O Estado americano do Texas é conhecido por sua mania de grandeza. Lá quase tudo merece o título de “o maior do mundo”, ao menos para os texanos. Mas o exemplo mais recente dessa megalomania não será comemorado com uma dose de Jack Daniel’s. Ao que tudo indica, será conterrânea de George W. Bush a maior falência da história americana. Isso caso não apareça urgentemente um maluco disposto a emprestar US$ 3,5 bilhões à Enron, a principal empresa americana do setor de energia, com 20% do mercado, que até a metade deste ano ocupava a sétima posição entre as maiores corporações dos EUA.

Com um faturamento anual de US$ 100 bilhões, a Enron valia em janeiro deste ano US$ 64 bilhões. Depois de fracassar um acordo no qual seria vendida a uma concorrente bem menor, encerrou a semana valendo menos de US$ 500 milhões. Pode causar espanto, mas o fato é que sem os tais US$ 3,5 bilhões para saldar dívidas de curtíssimo prazo, nada feito. “Às vezes, o melhor negócio é ficar fora do negócio”, afirmou, na quarta-feira 28, Chuck Watson, presidente da Dynegy, a concorrente que quase topou pagar US$ 9 bilhões. Desistiu depois de descobrir outras dívidas que a empresa teimava em esconder. A dívida total pulou para mais de US$ 10 bilhões. “A confiança que tínhamos na Enron acabou”, cravou o executivo, depois de se reunir com Kenneth Lay, presidente da Enron. Foi o sinal que faltava para as ações da empresa virarem pó. Eram negociadas a 25 centavos de dólar no final da semana passada – há um ano valiam quase US$ 90.

A perda de credibilidade, por sinal, foi o estopim para a derrocada da empresa. Uma investigação feita por autoridades do governo americano encontrou uma série de irregularidades nos balanços. A Enron escondia bilhões de dólares de dívidas e com isso alimentou a alta irreal de suas ações. Terá agora de contabilizar um prejuízo de US$ 600 milhões, referentes a perdas acumuladas nos últimos cinco anos, além de enfrentar uma enxurrada de processos por ter enganado milhares de acionistas.

No Brasil, a Enron participou ativamente da privatização. Seu maior negócio no País é a distribuidora de energia Elektro, responsável pelo abastecimento de 228 municípios. Possui ainda uma termelétrica e participa da construção de outra. Tem participação em nove empresas de distribuição de gás, além de ser sócia em trechos do Gasoduto Brasil–Bolívia. A Agência Nacional de Energia Elétrica informou que a empresa perderá as concessões caso seja decretada sua falência.

Nem mesmo o fato de ter sido uma das empresas que mais contribuíram para a campanha de Bush deverá salvar a Enron, dizem os especialistas. É o capitalismo à moda do Texas.

EUA em marcha à ré

João Paulo Nucci

Um grupo de respeitados acadêmicos americanos reuniu-se durante alguns dias para avaliar os indicadores da maior economia do mundo. Na segunda-feira 26, a conclusão veio a público: os Estados Unidos estão em recessão desde março. É a décima vez, no pós-guerra, que a potência sofre uma desaceleração. E é o fim de um ciclo de crescimento de dez anos ininterruptos, sem precedentes na história. A produção industrial caiu e a busca por seguro-desemprego subiu, mas a recessão americana tende a ser breve. Os últimos dez períodos de recessão duraram, em média, 11 meses. As vendas de bens duráveis, por exemplo, já se recuperam. O pacote de ajuda emergencial, esboçado no pós-11 de setembro, ganha impulso para ser aprovado e vai ajudar na recuperação. O drama maior está numa infeliz combinação: Alemanha e Japão também andam para trás e vivem suas próprias desacelerações.