse eterno e os horrores foram espalhados de forma macabra e irreal ? que os esforços dos homens parecem destinados a sucumbir. Nas trevas está enterrada a maior parte do World Trade Center. Na semana passada, ISTOÉ explorou por duas horas os antigos porões e garagens do que um dia foram as torres gêmeas do WTC, demolidas nos ataques terroristas de 11 de setembro. A incursão foi arranjada pela empresa Port Authority of New York and New Jersey ? antiga administradora dos prédios ?, que hoje mantém equipes de limpeza e recuperação daquele que foi o epicentro do distrito financeiro de Nova York. Como guia, a empresa designou seu gerente de construção e engenharia, Thomas O?Conner, um irlandês-americano duro na queda e acostumado a percorrer aquele terreno onde ?queda? pode significar morte. No escritório montado fora do canteiro de obras, O?Connor distribuiu capacetes, máscaras, botas de borracha, coletes para identificação, lanternas ? e comandos. ?Não pegue nada, procure não encostar em nada. Siga meus passos como se estivesse num campo minado.? AP Por toda a volta das ruínas dos prédios, ocupando vários quarteirões da baixa Manhattan, foram colocadas cercas com telas verdes para impedir os olhares curiosos das multidões fascinadas. A área lembra as mulheres afegãs com suas burcas. A rampa de acesso na Barcley Street fica abaixo do edifício 5 do World Trade Center, que queimou totalmente no atentado a seus vizinhos, mas não caiu. Era ali que ficava a United State Custom, a agência de alfândega americana, que servia também como fachada para o maior escritório da CIA no mundo, depois da sede em Washington. Também acomodava o Departamento de Controle de Álcool, Tabaco e Armas de Fogo (ATF), com seus depósitos de evidências. ?Perdemos dois depósitos, onde havia cerca de 300 armas confiscadas?, diz Joseph Green, o porta-voz da agência. Além das armas, também derreteram vários quilos de cocaína confiscados de traficantes. Mais sorte tiveram os depósitos do banco Nova Scotia. A polícia conseguiu recuperar os 400 quilos de ouro e 29 toneladas de prata estocados nos cofres subterrâneos. Isso a despeito de alguém ter chegado antes ao local e tentado abrir as portas do tesouro à base de maçarico. Os ladrões não conseguiram pôr as mãos nos lingotes, que pesam cerca de 35 quilos.