A Fiat é reconhecida mundo afora pelos carros de passeio que fabrica. Da invasão do hediondo modelo 147, no final da década de 70, no Brasil, à Ferrari do ex-fenômeno Ronaldinho, a imagem da companhia italiana está intimamente ligada aos automóveis. Os veículos em quatro rodas rendem por ano cerca de US$ 22 bilhões aos cofres da família Agnelli, controladora do grupo, que fatura um total de US$ 50 bilhões.

Bem estabelecidos no mercado automotivo, os italianos, aos poucos, foram montando um império de máquinas agrícolas e de construção pesada. O primeiro grande salto aconteceu em 1991, com a aquisição da americana New Holland, então controlada pela Ford. Há dois anos, foi a vez da compra da também americana Case e da consequente formação da CNH, a líder mundial do setor. Dez anos depois de montada, a estratégia já rende à companhia quase US$ 11 bilhões por ano – o equivalente à metade do faturamento da centenária fábrica de carros.

“Ninguém na Fiat sabe dizer se o mercado de carros vai crescer, mas todos têm certeza de que no setor agrícola vamos crescer muito”, diz o presidente da CNH, Paolo Moferino. Ele esteve em Curitiba, na semana passada, para anunciar investimentos de US$ 120 milhões numa nova linha de montagem de colheitadeiras e máquinas pesadas e para lançar novos produtos na cidade.

Exercitando seu bom português (ele morou no Brasil na década de 80), o executivo italiano diz que está finalizando o penoso processo de fusão das duas gigantes. Das 60 fábricas existentes, sobraram 38 em 24 países – três delas no Brasil, onde uma unidade foi fechada. E dos 35 mil funcionários ficaram 28 mil. “Agora temos o tamanho certo para a retomada do mercado”, aposta Moferino, referindo-se à queda de 15% do setor no mundo, considerada por ele como resultado do caráter cíclico do setor.

O Brasil já responde por 10% do faturamento da companhia. O executivo coloca o País como uma das três potências emergentes do mundo agrícola – ao lado do Leste Europeu, liderado pela Rússia, e do Sudeste Asiático, com a China à frente. E os indícios de avanços nas negociações com os países europeus e os Estados Unidos na reunião da Organização Mundial do Comércio no Catar, há algumas semanas, aumentaram suas expectativas. “Foi um primeiro passo. Acredito que, nos próximos cinco a sete anos, as exportações brasileiras crescerão US$ 5 bilhões”, diz. Hoje, o País vende mundo afora um total de US$ 23 bilhões por ano. O prognóstico vale, é claro, se as barreiras protecionistas e os subsídios à agricultura dos países europeus forem relaxados nas mesas de negociações.

Como todo europeu, Moferino se mostra encantado com o clima favorável e o tamanho da área cultivável do Brasil. Horas depois da entrevista concedida a ISTOÉ, o executivo se reuniria com 100 grandes empresários agrícolas brasileiros. “Juntos, eles possuem uma área equivalente a 20% da Itália”, compara. Nem a recessão global que se avizinha o fez recuar dos investimentos. “Afinal, até os terroristas comem”, justifica.